26 julho 2011

APRESENTAÇÃO DAS OBRAS DE RESTAURO DOS FORTES DE S. VICENTE E DE OLHEIROS - O TELÉGRAFO

Telégrafo de sinais no Reduto 21 do Forte de S. Vicente
(Foto J Moedas Duarte)

Aceitando o convite que nos foi endereçado, comparecemos ao encontro marcado para hoje pela Câmara Municipal de Torres Vedras, na ermida de S. Vicente, para a apresentação das obras de requalificação dos Fortes de S. Vicente e de Olheiros. Ver a notícia.

Aplaudimos a obra realizada e ficamos na expectativa da fase seguinte, com a construção de um Centro de Acolhimento para os visitantes.
Vimos o  telégrafo de sinais em acção, de que damos conta nas fotos. Belíssima iniciativa, que vem enriquecer o nosso património histórico.
Este equipamento ficará guardado na ermida e será utilizado em futuras sessões de demonstração, em datas a anunciar.

Imagens da manobra do telégrafo:










* * * * *
Forte dos Olheiros
-  a cerca de 300 m a Poente do Forte de S. Vicente -
depois das obras de restauro concluídas em Junho de 2011





Paiol. Será musealizado no seu interior.

* * * * *

Forte de S. Vicente
depois das recentes obras de restauro




Ruínas da casa do guarda. Ao lado será construído o Centro de Acolhimento dos visitantes,
com um terraço panorâmico.

Um dos paióis, feito no antigo moinho


Bem visíveis as canhoneiras e os grandes traveses de protecção no interior do Forte

Ermida (restaurada nos anos 80) e muro de protecção, com fendas de tiro

Traveses e paióis do Reduto 20

Ermida de S. Vicente, no reduto 20

Panaroma de Torres Vedras, para o lado nascente, a partir do Reduto 20
do Forte de S. Vicente.
Na linha do horizonte o ponto mais elevado é o Monte do Socorro.


Fotos: J. Moedas Duarte

23 julho 2011

O QUE RESTA DA VELHA MURALHA





 
Há meia dúzia de anos, na abertura dos alicerces para um prédio, foi posto a descoberto um troço da muralha de Torres Vedras. Era uma obra na rua Cândido dos Reis ( antiga "Rua da Corredoura"), mesmo em frente ao Chafariz dos Canos. Entendeu a autarquia, e muito bem, que aquele vestígio devia de ser preservado, e o construtor respeitou a decisão. O prédio, com três pisos superiores, foi construído e  habitado. Mas a loja ali ficou, fechada, guardada por paredes de vidro que se foram tornando opacas de sujidade, já mal se lobrigando as pedras da muralha. Tem tardado uma iniciativa que valorize aquele espaço e lhe dê utilidade cultural.

Inconformada, a Associação do Património de Torres Vedras tem vindo a trabalhar na procura de uma solução. Ela parece ter surgido agora. Um encontro com o Presidente da Junta de S. Pedro e Santiago abriu caminho a uma proposta nossa , em forma de Memorando e de um simples esboço em desenho, que lhe foi entregue há dois dias e que teve o melhor acolhimento. Entretanto a Junta fez as necessárias obras de limpeza e pintura do espaço.

Aqui os deixamos à disposição dos amigos do Património de Torres Vedras:

Esboço para o Centro Interpretativo da Corredoura

***

MEMORANDO

IDEIAS PARA UM CENTRO INTERPRETATIVO DA CORREDOURA (CIC)


1.      O Chafariz dos Canos (CC), monumento nacional do séc. XIV, único no género em todo o País, não pode ser visto como peça isolada. Tendo sobrevivido à inevitável evolução de tantos séculos, não podemos esquecer que ele fazia parte de um conjunto cujos traços hipotéticos podemos reconstituir para melhor entender a sua importância e funcionalidade. Os estudos sobre a época medieval permitem-nos ter uma ideia aproximada e fundamentada de como se articulavam os espaços públicos urbanos na Baixa Idade Média em Torres Vedras.

2.      O CC situava-se junto à entrada da mais movimentada porta da vila – na Corredoura – e é de crer que perto dele se encontravam as lojas ou tendas dos ferradores, dos albardeiros, dos correeiros, dos estalajadeiros…

3.      A pequena praça fronteira seria um lugar de bulício e movimento, onde se cruzavam  almocreves, aguadeiros, tendeiros, regatães, carregadores, clérigos, mendigos…

4.      Torres Vedras tem a sorte de possuir este raro monumento. Mas não basta mostrá-lo na sua imobilidade histórica, como que mumificado pela usura do tempo.

5.      É de toda a utilidade e pertinência a criação de um CENTRO INTERPRETATIVO (CI) deste espaço, que permita às novas gerações imaginar como seria a vida na época em que o CC foi construído.

6.      A loja fronteira ao CC, onde se pode observar um pequeno troço da muralha medieval de TV, parece-nos o local mais apropriado para a criação do Centro Interpretativo da Corredoura. Para isso a autarquia local deverá assegurar a plena posse desse espaço.

7.      O esboço que apresentamos dá uma ideia de como ele se pode organizar. Terá como peças fundamentais um conjunto de painéis informativos e uma maqueta, colocados num piso intermédio – a construir – que funciona também como varandim sobre a muralha.

8.      Nesse piso intermédio, a seguir à porta de entrada, poderá ficar um pequeno balcão e algumas prateleiras, que funcionarão como local de recepção e venda de objectos relacionados com o lugar (postais, miniaturas, folhetos, brochuras, recordações…).

9.      A presença humana regular poderá ser assegurada no âmbito do Projecto ISA da Câmara Municipal de Torres Vedras (http://www.cm-tvedras.pt/viver/assuntos-sociais/idosos/isa/)

10.   A Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras disponibiliza-se para assegurar os conteúdos históricos do CIC, bem como para ministrar Formação e dar apoio ao seu funcionamento.

11.   Sugerimos como tempo de execução o resto deste ano 2011 e o ano 2012 até ao dia da cidade, 11 de Novembro, data em que se faria a inauguração.

Apresentado à Junta de Freguesia de S. Pedro e Santiago em

TORRES VEDRAS, 20 JUL 2011

A DIRECÇÃO DA ADDPCTV

SABER MAIS SOBRE A CASA DE JAIME UMBELINO

Foto de 1923(clicar na foto para aumentar)

Ver aqui, no site da Câmara Municipal de Torres Vedras, de onde retirámos a foto:
http://www.cm-tvedras.pt/fabricadashistorias/casa/


***

Pelo interesse e oportunidade damos realce ao comentário que o nosso associado Rui Matoso deixou na nossa postagem de ontem:

«Sem pretender definir à priori uma posição a favor ou contra, acho que este caso levanta questões / dúvidas, tais como:
1- Na Casa Jaime Umbelino, enquanto património classificado como de interesse municipal, é possível fazer pinturas ou inscrições na fachada ? Se sim, teria de haver consentimento do IGESPAR ?
o Artº 41 da Lei do Património diz « Artigo 41.o
Inscrições e afixações
1 — É proibida a execução de inscrições ou pinturas em imóveis classificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação como tal, bem como a colocação de anúncios, cartazes ou outro tipo de material informativo fora dos locais ali reservados
para a exposição de elementos de divulgação das características do bem cultural e das finalidades e realizações a que corresponder o seu uso, sem autorização da entidade responsável pela classificação»
2- É interessante ver como a CMTV preverteu a lógica do Grafitti, agora parece que só a CMTV é que tem autorização para fazer Grafittis oficiais e pinturas murais (street art)...p. ex no Parque de estacionamento e na rua do Império. Enquanto isso a CMTV apagou grafittis genuínos (feitos por miúdos da rua com talento artístico) de muito boa qualidade que existiam em T. Vedras (não me refiro às garatujas, refiro-me a0s desenhos/pinturas). Ou seja, o poder político pretende ser o detentor do gosto e o produtor da "street art" ??? Um género artístico que nasceu no gueto, no underground, nos subúrbios e em meios marginais é agora praticado pelas instituições oficiais, eliminando o que restava de genuíno ?!?!
3- Estando a Casa Jaime Umbelino no limiar do Centro Histórico e por ser património classificado não deveria obedecer ás mesmas regras do Plano de Salvaguarda ?»

O CASO DA CASA DO DR. JAIME UMBELINO





Algumas pessoas têm-nos interrogado sobre o que pensamos àcerca da intervenção artística na fachada da casa que foi do Dr. Jaime Umbelino e é agora a "Fábrica das Histórias". E algumas até criticam  o nosso silêncio - entendido como passividade ou desatenção. 
Entretanto saiu no BADALADAS, em 22 de Julho,  um pequeno apontamento - Bilhete Postal - sobre o caso.
Embora já tivéssemos dado um breve esclarecimento na nossa página do Facebook, pegamos hoje no assunto de uma forma mais aprofundada.

O que se tornou polémico foi a pintura em estilo grafitti da fachada daquela casa.
Tanto quanto nos apercebemos, as críticas vieram, maioritariamente, de pessoas que desconhecem o projecto "Fábrica das Histórias", que nunca visitaram a casa ou sequer a exposição das peças que dela faziam parte.
Por outro lado, verificámos que muitas das pessoas que não reprovaram aquela intervenção conheciam o contexto em que foi realizada - a exposição de trabalhos dos alunos da Escola P. Francisco Soares, inseridos no projecto "Reivent'ar-te". E sabiam, também, que a casa vai sofrer obras de restauro e que aquela pintura seria de carácter efémero.

Pela nossa parte, Direcção da ADDPCTV,  temos de confessar que não houve unanimidade na apreciação. Fomos a imagem das diferenças de opinião que acima referimos.

Vejamos as duas razões:

1ª - as dos que não se opuseram: aquela casa não é apenas uma peça arquitectónica de valor patrimonial, parada no tempo, mumificada, feita para estar ali e ser olhada. Sendo uma casa desabitada, corre o risco de se tornar mais um imóvel a degradar-se. Dado que pertence à Câmara, há que lhe dar uso adequado. E é aqui que começa o problema: que uso? Como fazer face às despesas de manutenção? O projecto "Fábrica das Histórias" surgiu como resposta possível e muito interessante. Mas havia que lhe dar projecção, torná-la visível aos olhos de uma comunidade tantas vezes desatenta. A pintura da fachada, entregue a um artista - Gonçalo Mar -  conhecido de outras intervenções realizadas sobretudo em Lisboa, pintura de carácter efémero, de duração limitada no tempo, surgiu como forma de chamar a atenção para aquela casa e para o que vai ser o seu uso - condição da sua preservação. Em suma, entenderam não se opor desde que a fachada fosse reposta rapidamente no seu estado original.

2ª - razões dos que se opuseram: aquela casa é uma peça importante do nosso parco património arquitectónico dos finais do século XVIII. Como tal deve ser respeitada. A intervenção na fachada é um acto reprovável porque transmite a mensagem de que, para fazer publicidade ou chamar a atenção de uma actividade cultural, tudo é permitido. Para mais, tratando-se de uma exposição de trabalhos escolares, esta intervenção é profundamente deseducativa. Que diremos amanhã a um jovem que resolve pintar uma parede da Igreja de S. Pedro, por exemplo, e que nos diz que tem uma mensagem importante a transmitir? O respeito devido àquele edifício não deixa de ser violado com a desculpa de que a pintura é efémera.

Uma coisa é certa: essa pintura que foi feita nos princípios de Maio ainda hoje lá está, prolongando abusivamente no tempo uma presença cuja justificação se ligava à exposição do "Reinvent'ar-te" -  patente ao público de 7 a 27 de Maio. Já se passaram quase dois meses. Não será já tempo de repor a verdade daquela fachada, restituindo-lhe a dignidade austera que a caracteriza?

No contacto que hoje fizemos com a Câmara Municipal de Torres Vedras recebemos a informação de que tal irá acontecer no próximo mês. Ficamos a aguardar.

22 julho 2011

PATRIMÓNIOS 13

Publicado no BADALADAS em 22 JULHO 2011

O Centro Histórico no tempo das Invasões (II Parte)
A população urbana da paróquia de Santa Maria do Castelo de 1805 a 1815
João Flores Cunha
O livro dos róis de confessados de 1783 a 1815, de Santa Maria do Castelo, diz-nos que esta parte da vila está dividida em oito bairros, a saber: Bairro do Castelo a Poente, Bairro de Carcavelos, Horta Nova, Rua do Açougue dos Clérigos, Patim, Rua Detrás do Açougue Público, Rua dos Pelomes para o Castelo e Bairro do Castelo a Nascente.
               Da análise dos Registos Paroquiais e dos Róis de Confessados, dos anos de 1805 a 1815, verifica-se que estes bairros distinguem-se entre si quer pela tipologia dos fogos, quer pelo estrato social dos seus habitantes. Assim, pela Quaresma de 1810, para o número total de 92 fogos e uma população estimada de 335 habitantes, verifica-se que há no Castelo a Poente 30 fogos, um terço da totalidade, quase todos pequenos, com 3 ou 4 pessoas por fogo, das classes sociais mais modestas; em Carcavelos 16 fogos, também pequenos, onde encontramos um peixeiro, um sapateiro e um ferrador, assim como um lavrador e uma família da elite local; na Horta Nova temos um fogo de 5 pessoas, duas das quais são criados; é na rua do Açougue dos Clérigos que se encontra a maior casa de Santa Maria do Castelo, a do Capitão João Rodrigues da Costa, com ele vivem a mulher, duas filhas, um filho, quatro criados, o abegão, a mulher deste e um escravo e uma escrava; além deste, temos nesta rua mais 6 fogos, um da elite local e dois de clérigos; no Patim 3, onde sobressai o do forneiro, presumindo-se que nesse local existiria um forno público de cozer pão; a rua Detrás do Açougue, com seus 10 fogos, sendo um deles de um taberneiro, era a mais diversificada em termos sociais; na dos Pelomes, prolongamento da rua da Praça, estava situado parte do comércio da época, em mais de metade dos seus 15 fogos encontra-se referências a caixeiros, aprendizes ou criados; o Castelo Nascente tem 10 fogos, sobressaindo o de um almocreve, onde habitam entre familiares e criados oito pessoas, e nos restantes um ferrador, um forneiro, um carpinteiro e outros trabalhadores.
               Torres Vedras foi duramente afectada a partir do Outono de 1810. Nessa altura o exército aliado ocupou a vila, fazendo quartéis das Igrejas de São Pedro, de Santiago e de Santa Maria do Castelo. O exército francês colocava-se frente às linhas tendo na sua marcha impelido milhares de fugitivos. E, a fome e uma epidemia, cujas causas e origem, ainda hoje, não estão bem esclarecidas, ceifaram, na vila e no termo, centenas de cidadãos.
               A partir do quadro seguinte podemos avaliar o evoluir da população urbana de Santa Maria do Castelo no período de 1805 a 1815. O número de habitantes é presumido e foi calculado a partir dos róis de confessados e registos paroquiais. O Rol de Confessados ou Rol da Desobriga era o livro no qual os Párocos anotavam o nome dos seus fregueses obrigados a cumprir os preceitos quaresmais, a confissão e a comunhão, ou só a confissão no caso dos menores. Este livro dá-nos o número exacto de fogos habitados cada ano, pela Quaresma, em determinada paróquia e o número aproximado dos seus habitantes, pois os inocentes, as crianças de pouca idade, não são obrigados a cumprir com estes preceitos, não constando por isso do rol. Nos livros dos Registos Paroquiais encontramos os registos de baptismos, casamentos e óbitos efectuados nas Paróquias.
Quaresma de
1805
1806
1807
1808
1809
Nº de Fogos
    87
    87
    98
     88
     95
Nº de Habitantes
  363
  363
  379
   353
   379
Óbitos
     12
    13
     14
     24
       9
Baptismos
     11
    10
     12
     14
       2
Quaresma de
1810
1811
1812
1813
1814
1815
Nº de Fogos
     92
     59
    77
     84
     85
     80
Nº de Habitantes
   335
   248
  299
  319
   304
   305
Óbitos
       7
     34
     12
     11
     10
     12
Baptismos
       7   
        6
     10 
     10
       8
       8
               Verifica-se nos primeiros anos uma tendência para o crescimento populacional e de fogos, apesar de o registo de óbitos ser superior ao de baptismos, devendo-se portanto este aumento, à população vinda de fora. Durante o período da 1ª invasão há uma quebra nesta propensão, em parte pela saída de pessoas mas também pelo considerável aumento de óbitos, a que não será estranho a ocupação da vila por uma força francesa de cerca de três mil homens. Com a saída dos franceses, temos um novo crescimento em 1809, que rapidamente se inverte com a 3ª invasão, havendo na quaresma de 1811, duzentos e quarenta e dois habitantes em apenas cinquenta e nove fogos. Nesse ano os óbitos são o triplo da média dos outros anos e fuga para o interior das linhas é desmedida, pelo medo dos exércitos.
               A partir daqui a Paróquia de Santa Maria do Castelo veio apenas a recuperar lentamente sem atingir o fulgor do passado. Em 1858, quando se preparava a 2ª edição (1862) da Descrição Histórica e Económica da Vila e Termo de Torres Vedras de Manuel Agostinho Madeira Torres, Prior desta Paróquia à data das invasões, a sua população rondava os trezentos habitantes em oitenta e nove fogos.

05 julho 2011

PATRIMÓNIOS 12

Publicado no BADALADAS de 1 julho 2011


O Centro Histórico no tempo das Invasões ( I Parte)
 Os limites da Vila no primeiro quartel do século XIX

João Flores Cunha

Torres Vedras, fazendo fé nos britânicos que por aqui andaram há duzentos anos, e segundo fontes diversas, seria assim:
Uma vila bem situada no flanco de uma colina, quase a meio de um vale rodeado de montes, muitos deles com moinhos de vento. No vale vêem-se prados e vinhas que trepam pelas encostas do sul e do poente. A vila é grande, mas as ruas são estreitas, tortuosas, irregulares e sujas; as casas não têm mais que dois andares e, apesar de bem construídas e serem de pedra, são humildes e estão em mau estado. A população não excede os dois mil e duzentos habitantes, sendo poucas as famílias opulentas que aqui vivem. A vila é abastecida de água, por um pequeno aqueduto, que obtém das nascentes dum monte do lado leste. O aqueduto tem arcos sobre o rio Sizandro e sobre a estrada que vai para Lisboa pelo Sobral de Monte Agraço. Também todos os jardins têm poços. As provisões são abundantes assim como o combustível que se poderá tirar dos muitos pinhais envolventes. Quatro igrejas, outros tantos conventos e um hospital são os edifícios públicos. Poderia abrigar uma divisão de oito mil homens.
               Torres Vedras, no tempo das invasões, estava dividida em quatro paróquias: Santa Maria do Castelo, São Pedro, Santiago e São Miguel. Cada paróquia compreendia uma parte urbana e uma parte rural. Os anotadores de Madeira Torres, José Eduardo César e António Jacinto Gama Leal, em 1859, descrevem e delimitam estas paróquias. Esses limites seriam, muito provavelmente, os mesmos de cinquenta anos atrás, comparando a sua descrição com os livros de Registos Paroquiais e de Róis de Confessados da época.
               Vejamos, então, qual o espaço ocupado pela Vila nesse tempo.
               Santa Maria do Castelo tem os seguintes limites: «pelo norte toda a costa do Castello, e caminhando para o poente todas as casas da rua que desce para S. Miguel e bairro de Carcavellos, ficando só de fóra (porque pertencem a S. Miguel) uma pequena casa junto á praça dos toiros, e a parte direita da rua de Carcavellos; depois volta para o sul comprehendendo a Horta Nova, e d´ahi vem pela rua do Patim d´ambos os lados, e volta para o nascente pela rua do Açougue dos clerigos do lado esquerdo, ou norte d´ela, caminhando do mesmo lado pela rua detraz dos açougues do povo até à rua dos Pelomes, onde chega ao bèco do Quebra- Costas, e sobe por ele acima tudo do mesmo lado esquerdo até à muralha do Castello, d’onde vae fechar até ao portão d’elle.» 
               São Pedro, «os seus limites dentro da Villa são os seguintes: pelo nascente tem a rua da Cêrca começando à esquina da estrada, que vae do largo da Graça para S. João pelo lado esquerdo e segue à Corredoura; e tem pelo norte toda esta rua de ambos os lados, e vêm pela rua dos Canos até à esquina da familia dos Taváres, que é também a esquina da rua dos Pelomes da parte direita; d’ahi volta para poente por detraz dos açougues do povo só do lado esquerdo, e rua do açougue dos Clérigos do mesmo lado até á esquina, em que se volta para o Patim; e tornando atráz, vae pela rua dos Celleiros de Santa Maria de ambos os lados até ao largo do Terreirinho, aonde do lado direito chega até à esquina do Cano Real, e depois voltando atráz ao mesmo Terreirinho, segue pelo lado esquerdo, e sobe pela rua da Misericordia acima do mesmo lado até ao largo da Graça a fechar na dicta esquina da rua da Casa da Cêrca. Além disto tem também no sítio da Porta da Varzea, junto ao Poço do Retiro encravados na Freguesia de Sant-Iago 3 ou 4 fógos.»
               Santiago, «os seus limites dentro da Villa são os seguintes: pelo Norte, começa na esquina da Rua do Terreirinho, e Misericordia, vindo para Poente pelo lado esquerdo d’aquella, pelo Cano Real até ao Alpilhão, e d’ahi voltando para Sul, tudo até comprehender a Quinta dos Francos, hoje de Francisco José de Bastos e Silva, e d’ahi pela Estrada Real direito á Villa, e á Porta da Varzea (aonde ha apenas três ou quatro Fregueses de S. Pedro), e d’ahi voltando para Nascente, pela Rua da Ollaria acima, d’um e doutro lado, e d’ahi pela Rua da Misericordia abaixo, do lado esquerdo, até á esquina da Rua do Terreirinho, aonde começou.»
               São Miguel, «o seu districto na Villa é o seguinte: do lado do nascente contém a rua dos Pelomes toda de ambos os lados até á esquina do Bêco do quebra-costas, que sóbe para o Castello, e do outro lado até ás casas mysticas com a familia dos Tavares, que estão na esquina da rua dos Canos, e já são de S. Pedro; depois sóbe pelo dicto bêco do lado direito até á muralha do Castello. Do lado do poente comprehende uma pequena casa junto á Praça dos Touros a Carcavellos, e a parte direita da rua dicta de Carcavellos até á estrada, que vem da Horta Nova. Do sul comprehende o bairro de Sancta Anna todo no Largo da Graça do lado direito da estrada para S. João, e do lado esquerdo da que vae para Lisboa.»
               Seriam estes os limites da vila no primeiro quartel do século XIX. E, se nesta época “Centro Histórico” fizesse parte dos conceitos do município torriano, ele estaria muito provavelmente confinado à parte urbana da Paróquia de Santa Maria do Castelo.