07 fevereiro 2012

IMAGENS DE TORRES VEDRAS - Escavando o antigo cemitério


Até às primeiras décadas do século XIX os enterramentos eram feitos dentro das igrejas. Foram os governos constitucionais que, a partir de 1835, lançaram legislação que obrigava a que se fizessem fora dos templos, o que originou violentas revoltas populares, sobretudo no norte do país.
Mas, pouco a pouco, os terrenos contíguos às igrejas passaram a ser utilizados como cemitérios, o que se verifica ainda hoje em muitas aldeias por esse país fora. Nas povoações maiores, devido ao rápido aumento da população e à expansão urbana, os cemitérios foram sendo empurrados para a periferia. Em Torres Vedras isso aconteceu com o Cemitério de S. João, criado em meados do séc. XIX, fora do perímetro urbano, mas cem anos depois foi absorvido pela cidade, obrigando à criação do atual Cemitério de S. Miguel em finais dos anos 70 do séc. XX.


Vem isto a propósito das obras em redor da igreja de S. Pedro que se iniciaram há duas ou três semanas e que puseram a descoberto alguns túmulos oitocentistas. Duas arqueólogas estão a fazer um reconhecimento destes despojos, para posterior estudo. Como nos explicaram no local, não se trata de uma escavação pormenorizada e minuciosa, que não cabe no âmbito destas obras. É apenas o assinalar a existência deste tipo de cemitério.
Claro que gostaríamos que se fizesse uma investigação profunda, escavando, fotografando,desenhando e estudando os possíveis estratos de ocupação humana ao longo dos séculos. Todavia temos de reconhecer que isso implicaria muitos meses de estaleiro aberto, com os consequentes custos financeiros e incómodos incomportáveis para a vida urbana.


Vejamos algumas imagens do que vimos hoje quando por lá andámos:


Nesta vala, aberta na rua que passa pelas traseiras do Chafariz dos Canos ( junto à conhecida loja de cabedais) encontramos a base de um muro muito antigo em pedra que, pela orientação, pode muito bem ser os restos do aqueduto que alimentava o Chafariz e que, nesta zona, já era subterrâneo.





Mais à frente, nesta mesma vala, foram encontrados vários esqueletos ( um deles, coberto por plástico, na foto do início), objeto de registo meticuloso pela equipa que aqui trabalha, constituída por uma arqueóloga e uma antropóloga:










São visíveis as estruturas em pedra de alguns túmulos, com os blocos desenhando o comprimento do corpo: 




Outros ainda têm as pedras de cobertura, sob as quais estão os esqueletos:



Um último comentário: estes vestígios de inumações humanas, longe de serem achados macabros, permitem uma percepção mais profunda da memória coletiva, pois são testemunhos mudos de vidas que nos antecederam e transmitem-nos a dimensão temporal da ocupação de um espaço por uma comunidade secular como é a nossa. 



5 comentários:

  1. Anónimo7/2/12

    Não são arqueólogas mas sim antropólogas porque arqueólogos não trabalham em achados osteológicos

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    1. Não??? curioso...
      Na fase de escavação não há partilha de tarefas??? É que na foto tudo indica que se está na fase de prospeção...
      Depois, em laboratório,se for o caso, os especialistas entrarão em acção, cada qual no seu ramo, para completarem o "puzzle" final do achado...
      E não há arqueólogos com especialização?
      Hoje em dia a arqueologia é cada vez mais multidisciplinar...

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  2. Torriense - Ell14/2/12

    Acho interessante que defendam o nosso património.
    Infelizmente só estou contra é que agora ao fim de décadas é que tenham a preocupação de o fazer...
    Não existiu a preocupação e a decência de a uns anos construir a rua por cima dum cemitério, por cima das muralhas que pertenciam ao castelo, entre outros por descobrir... Agora também acho exagero à importância que dão a estas ossadas, após a indecência de que fizeram no passado. Na rua dos Chafariz colocaram vidraça no prédio para que?! Para isso não deixavam construir ponto Só para dizerem que é um achado?!?!? Já sabemos que é Zona histórica. Em contrapartida já modificaram o largo do Chafariz dos canos milhentas vezes... Autorizaram a construção de um "mausoléu" na encosta do castelo na rua que sobe para o castela paralela à Rua São Gonçalo de Lagos. Isto é tudo uma "politiquice" que mete dó isso sim...

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  3. O nosso ilustre visitante Torriense - EII parece confundir dois planos: o das decisões do poder autárquico, com o qual nada temos a ver; e o da participação voluntária e associativa dos cidadãos na vida da comunidade onde vivem - é neste que nos situamos.
    De resto, partilhamos consigo as preocupações referidas no seu comentário.

    Por exemplo: já apresentámos uma solução viável e sem custos para a autarquia municipal em relação aos vestígios da muralha. Infelizmente parece haver problemas de caráter burocrático em relação àquele espaço e a nossa proposta ainda não foi concretizada. Continuaremos a insistir, a insistir...

    Venha sempre que quiser, comente, alvitre.

    Cumprimentos

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    1. Torriense - Ell25/2/12

      E acho muito bem que continuem a insistir em algo que acreditem e que defendam... Mas mais uma vez friso que é triste existir tanta "politiquice" em determinadas situações... Como estou por dentro do que se passa na obra que comentei mais me entristece determinadas situações... Contudo aproveito o presente para felicitar esta iniciativa de dar a saber/conhecer o nosso patrímónio riquíssimo que é o de Torres. Quem sabe um dia, estender até à fronteira do nosso concelho.

      Bem Hajam

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