31 julho 2012

OUTROS PATRIMÓNIOS - CONVENTO DE S. FRANCISCO EM SANTARÉM

É um dos Monumentos Nacionais da cidade de Santarém, do séc. XIII, e um dos mais significativos exemplares do Gótico português.
No séc. XIX sofreu as consequências da abolição das Ordens Religiosas e passou a quartel militar. Nos anos 40 do séc. XX foi devastado por um incêndio. A degradação foi até ao estado de ruína.
A denúncia vigorosa de Almeida Garrett ainda hoje constitui um dos mais pungentes libelos contra a degradação do nosso Património -  veja-se o Cap. XLII das suas VIAGENS NA MINHA TERRA.
Nas últimas décadas do séc. XX fizeram-se obras de reparação e restauro e em 2009 foi aberto ao público. Ainda com muito por fazer mas já com muito para ver e apreciar.

Andámos por lá em 2010:






A fachada da Igreja mostrava uma cratera feíssima por cima da porta axial, no lugar onde, em tempos idos, existira uma rosácea. Perdera-se, até, a memória dela.



Soubemos agora que foi colocada uma nova rosácea, como vimos nesta notícia num semanário de Santarém e como comprovámos em recente visita, ao fim do dia:






Procurámos mais informações sobre esta intervenção. Com que bases ela foi feita, qual a sua validade ou pertinência? Está de acordo com as normas nacionais e internacionais para as obras de restauro?
O que encontrámos fez-nos pensar. O prof. doutor Jorge Raimundo Custódio, reconhecida autoridade na matéria, arrasa esta intervenção numa entrevista que pode ser lida aqui. 

A título de exemplo:




"O que sente ao olhar para a nova rosácea que foi colocada no Convento de São Francisco, enquanto historiador e cidadão ligado à defesa do património?
A rosácea é um falso, uma obra infundada e resultado de uma não concepção de conservação e restauro.
Do ponto de vista estético é um kitsch neo-gótico - impensável que fosse mandado executar hoje, no século XXI, quando as questões de restauro alcançaram um novo patamar depois das recomendações internacionais que determinam os critérios de conservação do património a nível internacional.
Note-se que, do ponto de vista da cultural patrimonial Portugal subscreveu as mais importantes convenções e recomendações internacionais. Os técnicos dos serviços do património têm que fundamentar todos os seus pareceres na lei portuguesa e naqueles documentos, dado que o nosso país é um dos estados membros da Comunidade Europeia.
Neste caso verificou-se que os dirigentes se afastaram totalmente tanto dos princípios e critérios defendidos na documentação internacional, como desrespeitaram a lei portuguesa."
 Vale a pena ler tudo.


Fotos (C) ADDPCTV

28 julho 2012

NÃO GOSTAMOS!






Gostos não se discutem! 
Quem disse? Quando se trata de espaços públicos tudo pode e deve ser discutido. O cidadão comum não fica indiferente e passivo, a olhar...
O Largo de S. Pedro, em Torres Vedras,  está a sofrer uma profunda transformação visual, que se arrasta há longos meses. Passamos por lá com muita frequência e o que sentimos nas pessoas que por ali andam é um grande cansaço e muito cepticismo em relação ao resultado final.

Repare-se na imagem. No meio da cor clara da pedra e dos mármores sobressaem estes pinos que delimitam o espaço de circulação automóvel, impondo uma presença abusiva. Em nossa opinião, constituem um ruído visual excessivo, exactamente na frente de um Monumento Nacional  - a Igreja de S. Pedro - que se pretendia realçar com o novo arranjo do Largo.
No dizer chistoso do povo, aquele já é o "Largo dos tubarões".
Se o que se pretende é marcar o espaço de trânsito, impedindo o estacionamento abusivo, há soluções muito mais discretas do que aquelas "barbatanas" escuras. Este tipo de experiência decorativa, compreensível em largos de urbanizações modernas parece-nos totalmente inadequado num Centro Histórico.



O mesmo dizemos em relação à Rua da Corredoura. O ritmo visual imposto por estes pinos altera violentamente a nossa relação visual com as fachadas. Não esquecemos, também, que esta é a rua do Chafariz dos Canos. Qualquer alteração que ali se fizesse tinha de ser o mais discreta possível. 

E lá fomos ouvindo os transeuntes a perguntarem-nos, com malícia, se gostávamos dos "supositórios".
Não, não gostamos. Ainda se tivessem uma cor discreta... 

Também nos têm perguntado se gostamos da solução final do Largo fronteiro ao Chafariz dos Canos. Por enquanto não nos pronunciamos, aguardamos a conclusão da obra.

21 julho 2012

INSTITUTO DE ARTES E OFÍCIOS DE TORRES VEDRAS: ESTÃO ABERTAS INSCRIÇÕES



Mais uma vez chamamos a atenção para o belíssimo trabalho que aqui está a ser feito em prol do nosso Património.
Abriram inscrições para novos Cursos, 
como abaixo se informa:






12 julho 2012

IR A BANHOS NO SIZANDRO


Quinta das Fontainhas, à saída de Torres Vedras, logo a seguir ao Aqueduto


Júlio Vieira, no seu TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA (2ª ed. 2011), a páginas 264, refere que em tempos houve um lugar de banhos no rio Sizandro, numa zona em frente da Quinta das Fontainhas.
Era uma referência que nos intrigava e que carecia de verificação para se ver até que ponto ainda perduraria alguma coisa desse tempo. Não nos esqueçamos que J. Vieira escrevia no início da década de 20 do século passado - a 1ª edição do seu livro é de 1926.
Estávamos convencidos de que os degraus de pedra referidos pelo autor já não existiriam, até porque as margens do rio foram solidificadas na sequência das grandes inundações de 1983.
Por outro lado, a vegetação circundante é muito densa e o carril referido pelo autor há muito que desapareceu.

Há dias fizemos o percurso pedestre pela margem esquerda, seguindo pelo carril que vai da estação da CP até às Termas dos Cucos, na companhia de um amigo que nos falara numa "Fonte dos Coxos" existente naquela zona. Ela lá estava, com um grande caudal que saía de um cano, rodeado de degraus de pedra por onde é possível aceder à água.  Ele desconhecia o texto de Júlio Vieira. Outro amigo, Pedro Fiéis, membro da Associação do Património de Torres Vedras, fez connosco o mesmo percurso uns dias depois e lembrou o tal texto que nos apressámos a reler. E tudo condiz. As fotos que aqui publicamos documentam este reencontro.
Não nos atrevemos a entrar no rio, não tínhamos o fato de banho à mão, o que nos permitiria fotografar de frente para a saída da água. Mas é aquele o lugar referido por Júlio Vieira, não temos dúvidas.

Aqui ficam as fotos e, no final, o texto de Júlio Vieira.


 Ao fundo a Quinta das Fontainhas. Mais próximos de nós, o rio. Visível, em primeiro plano, a abertura na vegetação por onde se pode descer ao rio pelos degraus que são visíveis nas fotos mais abaixo.




É bem visível que a água saída do cano é muito límpida e forma uma bacia de água transparente ali à volta. Ao lado do cano mas tapada pela vegetação existe uma outra saída de água - são os "olhos de água" de que fala Júlio Vieira. Com cuidado, provámos a água. É tépida, muito macia, e sabe bem. O amigo que me acompanhava costuma ir àquele lugar e ali se descalça e banha os pés longamente pois nota que lhe desgasta as calosidades. Experimentámos também esse "tratamento" e comprovámos que a pele fica muito macia. O que condiz com o texto de J. Vieira.




 Em pé sobre os degraus que ladeiam a Fonte tirámos estas duas fotos, uma para montante e outra para juzante.



Uma última foto da Fonte que o amigo que nos acompanhou disse chamar-se "dos Coxos"...


Texto de Júlio Vieira:


BANHOS DO RIO

Há alguns anos já que acabaram estes antigos banhos cha­mados do rio e que eram tomados em barracas de madeira arma­das sobre o leito do rio Sizandro, na época da estiagem, em frente da quinta das Fontainhas e em sítio onde todos os anos afloram uns olhos de água de temperatura tépida.
Esses banhos bastante agradáveis e também bons para a pele eram explorados por Francisco Rodrigues desta vila que tinha li­cença para armar as barracas todos os anos.
Eram muito frequentados no verão, tornando-se aquele
Há alguns anos já que acabaram estes antigos banhos cha­mados do rio e que eram tomados em barracas de madeira arma­das sobre o leito do rio Sizandro, na época da estiagem, em frente da quinta das Fontainhas e em sítio onde todos os anos afloram uns olhos de água de temperatura tépida.
Esses banhos bastante agradáveis e também bons para a pele eram explorados por Francisco Rodrigues desta vila que tinha li­cença para armar as barracas todos os anos.
Eram muito frequentados no verão, tornando-se aquele passeio muito agradável para as pessoas da vila, que iam gozar o ensombrado do sítio.
Acabaram aqueles banhos, parece que por dificuldades le­vantadas a quem os explorava.
Hoje só existe o carril público que da estrada, em frente ao portão de ferro da quinta das Fontainhas, vai ter ao paredão do rio construído modernamente e a propósito, com degraus de pe­dras para se descer para o local dos banhos.

TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 2ª ed., LivroDoDia e Ass. do Património, 2011.