30 junho 2013

"PATRIMÓNIOS" no BADALADAS

Nº 41 - Publicado em 5 de Abril de 2013


Pesquisas no Centro Histórico -antigos Paços do Concelho
(4a parte)

Emanuel Carvalho
[ Assistente de arqueólogo ]

De entre o conjunto de intervenções arqueológicas levadas a cabo no Centro Histórico de Torres Vedras nas últimas duas décadas, realizadas sobretudo no contexto de obras de construção civil, municipais e pri­vadas, temos a destacar as escavações no edifício dos antigos Paços do Concelho.
Nesse local, durante as obras de reabilitação, foi recolhido em toda a área do piso térreo um vasto conjunto arqueológico de grande im­portância para a compreensão da história torriense.
A escavação total de um poço rectangular com 16 metros de pro­fundidade, usado até ao século XX para captação de água, veio a re­velar aos arqueólogos um espólio verdadeiramente extraordinário, não só pela qualidade como pela quantidade e variedade dos elementos encontrados. O poço encontra-se actualmente integrado no espaço dos antigos Paços do Concelho, podendo ser observado no pátio do piso térreo.

29 junho 2013

A ASSOCIAÇÃO DO PATRIMÓNIO DE TORRES VEDRAS NA FEIRA DE S. PEDRO 2013






O nosso espaço encontra-se no Pavilhão B, Galeria Superior, junto de outras associações de carácter sócio-cultural.








O tema da exposição é o Centenário da Luz Eléctrica em Torres Vedras. Exposição documental da autoria de José Pinto Gouveia e José Pedro Sobreiro, mostra-nos em 7 painéis a evolução da luz eléctrica no nosso concelho desde 1912 até hoje.

Passe por lá.

21 junho 2013

MAIS QUATRO MONUMENTOS CLASSIFICADOS DO CONCELHO DE TORRES VEDRAS

Página do jornal BADALADAS, Torres Vedras
de 21 Junho 2013



RIQUEZA MONUMENTAL DE TORRES VEDRAS
MAIS QUATRO MONUMENTOS CLASSIFICADOS

Durante o primeiro semestre deste ano Torres Vedras viu mais quatro monumentos classificados como de “Interesse Público”: Igreja de Santiago, na cidade; Igreja de S. Lucas, na Freiria; Ermida do Senhor do Calvário, em Matacães; e Estância Termal de Vale dos Cucos. A importância deste reconhecimento é óbvia. O património edificado é, cada vez mais, um recurso inestimável para a valorização cultural e turística do território. Além disso, reforça o sentimento de pertença e de identidade da comunidade torriense, cada vez mais consciente da espessura histórica que a caracteriza. A relevância deste acto administrativo é sublinhada pela legislação que a suporta (Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro) quando refere que o património cultural é «constituído por todos os bens – materiais e imateriais – que, sendo testemunhos com valor de civilização ou de cultura portadores de interesse cultural relevante, devem ser objecto de especial protecção e valorização.» E mais adiante: «O interesse cultural relevante (…) reflectirá valores de memória, antiguidade, originalidade, raridade, singularidade ou exemplaridade.»

*




ERMIDA E SÍTIO DO SENHOR JESUS DO CALVÁRIO

Lugar relevante na paisagem física e cultural do concelho de Torres Vedras. A capela foi reedificada em 1771 por intermédio de D. Francisco Mendo Trigoso, bispo de Viseu, que obteve do Papa Pio VI regalias de altar privilegiado, em 1779, conforme inscrição do lado direito da capela-mor. A primeira referência conhecida data de 1632, ano em que foi concedido ao templo licença para nele se celebrar missa. Integra alguns importantes elementos de património: mármores no altar-mor, pia baptismal e lavabo da sacristia; uma imagem tutelar de Cristo Crucificado, data de 1712; brasão de armas do bispo sobre o arco triunfal; azulejaria figurativa dedicada à Paixão de Cristo (na capela) e Santo António (na sacristia, constituindo este o anterior orago do templo) e diverso mobiliário litúrgico.



*



ESTÂNCIA TERMAL DE VALE DOS CUCOS

Foi inaugurada em 1893, no local onde há cerca de um século existam já algumas estruturas incipientes destinadas a banhos, aproveitando águas terapêuticas documentalmente
referenciadas desde meados do século XVIII e provavelmente canalizadas desde a época romana. O plano inicial, desenvolvido após a descoberta de uma nascente particularmente abundante, previa a construção de uma grandiosa vila termal. Apesar de ter sido apenas parcialmente implantado, trata -se do único exemplo a nível nacional onde é traçado
de raiz o conjunto de equipamentos essenciais ao funcionamento de um estabelecimento termal, detendo valor patrimonial ímpar. O conjunto termal é composto pelo edifício principal, centrado num largo de grandes dimensões, pela fonte termal ou buvette, por um hotel e casino, duas moradias, capela, oficinas de preparo de lamas e de águas e balneário, cuja fachada neo -clássica se levanta no extremo de extensa e imponente alameda arborizada. 



*


IGREJA DE S. LUCAS – FREIRIA

Foi fundada nos finais do século XV, inícios do século XVI, apresentando vestígios arquitectónicos da época manuelina. A estrutura foi reformada e ampliada no século XVII. 
Fachada de linhas maneiristas, de gosto chão, rematada por frontão. Ao centro, foi rasgado o portal principal de moldura rectangular com pilastras toscanas e frontão triangular, encimado por janela com o mesmo modelo. Do lado direito, ergue-se a torre sineira. 
Na fachada lateral direita encontra-se um portal manuelino, de arco polilobado. Interior de naves, de cinco tramos, em arco redondo. A capela baptismal, que alberga uma pia manuelina, é decorada com silhar de azulejos de tapete seiscentistas. 
O espaço é decorado por vários conjuntos de tábuas, datadas de diferentes épocas. Retábulo de talha dourada, na capela-mor, de manufactura seiscentista, e nas paredes estão dispostas quatro tábuas, também datadas do século XVII. A sacristia possui um painel de azulejos polícromos, executado em 1656, com a seguinte inscrição: "QVINTELA FECIT". 





*


IGREJA DE SANTIAGO (cidade)

Reconstrução quinhentista de um edifício primitivo, tendo sofrido várias obras de remodelação, nomeadamente no século XVIII. Da primeira campanha de Quinhentos restam alguns janelões, contrafortes, e o portal principal, de arquivoltas redondas inteiramente cobertas por lavores manuelinos. A fachada é de remodelação mais tardia.
Abóbada de berço de caixotões na nave, única e muito larga, e abóbada de cruzaria simples na capela-mor, sendo esta revestida com grandes silhares de azulejos setecentistas. Pia baptismal, semelhante à da Igreja de Santa Maria do Castelo, e a escada de caracol do coro alto, em pedra, ambos do século XVI. O cadeiral do coro, muito danificado, é datado de 1634 e coevo do interessante púlpito de mármore que enriquece a nave. 



07 junho 2013

NOVOS MONUMENTOS CLASSIFICADOS DE TORRES VEDRAS

Termas dos Cucos

Aguardava-se há muito a classificação de alguns exemplares do património edificado do concelho de Torres Vedras. Os processos haviam sido abertos há alguns anos e já receávamos que não viessem a ser concluídos. Confirmámos agora a conclusão de quatro desses processos. A saber:

1 - Igreja matriz da Freiria, da invocação de S. Lucas, Torres Vedras.
      Classificado como MONUMENTO DE INTERESSE PÚBLICO pela Portaria nº 147/2013, no Dº
      República, 2ª série, nº 53, de 15 de Março de 2013.

2 - Ermida e Sítio do Senhor Jesus do Calvário em Matacães, Torres Vedras
      Classificada como SÍTIO DE INTERESSE PÚBLICO pela Portaria nº 232/2013, no Dº República, 2ª
      Série, nº 72, de 12 de Abril de 2013. Ver também:
       http://www.igespar.pt/media/uploads/consultaspublicas/ERCalvario2.pdf

3 - Igreja de Santiago de Torres Vedras.
      Classificada como MONUMENTO DE INTERESSE PÚBLICO pela Portaria nº 290/2013, no Dº
      República, 2ª Série, nº 92, de 14 de Maio de 2013. Ver também:
      http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70832/
     

4 - Estância Termal de Vale dos Cucos.
      Classificada como MONUMENTO DE INTERESSE PÚBLICO pela Portaria nº 318/2013, no Dº
      República, 2ª Série, nº 106, de 3 de Junho de 2013. Ver também:
      http://dre.pt/pdf2sdip/2013/06/106000000/1770217702.pdf
     

 Recordamos que o património edificado tem três graus de classificação, por ordem decrescente de importância relativa: Monumento Nacional, Monumento de Interesse Público e Monumento de Interesse Municipal.
Para ver mais pormenores sobre o assunto:
 http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/classificacaodebensimoveisefixacaodezep/

Aguarda-se a classificação das 1ª e 2ª Linhas de Defesa de Lisboa ( Linhas de Torres Vedras), cujo anúncio de abertura de procedimento foi publicado no Dº República, 2ª  série, em 2 de Janeiro de 2013.

02 junho 2013

MEMÓRIAS - O coreto do Jardim da Graça


Enquanto a Banda da Juventude Musical Ponterrolense enchia de sons vibrantes o espaço do Jardim da Graça, os assistentes que por ali andavam cumprimentavam-se em reencontros de conversas antigas. Pedro Carimbo conduzia a Banda no bairro dos sons e nós relembrávamos concertos de outras eras, tão intensamente ouvidos ontem e ainda tão presentes hoje.

O velho coreto, que mora só na saudade dos que o viram:




No abraço da despedida veio o pedido de um escrito que resgatasse do esquecimento o velho coreto.
Maria Laura Madeira respondeu. Comovidamente agradecemos este texto de Memória revisitada.

Um Coreto será, em qualquer terra portuguesa, um monumento daqueles que não deveria levantar polémicas a ninguém. Monumento, sim, património monumental que atesta e faz parte de um grande salto no progresso civilizacional dos povos. Era destinado a fazer conhecer e amar a música, a mais universal das linguagens. À volta do Coreto se reuniam as pessoas que queriam gostar de música, ouvir música, sentir o seu semelhante numa dimensão de fraterno respeito pela música e pelos seus valores.

         À volta do Coreto brincavam as crianças, em noite de concerto, obrigadas apenas a guardar silêncio e consideração pelos outros, e muitas delas já eram fascinadas pelos metais reluzentes, donde saíam sons maravilhosos. A Vila, em noite de concerto, inundava-se duma beleza quase mágica, o Jardim enchia, as esplanadas próximas fervilhavam de gente animada de um sorriso bom. Os nossos músicos das Bandas eram muitos deles também bombeiros voluntários, o que dava ainda mais valor ao evento.

         Gente de todas as idades, homens e mulheres, eram bem mais felizes nas noites de concerto. Por norma, as mulheres não frequentavam os cafés, saíam pouco, mas em noite de concerto da Banda a liberdade punha um retoque garrido e vinha espreitar a vida. A vida, que era difícil, com privações e muito trabalho, mas as pessoas acreditavam na força do estudo, do trabalho, da solidariedade. Era assim no meu Bairro, afortunadamente muito perto do Jardim da Graça, palco de sadias brincadeiras e de grande respeito pelas árvores, pelas flores, pelos animais que por ali se nos juntavam. O relógio da Graça comandava o tempo e, se algum fogo acontecia algures pelo concelho, logo alguém aparecia a correr para tocar o sino a rebate. Ninguém deveria ter levado a corda e retirado o sino. É dos pequenos monumentos humanos que mais nos devemos lembrar, eles são a semente de coisas que nunca deverão morrer entre os homens; a ajuda solidária é uma delas. Não desprezo as heranças monumentais de porte que embelezam as terras, todavia algumas não serão de todo repositório das melhores lembranças do passado.

          Sentindo-me alguém com direito a viver feliz, eu fui muitas vezes pendurada no braço do meu saudoso Avô, que usava a melhor gravata, assistir aos concertos das várias bandas que se exibiam no nosso Coreto. Quando o sr. Pombal batia com os pratos dourados, aquele «tchim» deixava-me arrepiada, ecoava na alma das crianças, que paravam todas para saborear o momento. O ilustre maestro, prof. Amorim, lindo como um Pierrot de porcelana sob a luz dum círculo de lâmpadas, é o quadro inesquecível que jamais conseguirei materializar.

           Meu querido Coreto, pintado de verde escuro, com um vão por baixo repleto de mistérios, onde foste parar?
            Ah, volta! Quem sabe podes ficar na praceta da rua Henriques Nogueira, ao pé do adorável Padre Joaquim Maria de Sousa, ali tão sozinho entre o limite de algumas colunas truncadas?... Pelos muros das Escolas e das casas da área, as pessoas podem ajeitar-se para ouvir música, muita música, toda a música.
          Salvem também o Coreto do Choupal, um elo na dinamização da área, para o embelezamento duma cidade que é de todos, onde poderão vir a nascer pequenos negócios, residenciais simpáticas, espaços amorosamente ajardinados nas margens do rio Sizandro, que merece vir a ser um espelho de água, o lugar para surgirem trabalhos de arte, esculturas, símbolos simples, onde cada um se expanda e se reveja.

           Deixo a pedido o testemunho duma menina de lacinho que se maravilhou da sua terra e não sabia que era poeta. Se pode valer alguma coisa, aqui fica.

Com amor, Maria Laura Madeira/2013