18 dezembro 2011

MONUMENTOS NACIONAIS DE TORRES VEDRAS - ERMIDA DE NOSSA SENHORA DO AMIAL

Foto de Júlio Vieira, 
in:  TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 1ª ed., Torres Vedras, 1926

O QUE DIZ JÚLIO VIEIRA SOBRE A ERMIDA 
DE NOSSA SENHORA DO AMIAL

«Não se deve esquecer na ordem de antiguidade, a pequena igreja ou ermida de Nossa Senhora do Amial ou Nossa Senhora do Pinheiro, que é de fundação tão remota que a tradição nos diz ter sido a primeira freguesia que teve esta vila, antes de se es­tabelecer a matriz de Santa Maria, facto citado entre outros, por Carvalho, na sua Corografia (livro II, tratado I)198.
Possivelmente a sua origem teria sido goda e assim o indica o manuscrito a que tenho feito alusão, narrando que por virtude de uns letreiros por detrás de uns painéis que levaram à descoberta de umas relíquias dentro do altar-mor, se infere «ter no dito sítio sido igreja no tempo em que se perdeu a Hespanha, vivendo nela os godos».
Esta ermida é sagrada, como se vê pelas pedras com cruzes em relevo metidas nas paredes interiores da mesma.
Deve ter sofrido uma reconstrução importante em 1565, data esta que se vê esculpida na cantaria de uma das janelas de­baixo do alpendre199, as quais foram tapadas, não se sabe quando, nem mesmo já se sabia no princípio do século XVIII, segundo o testemunho do citado manuscrito de 1729.
Em frente da porta principal, debaixo do alpendre, está uma sepultura antiga, cujas letras sumidas ou apagadas de todo se não podem ler, mas diziam o seguinte, conforme felizmente nos con­serva o aludido manuscrito:
Aqui jaz Álvaro Cayado Vassalo del-Rey D. João o segundo o qual se finou a nove dias de Novembro de 1524.
Comprova-se, pois, que até àquela época, ainda existia o an­tigo foro de vassalo.
No corpo da igreja existe uma pedra sepulcral, conforme o desenho que se vê no fim do capítulo.
A porta lateral de ordem dórica é muito interessante. A igrejazinha teve outra reconstrução também importante que data de 1719, ano em que foi feito o actual altar de Nossa Senhora de Rocamador, cuja imagem até ali estivera metida em um nicho da parede.
Edificada sobre uma pequena elevação de terreno, para cujo adro se subia por muitos degraus, está hoje, pode dizer-se, nive­lada com a estrada que lhe fica fronteira, mercê dos sucessivos aterros que aquele sítio tem sofrido.
Foi nas casas desta ermida que se instituiu o mais antigo hospital que se conhece ter existido em Torres Vedras, conforme no capítulo seguinte vai relatado.»

(pp 157/158 da 2ª edição da obra de Júlio Vieira, LivrodoDia e Associação do Património de Torres Vedras, Torres Vedras, 2011)

NOTAS:

198 A mesma tradição vem apontada no Dic. Geogr. de Port., do Padre Luís Cardoso,
T. XXXVII, p. 884 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo).
199 O alpendre foi feito nessa data.

Pedra tumular existente na Igreja de N. S.ª do Amial 
(TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 2ª ed. p. 160)


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Postal antigo, anos 30 do Séc XX

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Capela de Nossa Senhora do Amial (mon. nac.)

«Esta venerável capela, de remota fundação medie­val, foi reconstruída por completo em meados do sé­culo XVI, época que melhor se testemunha nas facha­das e em certos elementos do interior.
É tradição ter sido aqui instituída a primeira fre­guesia de Torres Vedras, antes portanto da matriz de Santa Maria do Castelo, e foi seguramente em casas suas que se estabeleceu o mais antigo hospital da vila. Do passado mais antigo subsiste apenas a inespe­rada sineira gótica, a velha imagem policromada de Nossa Senhora de Rocamador (século XIV?) e uma curiosa laje sepulcral com escudo de tipo de cadeado — em campo uma quaderna de crescentes-— e atra­vessado por uma espada. Ao lado do escudo, igual­mente esculpido, um estandarte medieval.
Anteriormente à grande reconstrução quinhentista, há dois muito interessantes vestígios do primeiro quar­tel do mesmo século XVI. Um deles é a pia de água benta, recortada e de lavor de tipo manuelino. O outro passará mais despercebido, mas não é menos impor­tante, reclamando sempre a sua cuidadosa conserva­ção, tanto mais que será parte mínima de uma decora­ção já estendida decerto a todo este banco de alvenaria como ao outro da parede oposta. Trata-se de um pe­queno e admirável rodapé de azulejos mudéjares ditos hispano-árabes, de estrelas geométricas e belos esmal­tes. De manter igualmente em qualquer futuro restauro os retábulos setecentistas, quer o do altar do lado do Evangelho, onde está a imagem de Nossa Senhora de Rocamador, excelente obra de talha datada da remo­delação de 1719 e possivelmente da mesma oficina de alguns altares da Igreja de S. Pedro, quer o do altar--mor, mais tardio e onde se venera a imagem policro­mada de Nossa Senhora com o Menino. Pertencem às mesmas obras de 1719 os arcos de mármores, tanto de um como de outro altar. A outra pia de água benta, oval, de mármore rosado, datará também de 1719.
Mas, certamente, o que avulta são as obras à roda de 1550-1560, datas autorizadas pelo estilo arquitec­tónico da reconstrução e pelas inscrições: na parede do lado do Evangelho, uma lápide de 1551; no pavi­mento da capela-mor, uma laje sepulcral também de 1551, de Ana de Aguiar, mulher do licenciado João de Camões, fidalgo da casa real; e outra laje datada de 1552, no pavimento da pequena nave. Cita-se ainda a data de 1565 numa janela do alpendre.
Típica desta época é a galilé, de composição paladiana, de arco redondo ao centro e colunas do dórico.
Do recheio desta valiosa capela fazia parte a série de quatro tábuas, S. Pedro, S. Paulo, S. Lourenço e S. Sebastião, pinturas de meados do século XVI que hoje se expõem no Museu Municipal.
No altar-mor está de há muito a velha imagem de madeira, bastante repintada, de S. Vicente, que se vene­rava na derruída ermida do Forte, imagem que é uma relíquia e, ao mesmo tempo, uma peça de valor icono­gráfico a reunir às várias representações do padroeiro da cidade de Lisboa.»

(Texto do livro: MONUMENTOS E EDIFÍCIOS NOTÁVEIS DO DISTRITO DE LISBOA - Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço; Junta Distrital de Lisboa, 1963.)

N. S.ª do Amial. Pia de água benta, à entrada, do lado da epístola.
In: APONTAMENTOS SOBRE O MANUELINO NO DISTRITO DE LISBOA,
Fernando Pereira Bastos, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1990

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Fotos (C) ADDPCTV












17 dezembro 2011

PATRIMÓNIOS 19 (in: BADALADAS - 9 DEZEMBRO 2011)



Foto (C) Moedas Duarte

É ÚTIL LEMBRAR A IMPORTÂNCIA TURÍSTICA DO CASTELO
NO CONTEXTO DO CENTRO HISTÓRICO

PAULO MOREIRA
(Arquitecto)

O Plano de Salvaguarda do Centro Histórico já é passado. Teve uma função importante ao inventariar e preservar um núcleo patrimonial da cidade. Mas durou seguramente tempo demasiado para quem ansiava pela reabilitação daquele espaço torriense.  
Estamos agora numa nova fase, a do Plano de Pormenor e de Reabilitação. A designação, só por si, implica uma fase activa de intervenção.
Em parceria, e bem, promoveu a Câmara um programa de acção que designou de «Torres ao Centro» tendo em conta o lançamento de um conjunto de iniciativas integradas para a implementação deste plano; para além de organizar alguns foruns de discussão e apresentação de projectos que ocorreram na primeira quinzena do passado mês de Outubro. Para tal fez convites à participação de munícipes e entidades interessadas, e colocou alguns anúncios na imprensa.
Nos tempos que correm, face às dificuldades por que passamos – e com evidente definhar do tecido comercial a que assistimos no centro da cidade – julgo corajosa esta iniciativa do município por constituir a resposta possível para a procura de oportunidades em tempo de crise.
Serão provavelmente estas iniciativas potenciadoras de futuras pistas para o desenvolvimento sustentável que desejamos.
Contudo, embora todos os processos tenham de começar por algum lado, torna-se premente um maior envolvimento da comunidade torriense. O Centro Histórico é território dos residentes, mas é sobretudo uma parte da cidade que deverá envolver todos. É fundamental usá-lo como zona integrante da cidade, ao invés de um canto de quintal esquecido.
Será pois importante que o programa «Torres ao Centro» se afirme como uma marca. Tenha uma maior divulgação junto da comunidade e seja portador de uma mensagem forte que a todos mobilize.
No contexto do Centro Histórico torna-se imperioso lançar um concurso de ideias para a utilização turística do Castelo – apesar de há anos atrás muito se ter falado sobre este desiderato – não esquecendo que este espaço poderá constituir uma âncora que permita potenciar a atracção do Centro Histórico, quer como destino de visita, quer para o desenvolvimento do comércio local.

10 dezembro 2011

À VOLTA DO CASTELO






















Existem tantas perspetivas das ruínas do Palácio dos Alcaides ( que por comodidade chamamos "castelo") quantas as paragens que fizermos num percurso circular em seu redor. Isto porque, como já relatava Fernão Lopes, o castelo está assente "numa formosa mota" que parece ter sido feita de propósito para nela se construir o que lá vemos.
Se juntarmos a esses olhares as diferentes horas do dia, bem como a diversidade de luz ao longo do ano, teremos possibilidades infinitas de fixarmos imagens sempre renovadas. De uma beleza cativante. 

(Fotos tiradas entre setembro e novembro de 2011 pelo nosso associado J Moedas Duarte)

07 dezembro 2011

PASSEANDO EM TORRES VEDRAS

Imagens da cidade numa destas tardes novembro...


Pátio Amarelo

 Casa da família Clemente

Travessa para o Largo Machado dos Santos







Torre da Igreja de Santiago


O "Castelo" visto de Santiago