18 dezembro 2011

MONUMENTOS NACIONAIS DE TORRES VEDRAS - ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO AMIAL

Foto de Júlio Vieira, 
in:  TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 1ª ed., Torres Vedras, 1926

O QUE DIZ JÚLIO VIEIRA SOBRE A ERMIDA 
DE NOSSA SENHORA DO AMIAL

«Não se deve esquecer na ordem de antiguidade, a pequena igreja ou ermida de Nossa Senhora do Amial ou Nossa Senhora do Pinheiro, que é de fundação tão remota que a tradição nos diz ter sido a primeira freguesia que teve esta vila, antes de se es­tabelecer a matriz de Santa Maria, facto citado entre outros, por Carvalho, na sua Corografia (livro II, tratado I)198.
Possivelmente a sua origem teria sido goda e assim o indica o manuscrito a que tenho feito alusão, narrando que por virtude de uns letreiros por detrás de uns painéis que levaram à descoberta de umas relíquias dentro do altar-mor, se infere «ter no dito sítio sido igreja no tempo em que se perdeu a Hespanha, vivendo nela os godos».
Esta ermida é sagrada, como se vê pelas pedras com cruzes em relevo metidas nas paredes interiores da mesma.
Deve ter sofrido uma reconstrução importante em 1565, data esta que se vê esculpida na cantaria de uma das janelas de­baixo do alpendre199, as quais foram tapadas, não se sabe quando, nem mesmo já se sabia no princípio do século XVIII, segundo o testemunho do citado manuscrito de 1729.
Em frente da porta principal, debaixo do alpendre, está uma sepultura antiga, cujas letras sumidas ou apagadas de todo se não podem ler, mas diziam o seguinte, conforme felizmente nos con­serva o aludido manuscrito:
Aqui jaz Álvaro Cayado Vassalo del-Rey D. João o segundo o qual se finou a nove dias de Novembro de 1524.
Comprova-se, pois, que até àquela época, ainda existia o an­tigo foro de vassalo.
No corpo da igreja existe uma pedra sepulcral, conforme o desenho que se vê no fim do capítulo.
A porta lateral de ordem dórica é muito interessante. A igrejazinha teve outra reconstrução também importante que data de 1719, ano em que foi feito o actual altar de Nossa Senhora de Rocamador, cuja imagem até ali estivera metida em um nicho da parede.
Edificada sobre uma pequena elevação de terreno, para cujo adro se subia por muitos degraus, está hoje, pode dizer-se, nive­lada com a estrada que lhe fica fronteira, mercê dos sucessivos aterros que aquele sítio tem sofrido.
Foi nas casas desta ermida que se instituiu o mais antigo hospital que se conhece ter existido em Torres Vedras, conforme no capítulo seguinte vai relatado.»

(pp 157/158 da 2ª edição da obra de Júlio Vieira, LivrodoDia e Associação do Património de Torres Vedras, Torres Vedras, 2011)

NOTAS:

198 A mesma tradição vem apontada no Dic. Geogr. de Port., do Padre Luís Cardoso,
T. XXXVII, p. 884 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo).
199 O alpendre foi feito nessa data.

Pedra tumular existente na Igreja de N. S.ª do Amial 
(TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 2ª ed. p. 160)


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Postal antigo, anos 30 do Séc XX

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Capela de Nossa Senhora do Amial (mon. nac.)

«Esta venerável capela, de remota fundação medie­val, foi reconstruída por completo em meados do sé­culo XVI, época que melhor se testemunha nas facha­das e em certos elementos do interior.
É tradição ter sido aqui instituída a primeira fre­guesia de Torres Vedras, antes portanto da matriz de Santa Maria do Castelo, e foi seguramente em casas suas que se estabeleceu o mais antigo hospital da vila. Do passado mais antigo subsiste apenas a inespe­rada sineira gótica, a velha imagem policromada de Nossa Senhora de Rocamador (século XIV?) e uma curiosa laje sepulcral com escudo de tipo de cadeado — em campo uma quaderna de crescentes-— e atra­vessado por uma espada. Ao lado do escudo, igual­mente esculpido, um estandarte medieval.
Anteriormente à grande reconstrução quinhentista, há dois muito interessantes vestígios do primeiro quar­tel do mesmo século XVI. Um deles é a pia de água benta, recortada e de lavor de tipo manuelino. O outro passará mais despercebido, mas não é menos impor­tante, reclamando sempre a sua cuidadosa conserva­ção, tanto mais que será parte mínima de uma decora­ção já estendida decerto a todo este banco de alvenaria como ao outro da parede oposta. Trata-se de um pe­queno e admirável rodapé de azulejos mudéjares ditos hispano-árabes, de estrelas geométricas e belos esmal­tes. De manter igualmente em qualquer futuro restauro os retábulos setecentistas, quer o do altar do lado do Evangelho, onde está a imagem de Nossa Senhora de Rocamador, excelente obra de talha datada da remo­delação de 1719 e possivelmente da mesma oficina de alguns altares da Igreja de S. Pedro, quer o do altar--mor, mais tardio e onde se venera a imagem policro­mada de Nossa Senhora com o Menino. Pertencem às mesmas obras de 1719 os arcos de mármores, tanto de um como de outro altar. A outra pia de água benta, oval, de mármore rosado, datará também de 1719.
Mas, certamente, o que avulta são as obras à roda de 1550-1560, datas autorizadas pelo estilo arquitec­tónico da reconstrução e pelas inscrições: na parede do lado do Evangelho, uma lápide de 1551; no pavi­mento da capela-mor, uma laje sepulcral também de 1551, de Ana de Aguiar, mulher do licenciado João de Camões, fidalgo da casa real; e outra laje datada de 1552, no pavimento da pequena nave. Cita-se ainda a data de 1565 numa janela do alpendre.
Típica desta época é a galilé, de composição paladiana, de arco redondo ao centro e colunas do dórico.
Do recheio desta valiosa capela fazia parte a série de quatro tábuas, S. Pedro, S. Paulo, S. Lourenço e S. Sebastião, pinturas de meados do século XVI que hoje se expõem no Museu Municipal.
No altar-mor está de há muito a velha imagem de madeira, bastante repintada, de S. Vicente, que se vene­rava na derruída ermida do Forte, imagem que é uma relíquia e, ao mesmo tempo, uma peça de valor icono­gráfico a reunir às várias representações do padroeiro da cidade de Lisboa.»

(Texto do livro: MONUMENTOS E EDIFÍCIOS NOTÁVEIS DO DISTRITO DE LISBOA - Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço; Junta Distrital de Lisboa, 1963.)

N. S.ª do Amial. Pia de água benta, à entrada, do lado da epístola.
In: APONTAMENTOS SOBRE O MANUELINO NO DISTRITO DE LISBOA,
Fernando Pereira Bastos, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1990

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Fotos (C) ADDPCTV












17 dezembro 2011

PATRIMÓNIOS 19 (in: BADALADAS - 9 DEZEMBRO 2011)



Foto (C) Moedas Duarte

É ÚTIL LEMBRAR A IMPORTÂNCIA TURÍSTICA DO CASTELO
NO CONTEXTO DO CENTRO HISTÓRICO

PAULO MOREIRA
(Arquitecto)

O Plano de Salvaguarda do Centro Histórico já é passado. Teve uma função importante ao inventariar e preservar um núcleo patrimonial da cidade. Mas durou seguramente tempo demasiado para quem ansiava pela reabilitação daquele espaço torriense.  
Estamos agora numa nova fase, a do Plano de Pormenor e de Reabilitação. A designação, só por si, implica uma fase activa de intervenção.
Em parceria, e bem, promoveu a Câmara um programa de acção que designou de «Torres ao Centro» tendo em conta o lançamento de um conjunto de iniciativas integradas para a implementação deste plano; para além de organizar alguns foruns de discussão e apresentação de projectos que ocorreram na primeira quinzena do passado mês de Outubro. Para tal fez convites à participação de munícipes e entidades interessadas, e colocou alguns anúncios na imprensa.
Nos tempos que correm, face às dificuldades por que passamos – e com evidente definhar do tecido comercial a que assistimos no centro da cidade – julgo corajosa esta iniciativa do município por constituir a resposta possível para a procura de oportunidades em tempo de crise.
Serão provavelmente estas iniciativas potenciadoras de futuras pistas para o desenvolvimento sustentável que desejamos.
Contudo, embora todos os processos tenham de começar por algum lado, torna-se premente um maior envolvimento da comunidade torriense. O Centro Histórico é território dos residentes, mas é sobretudo uma parte da cidade que deverá envolver todos. É fundamental usá-lo como zona integrante da cidade, ao invés de um canto de quintal esquecido.
Será pois importante que o programa «Torres ao Centro» se afirme como uma marca. Tenha uma maior divulgação junto da comunidade e seja portador de uma mensagem forte que a todos mobilize.
No contexto do Centro Histórico torna-se imperioso lançar um concurso de ideias para a utilização turística do Castelo – apesar de há anos atrás muito se ter falado sobre este desiderato – não esquecendo que este espaço poderá constituir uma âncora que permita potenciar a atracção do Centro Histórico, quer como destino de visita, quer para o desenvolvimento do comércio local.

10 dezembro 2011

À VOLTA DO CASTELO






















Existem tantas perspetivas das ruínas do Palácio dos Alcaides ( que por comodidade chamamos "castelo") quantas as paragens que fizermos num percurso circular em seu redor. Isto porque, como já relatava Fernão Lopes, o castelo está assente "numa formosa mota" que parece ter sido feita de propósito para nela se construir o que lá vemos.
Se juntarmos a esses olhares as diferentes horas do dia, bem como a diversidade de luz ao longo do ano, teremos possibilidades infinitas de fixarmos imagens sempre renovadas. De uma beleza cativante. 

(Fotos tiradas entre setembro e novembro de 2011 pelo nosso associado J Moedas Duarte)

07 dezembro 2011

PASSEANDO EM TORRES VEDRAS

Imagens da cidade numa destas tardes novembro...


Pátio Amarelo

 Casa da família Clemente

Travessa para o Largo Machado dos Santos







Torre da Igreja de Santiago


O "Castelo" visto de Santiago

27 novembro 2011

FADO: PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE




Um dia grande para a Cultura portuguesa.

Ver aqui: http://www.publico.pt/Cultura/o-fado-ja-e-patrimonio-mundial-1522758

Bem sabemos que o Fado é um repositório de contradições. Se foi canção nacional no tempo da Ditadura fascista e, como tal, funcionava como uma espécie de anestesiante social, a verdade é que ganhou uma dimensão cultural indesmentível a partir da renovação das letras e dos intérpretes, iniciada ainda com Amália e prosseguida com nomes como Carlos do Carmo e Ary dos Santos e toda a gama de fadistas e autores das gerações mais novas.

O Fado é Património Imaterial da Humanidade a partir de hoje.

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PATRIMÓNIO IMATERIAL, O QUE É

Jornal Público, Cláudia Carvalho

Proteger o património e as tradições que tornam cada país diferente e único no mundo foi o principal objectivo que esteve na base da criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) da classificação de Património Imaterial da Humanidade. Hoje, Portugal não tem nenhum bem inscrito nesta lista, mas tem 14 inscritos na lista de Património Mundial.

As primeiras preocupações começaram em 1972, quando, depois da Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, alguns países manifestaram interesse em ver criado um instrumento de protecção do património imaterial. Isto obrigaria a UNESCO a adoptar, em 1989, a Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore, dividida em tesouros humanos vivos, línguas em perigo no mundo e música tradicional.

Dez anos depois, em 1999, o conselho executivo da UNESCO decidiu criar uma distinção internacional intitulada "Proclamação das Obras-primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade", de forma a distinguir os exemplos mais notáveis de espaços culturais ou formas de expressão popular e tradicional. Só em 2006 é que a Convenção para Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, aprovada no final de 2003, entrou em vigor.

A Convenção definiu que o património cultural imaterial não se resume apenas aos monumentos e colecções de objectos, mas abrange também as tradições, expressões de vida, conhecimentos e aptidões que constituem a cultura e a identidade de cada país. Características que colocaram o fado entre as sete candidaturas mais recomendadas pelos peritos da UNESCO.

Segundo um documento desses peritos, o fado “é um género de grande versatilidade poética e musical”, com “um forte sentimento de pertença e ligação a Lisboa”, podendo contribuir para futuras interacções com outros géneros musicais. A UNESCO destacou ainda os esforços de toda a comunidade, instituições e meio artístico que se uniram em torno da candidatura.

Além do fado, foram recomendadas as candidaturas do Peru, sobre o conhecimento dos jaguares pelos xamãs da tribo ameríndia colombiana Yurupari, da música Mariachi, apresentada pelo México, das danças Nijemo Kolo da Dalmácia pela Croácia, da música e dança tsiattista do Chipre e da cavalgada de reis da Morávia, pela República Checa. O Comité Intergovernamental, porém, tinha um total 38 candidaturas para analisar.

Embora Portugal não tenha nenhum bem inscrito na lista de património imaterial, possui sítios, monumentos ou paisagens classficadas como património mundial da UNESCO: o centro histórico de Angra do Heroísmo (Açores), o Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa), a Torre de Belém (Lisboa), o Mosteiro da Batalha (Batalha), o Convento de Cristo (Tomar), o centro histórico de Évora (Évora), o Mosteiro de Alcobaça (Alcobaça), a paisagem cultural de Sintra (Sintra), o centro histórico do Porto, os sítios de arte rupestre do Vale do Côa, a floresta Laurissilva da ilha da Madeira, o centro histórico de Guimarães, a região vinhateira do Alto Douro e a paisagem da cultura da vinha da ilha do Pico (Açores


23 novembro 2011

PATRIMÓNIOS 18 (in: BADALADAS, 18 novembro 2011

OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO NO CENTRO 

HISTÓRICO
(III Parte)


EZEQUIEL DUARTE
( Economista )


Nestes tempos difíceis que vivemos, com o prolongamento de uma crise sem fim à vista, poderão passar vários anos sem investimentos empresariais significativos no Centro Histórico de Torres Vedras, tudo apontando no sentido contrário, para o aumento da intensidade na cessação de actividades.
A qualificação urbana, o rigor na intervenção do edificado e a reconversão de espaços vazios descaracterizados, cujo preenchimento de recurso tem sido o parqueamento automóvel, poderão dar melhores indicações para o futuro da actividade económica no Centro Histórico de Torres Vedras.
Um espaço singular que se distingue pelas particularidades arquitectónicas de uma longa herança, pelas ruas estreitas apropriadas para outros modos de transporte, onde o automóvel terá que desempenhar apenas um papel secundário ou de recurso, num cenário em que não é o espaço que se adapta ao automóvel mas sim o contrário.
Com um Centro Histórico com outra feição, num ciclo ascendente da economia, que se espera, existirão condições para um impulso na instalação de novas funções económicas e para o surgimento de jovens empreendedores com um espírito inovador e com capacidade de lidar com a mudança perante novos paradigmas organizacionais e tecnológicos.
Ninguém sabe ao certo quando se verificará a retoma económica, prevê-la, hoje em dia, é um exercício doloroso que, perante a situação actual, ninguém levará a sério por muito consistentes que sejam os pressupostos.
 Empreender é pois uma raridade nos tempos que correm, apesar de ser a altura certa para programar as estruturas que poderão no futuro alavancar o investimento.
 A palavra empreendedorismo surgiu em Portugal no início da última década do século XX e andou sempre a reboque de acções pontuais em função dos financiamentos comunitários existentes.
Há muito que se defende na teoria económica que a oferta de empreendedores é controlável e que, em função das políticas de apoio existentes, da sua consistência e persistência, poderão resultar, a médio prazo, em aumentos significativos no número de empreendedores.
A tradução territorial de uma política de apoio ao empreendedorismo terá nas cidades médias um dos seus pilares e os centros históricos serão atractivos para jovens empreendedores na fixação de residência e de local de trabalho numa relação de proximidade, assim haja a percepção da oferta e organizações facilitadoras da instalação.
Cidades médias como Torres Vedras, que assegurem programas de tutoria com a participação dos empresários locais, com uma educação que desenvolva o espírito empreendedor desde os primeiros níveis de ensino, com organizações locais que proporcionem novas relações de sociabilidade e de minimização do risco.
O Centro Histórico de Torres Vedras poderá ter um papel preponderante na fixação de jovens empreendedores no futuro, aproveitando a qualificação urbana em curso, o movimento de fixação de associações culturais em grande parte direccionadas para a juventude e a capacidade dos agentes locais para incorporar estruturas de apoio ao empreendedor.

17 novembro 2011

VISITA AO CASTRO DO ZAMBUJAL


Eram 27 visitantes de uma excursão cultural organizada pela Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos. Gente viajada e informada. Mas ninguém conhecia o Zambujal.
No final a impressão foi de admiração e surpresa pelo monumento pré-histórico que lhes foi revelado.
No entanto, as conversas posteriores mostraram também uma perspetiva crítica quanto ao que viram e ao modo como aquele património está mal cuidado, o que nos levou a manifestar um certo sentimento de vergonha pois nos sentimos, de algum modo, responsáveis pela incúria e abandono daquele espaço.

Vejamos. A Câmara Municipal já fez alguma coisa, é um facto: adquiriu os terrenos, apoiou as campanhas arqueológicas, colocou um painel informativo, fez obras de melhoramento no Casal onde vive a senhora e o filho que "guardam" o sítio.
Mas falta muito mais. Há a ideia/projeto de um Centro interpretativo, no qual será exposto o valioso espólio arqueológico encontrado até agora mas as três entidades que intervêm no processo - o Município, o IGESPAR e o Instituto Arqueológico Alemão ( que tem feito a exploração arqueológica desde 1964) - não encontram formas de articulação que permitam avançar para a sua concretização.

Pela nossa parte, que podemos fazer? Divulgar! Alertar! E isso temos feito.
E podemos também dar sugestões que nos parecem viáveis e de fácil concretização:

1ª - Disponibilizar ao público interessado a mostra do espólio do Zambujal.
Esse já foi o núcleo principal do Museu no tempo de Leonel Trindade, e era admirado como um dos mais expressivos espólios nacionais do Calcolítico. Agora está encaixotado. Recentemente os funcionarios do Museu tiveram a iniciativa - que aplaudimos! - de colocar uma vitrina com algum desse espólio à vista do público, no primeiro andar do Museu, mas em condições deprimentes de exposição. Quem lá for perceberá porquê. Entendamo-nos: visitar o Castro do Zambujal sem ter a contrapartida de admirar o seu espólio é como matar a fome com a leitura de uma revista sobre culinária...

2ª - No próprio espaço do Castro impõe-se a construção de um passadiço de madeira que permita a visualização sem que os visitantes destruam as estruturas de pedra. É que a parte mais espetacular do Castro é a barbacã e a sua apreciação exige que as pessoas percorram um caminho penoso - e perigoso! - entre as pedras. O que se impõe, portanto, é uma estrutura simples em madeira de pinho tratado, à semelhança, aliás, do que há noutros lugares, como é o caso do Castro de Leceia (Barcarena, Oeiras) como se vê nestas fotos:


Castro de Leceia

Alunos de uma escola em visita ao Castro de Leceia ( fotos tiradas da net)


Enquanto não se constrói o tal Centro Interpretativo ( coisa dispendiosa e demorada) - por que não fazer estas pequenas ações de valorização do nosso Património?
Anda muita gente por aí a passear ou em visitas de estudo, sobretudo os "aposentados" e as nossas escolas. Há que lhes dar condições de fruição do nosso riquíssimo património sem que nos sintamos envergonhados...

14 novembro 2011

VISITA GUIADA


 16 de novembro, entre as 14H30 e as 17H30
faremos uma VISITA GUIADA a dois monumentos nacionais de Torres Vedras:
Castro do Zambujal e Convento do Varatojo.




Já em 7 de junho acompanhámos um grupo da APAC numa visita à Quinta das Lapas e à Rota das Ermidas.

VISITAS GUIADAS são uma área de atividade que está no nosso programa de ação e que disponibilizamos a quem nos solicitar


13 novembro 2011

GRAVURAS DA COLEÇÃO "TEMPOS IDOS"

Na Biblioteca Municipal de Torres Vedras encontra-se uma interessante coleção de gravuras de revistas portuguesas do século XIX, de que são exemplos as que aqui publicamos, a partir de fotocópias que tirámos há já alguns anos.


in: "Arquivo pitoresco", 1865



In: "Ilustração Portuguesa", 1885



in: "Universo ilustrado", 1880

11 novembro 2011

PATRIMÓNIO DE TORRES VEDRAS - TERMAS DOS CUCOS

Vista geral do edifício principal

Está na categoria de "Imóvel em vias de classificação". Há poucas informações disponíveis ou de fácil acesso sobre este belíssimo conjunto edificado.
O nosso associado Rui Prudêncio indicou-nos uma ligação que, pela oportunidade, colocamos AQUI. Também pode ser consultada no blogue do Venerando de Matos.
Para imediata informação, transcrevemos o texto, referindo que ele se reporta a 2002. Infelizmente, parece-nos que nada se modificou desde essa altura, a não ser o crescente desinteresse por este património por parte de quem poderia fazer alguma coisa por ele.
As termas estão inativas e os edifícios fechados. Há um guarda residente que toma conta do espaço e faz a manutenção do Parque.
Exteriormente os edifícios estão pintados e mostram bom aspeto, o que se deve ao facto de aquele espaço ter sido utilizado como cenário de uma telenovela.

As fotos, de 2010,  são do nosso associado Joaquim Moedas Duarte, a quem agradecemos.


Edifício principal




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Edifício do restaurante e zona de lazer

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Edifício para alojamentos - Lado Poente da álea de acesso




Edifício de alojamentos - A nascente da álea de acesso

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Álea de acesso, a partir da estrada que sai de Torres Vedras em direcção ao Sobral de Monte Agraço





 Época termal
As termas encontram-se encerradas sem data prevista para reabertura
Indicações
Reumatismo, doenças da pele e da nutrição (Acciaiuoli, 1944)
Para o tratamento da gota, artrite-reumática, linfantismo e doenças das senhoras, particularmente metro-anexites. As lamas empregam-se nas afecções do aparelho locomotor tendo por origem a gota (Contreiras.1951)
Doenças metabólico-endócrinas, reumáticas e músculos esqueléticas.


Tratamentos/ caracterização de utentes
Balneoterapia com banhos de lama; inalações e ingestão de água.
Apesar das suas características e dos tratamentos com lamas próprias, caso único no atual panorama do termalismo entre nós, o número dos seus frequentadores, pelo menos depois da década de 30, nunca foi muito elevado. Nos relatórios de Acciaiuoli de 1939-46 as inscrições são em média na casa das duas centenas, nos últimos três ano que tiveram abertas, 1996 a 98 as inscrições foram em média um pouco inferiores ao milhar.

LOCALIZAÇÃO

Distrito
Lisboa

Concelho
Torres Vedras

Freguesia
Matacães

Povoação/Lugar
Termas de Cucos
Localização
Na margem direita do Rio Sizandro, no sopé da colina dos Macheia.

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica do Rio: Ribeiras de Costa - Oeste

Zona geológica
Orlas Meso- cenozoicas

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas sedimentares, predominante Arenitos.

Dureza águas subterrâneas
100 a 300 mg/l CACO3


Instalações/ património construído e ambiental

Inaugurado em 15 de Maio de 1893 o complexo termal dos Cucos, com traça do engenheiro António José Freire, por encomenda do proprietário José Gonçalves Dias Neiva.
Mas em 1892 já o novo estabelecimento balnear se encontrava a trabalhar em fase experimental, que Lopes (1892) elogia e descreveu: “O seu primeiro pavimento – das piscinas – situado a 3,4m abaixo do nível do solo, consta de três salas: duas para banhos de lama, tendo um, quatro piscinas e outras três, ambas com as competentes tinas de lavagem; e a terceira com duas divisões, das quais uma tem cinco tinas e outra quatro, destinadas aos banhos de 3ª classe. Neste pavimento, e num plano superior, estão instaladas ainda duas tinas, salas de inalações, maquinismo e a casa de engarrafamento das águas minerais. Há, ainda, um salão de espera e a elegante buvete com duas torneiras para água, fria ou quente.
No rés-do-chão, 1,5m acima do solo, estão estabelecidas, em gabinetes elegantes e confortáveis, as tinas para banho de imersão, em número de doze, os duches vaginais, perenais e rectais, e as de hidroterapia, com todo os aparelhos aperfeiçoados conhecidos até hoje.
São sete as nascentes existentes no parque dos Cucos: a dos Cucos Novos e Cucos Novos Fria localizam-se sob o balneário; a dos Cucos Modernos, fornece a buvete; A das Lamas no fundo de um poço para captação de lamas; A dos Cucos Velhos e do Olival não utilizadas. A sétima nascente encontra-se à entrada do parque e era de uso popular para doenças de pele e estômago, denominada dos Coxos ou dos Coches (como é atualmente mais conhecida).

Atualmente todas as dependências do complexo termal se encontram encerradas: Balneário, capela, mina de lamas; buvete; restaurante e pensão. Aberto e para usufruto da população está o agradável parque termal.

Natureza
Cloretada, bicarbonatada, sulfatada, muito radioactiva pelo radon (38º) (Lepierre, 1930)
Cloretada sódica (Calado, 1995)

Alvará de concessão
Decreto de 12 de Julho de 1858, determinado de 80réis o preço das garrafas da água de Cucos.
1ºalvara de 25 de Outubro de 1893 a favor de José Gonçalves Dias Neiva
Alvará de 26 de Março 1909 a favor de José António Vieira
Portaria de 8 de Junho de 1929 definindo a área reservada de 50hectares.

Contrato actual de 1 de Janeiro de 1999

Historial
Embora Lopes (1892) descreva que durante as obras para novas captagens e desvio do leito do rio Sizandro, foram descobertos antigos poços e canalizações de provável origem romana, as primeiras referências que surgem a esta nascente são de 1758. Nas Memórias Paroquias, o Padre António José de Faria, prior de S. Pedro, respondia do seguinte modo aos Quesitos Pombalinos, sobre a questão da existência de águas minerais na Freguesia: “Esteve esta água sempre incógnita até que um grande cirurgião do Partido da Câmara desta Vila pela observar no ano de 1746 a pões em uso na medicina. Chamado o Dr. Cirurgião Máximo Monis de Carvalho, e tem alcançado esta água notáveis efeitos em desterrar sarnas, lepras, caquechias, inchações, e de cura chagas sordicas, gotas arteticas, convulsões, paralisias, e obstruções dos olhos, servindo algumas de remédio paliatico a chagas cancrozas, e pode servir para remédio de muitas outras queixas se o pio zelo lhe mandasse por algum reparo, para assim comodamente se usar nos banhos como convêm; pois não é menos para admirar o grande numero de enfermos que ali de diversas partes tem concorridos a tomar banhos nos toscos lagos que com a sua industria fazem na terra expostos ao ar, e sem reparo algum, e a maior parte sem conselho de médico…”
Tavares, Dr. Francisco, escreveu em 1810: “… no sítio chamado dos Cucos nascem águas termais, em dez origens diversas, todas da mesma natureza e diferente temperatura […] como estas nascentes estão muito próximas à margem de um ribeiro, que ali corre, com qualquer pequena enchente se cobrem. Os banhos, com casas de madeira ali feitas, são defendidos por marachões, que o proprietário do terreno mandou construir, assim como algumas casas e quartos para acomodação de quem quiser usar das águas…
O proprietário era o Capitão – mor José Lourenço Peres, segundo nos informa o visconde Balsemão numa Memória apresentada à Academia Real das Ciências em 1813, que descreve os banhos em tinas de madeira enterradas na lama e resguardadas por barracas. A mesma descrição fez Silva (1815), que recomendava: “Se estas águas se procurassem mais no centro do monte… se desse outro curso ao rio, as construções dos banhos seriam permanentes
Agostinho Lourenço (1867) escreveu no seu Renseignent sur les eaux Minérales Portugaises, para a Exposição Universal de Paris « L’eau jaillit par diffeérents points dans un fossé oblong parallèle d’une petit rivière appelle «Cysandre», et dont elle est séparée par un étroit mur naturel […] A l’endroit même ou les eaux sourdent, on a enterre des baignoires en bois, qui reçoivent l’eau par les fissures que laissent entre elles les planches dont elles sont construites »
Na ocasião em que Agostinho Lourenço escrevia este texto, já a quinta de Vale dos Cucos era propriedade de João Gonçalves Neiva, que construiu, por volta de 1860, novas casas de banho ainda em madeira e casas para alojamento dos doentes, no local hoje chamado de Cucos Velhos. Mas será seu filho José Gonçalves Dias Neiva que a partir de 1890 inicia todo um processo de edificação de uma vila termal, iniciadas por escavações que vêem a descobrir uma nascente com grande manancial de água. O projecto que pretendia ser completamente inovador em serviços termais e de lazer, previa a construção do Balneário, Hotel, Casino, 40 moradias num parque termal que contava ainda com uma capela e mercado.
Em 1893 era inaugurado o estabelecimento termal, três anos depois foi a vez do Casino, segue-se lhe o Hotel, bem mais modesto do que o edifício programado de 300 quartos, das moradias projectadas concretizaram-se duas, construí-se também a capela e oficinas de preparo de lamas e de águas.
Ao fundo de uma alameda arborizada, que haveria de definir o eixo da vila termal encontra-se o balneário, com a sua fachada neo-clássica. Sobre este projecto escreveu Mangorrinha ( 2000): “ O plano das Termas dos Cucos é o único que traça de raiz o conjunto de equipamentos essenciais ao funcionamento de uma estância termal e, como tal, possui um valor analítico ímpar, embora nunca tenha sido concretizado na sua totalidade, perdendo o efeito urbano que projectava.
Em 1892 as águas foram analisadas por Joaquim dos Santos Silva, um ano depois Frederico de Albuquerque d’Orey fazia o seu Relatório de Reconhecimento para a concessão então pedida pelo proprietário.
Em 1896 Lepierre analisou as águas, classificando-as como mesossalinas, cloretadas sódicas, litínicas e siliciosas.
Sarzedas (1907) no seu relatório de inspecção elogia o estabelecimento com as palavras: “ são completas e de primeira grandeza as instalações”.
Em 1910 é o estudo da radioactividade das suas lamas por Oliveira Pinto. Estas lamas são extraídas em galerias de uma mina junto do leito do rio Sizandro, emergem depois de passadas por extractos calcários, são cloretadas, radioactivas, contêm biogeleias e são hipertermais.
Andrade (1926) apresenta o seu projecto de novas captagens no sítio dos Cucos Velhos, que levaram três anos a concluírem-se e sobre elas disse Lepierre (1930), na ocasião em procedeu a nova análise destas águas: “Depois de trabalhos de captação magistralmente efectuados […] A água foi captada numa talha de rocha e levada por um cano de chumbo, em galeria estanque e visível de uns 9 metros de comprimento, que visitei. Esta galeria vem abrir na parte inferior dum poço com uns 15m de profundidade. A água termal sobe por um tubo de chumbo, pela sua própria pressão até quase ao nível superior do terreno. A água fica assim, directamente colhida na rocha, e chega até cima sem contaminação de espécie alguma.” Nessa época foi edificada uma nova fonte buvete.
No Anuário (1963) foram descritas as instalações e os tratamentos, onde se destaca a Aplicação de Lamas: “… o doente repousa sobre tela impermeável num leito e a região doente: articulação ou trajecto de um nervo, está envolvida numa pasta de lama com a espessura de 3 a 6 centímetros e à temperatura de 42 a 45 graus. Esta lama é envolvida em panos, matem a temperatura quase constante durante uma hora e é esta também em regra a duração da aplicação.
Em 1974 é elaborado um projecto urbanístico para a Quinta da Macheia, situada no lado Sul da propriedade dos Cucos, para lá da colina do mesmo nome que a separa das termas, estavam previstas zonas habitacionais, zonas desportivas, escolares e comercial onde o complexo termal seria ampliado e valorizado” ladeando o estabelecimento, é proposto a construção de uma residencial, uma estalagem e um parque infantil. Para grande parte da área da quinta, e com ligação directa com o equipamento de equitação, são propostos percursos pedonais e a cavalo” (Mangorrinha,2000). Apesar do parecer positivo da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização, nunca se chegou a concretizar e hoje a Quinta da Macheia é atravessada pelo Itinerário Complementar IC1.
Voltando ao texto de Mangorrinha (2000), um dos grandes problemas destas termas era: “ a poluição do rio Sizandro mantém-se, fornecendo um ambiente carregado de cheiros nauseabundos provocados por esgotos domésticos e industriais. O perigo situa-se, principalmente, junto à mina de lamas termais, já que o muro de separação desta com o leito do rio está em deficiente estado de conservação, perdendo-se parte do recurso” (Mangorinha, 2000).

Em 1996 foi efetuado um novo furo de captação de águas termais, comprovativo de que as características hidromedicinais das águas se mantinham, projetava-se a construção de um novo balneário, destinando as instalações existentes para outros fins: “…já sabemos que temos água suficiente e de qualidade para expandir o negócio”, dizia Hélder Pinto Santos, administrador da sociedade formada por herdeiros da Família Neiva, ao repórter do JN em 1 de Agosto de 1999, justificando a razão porque não abriam as termas nesse ano, mas não voltaram a abrir até ao presente (2006), nem foi iniciada nenhuma obra dentro da propriedade.
Entretanto o rio Sizandro foi objeto de grandes obras de regulamentação das suas margens e tratamento de afluentes.


Embora as termas não tenham data prevista de reabertura, o seu parque continua a ser local eleito para passeios e lazer dos habitantes da região.

Alojamentos

Pensão das Termas dos Cucos, com 31 quartos encontra-se encerrada, alojamentos só na vizinha cidade de Torres Vedras, com uma razoável oferta de hoteleira.


Recortes

JN- 1/8/99 – (Paulo Pinto) Termas dos cucos fecham para obras – É a primeira vez em mais de cem anos que as portas do balneário encerram

Bibliografia

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