29 dezembro 2012

IGREJA DE SANTIAGO: boa notícia!




Ela veio ontem no Diário da República, 2ª série, nº 251 - 28 de dezembro de 2012, com a publicação do Anúncio nº13818/2012. Nele se dá conta de que a Direcção-Geral do Património Cultural propõe para a Igreja de Santiago a classificação de Monumento de Interesse Público com a respectiva Zona de Protecção. Legalmente há um prazo de 30 dias úteis para consulta pública do processo administrativo, após o qual, se não houver observações apresentadas, será publicada a classificação no Diário da República.

Texto do ANÚNCIO:

Anúncio n.° 13818/2012
Projeto de decisão relativo à classificação da Igreja de Santiago, na freguesia de São Pedro e Santiago, cidade e concelho de Torres Vedras, distrito de Lisboa, como monumento de interesse pú­blico (MIP).
1 — Nos termos dos artigos 23° e 44." e para os efeitos dos artigos 25.° e 45° do Decreto-Lei n ° 309/2009, de 23 de outubro, faço público que, com fundamento em parecer da Secção do Património Arquitetônico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura (SPAA — CNC), de 17/12/2012, é intenção da Direçâo-Geral do Património Cultural propor a S. Ex.* o Secretário de Estado da Cultura a classificação, como Mo­numento de Interesse Público (MIP) da Igreja de Santiago, na freguesia de S. Pedro e Santiago, concelho de Torres Vedras, distrito de Lisboa, conforme planta de delimitação anexa, a qual faz parte integrante do presente anúncio.
2 — Nos termos dos artigos 27 ° do Decreto-Lei n.° 309/2009, de 23 de outubro, os elementos relevantes do processo estão disponíveis nas páginas eletrônicas dos seguintes organismos:
a)      Direção-Geral do Património Cultural, www.rjatrimoniocultural.
gov.pt,
b)        Câmara Municipal de Torres Vedras, www.cm-tvedras.pt.
3 — O processo administrativo original está disponível para consulta (mediante marcação prévia) na Direção Geral do Património Cultural, no Palácio Nacional da Ajuda, Ala norte, 1349-021 Lisboa.
4 — Nos termos do artigo 26° do Decreto-Lei n.° 309/2009, de 23 de outubro, a consulta pública terá a duração de 30 dias úteis.
5 — Nos termos do artigo 28.° do mesmo decreto-lei, as observações dos interessados deverão ser apresentadas junto da Direção Geral do Património Cultural, que se pronunciará num prazo de 15 dias úteis.
6 — Caso não sejam apresentadas quaisquer observações, a classi­ficação e a ZP serão publicadas no Diário da República, nos termos do artigo 32° do diploma legal acima referido, data a partir da qual se tomarão efetivas.
7 — Aquando da publicação referida no número anterior, os imóveis incluídos na ZP ficarão abrangidos pelo disposto nos artigos 36°, 37.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, e no artigo 37° do Decreto-Lei n.° 309/2009, de 23 de outubro.
17 de dezembro de 2012. — A Diretora-Geral do Património Cultural, Isabel Cordeiro.

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Recordamos que a iniciativa da classificação da Igreja de Santiago partiu do Departamento de História da Escola Secundária de Henriques Nogueira de Torres Vedras com o apoio da Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras. Elaborado  o projecto nos termos da lei, foi apresentado às autoridades competentes, de que resultou um Despacho de abertura em 15/10/1997.

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Texto da "Nota artística" retirada do site do IGESPAR (Instituto de Gestão do Património Arquitectónico):

«A freguesia de São Pedro e Santiago resulta de união de duas freguesias distintas, ambas de longínqua origem, e testemunhas da antiguidade da refundação cristã de Torres Vedras, no século XII. A cada orago respeita um templo, sendo que o de São Pedro constitui matriz da sede de concelho.

A actual igreja de Santiago resulta da reconstrução quinhentista de um edifício primitivo, tendo sofrido ainda várias obras de remodelação, nomeadamente no século XVIII, provavelmente exigidas pela acção danosa das cheias do rio Sizandro, que durante o Inverno inundavam a parte baixa da vila. Da primeira campanha de Quinhentos restam alguns janelões. contrafortes, e o portal principal, de arquivoltas redondas inteiramente cobertas por lavores manuelinos. Na fachada, datada da remodelação mais tardia, rasga-se ainda uma janela de verga recta encimada por óculo redondo, a eixo com o referido portal. Divide-se em três panos, sendo o central rematado por frontão circular com cornija contra-curvada, e o direito constituindo o corpo da sineira, vazada por frestas redondas.

O interior é coberto por abóbada de berço de caixotões na nave, única e muito larga, e abóbada de cruzaria simples na capela-mor, sendo esta revestida com grandes silhares de azulejos setecentistas. Aí se encontra um retábulo de talha, com colunas salomónicas. assente sobre friso de mármores embutidos. Do acervo da igreja, hoje bastante reduzido, destaca-se a pia baptismal, semelhante à da Igreja de Santa Maria do Castelo, e a escada de caracol do coro alto, em pedra, ambos do século XVI. O cadeiral do coro constitui um bom exemplar de talha maneirista, datado de 1634 e coevo do interessante púlpito de mármore que enriquece a nave. Refira-se por fim o conjunto de pinturas murais descobertas na década de oitenta do século XX, cobrindo o tecto da igreja, e até então tapadas por uma camada de estuque. | SML»

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Fotos do interior da Igreja, 
em Junho de 2012


Vista geral a partir do Coro alto.
A nave da Igreja está a ser utilizada como espaço de reuniões e catequese pela Paróquia.

Pormenor da Capela Mor


Outra visão geral. 

Ao contrário do que diz a "nota artística" acima transcrita, as pinturas descobertas nos anos 80 do séc. passado, que estavam escondidas sob uma capa de estuque, não estão no tecto mas sim na parede norte da nave, onde se inscreve o arco de entrada da Capela Mor




Púlpito de mármore



Coro alto




 Cadeiral em estado de degradação acentuada

Braço de suspensão de lanterna




Portal manuelino


17 dezembro 2012

SINALÉTICA MONUMENTAL

É um assunto a merecer a melhor atenção por parte dos responsáveis. A zona histórica de Torres Vedras carece de uma sinalética adequada que cumpra a dupla função de orientar e informar os visitantes.
Em relação ao Castelo, esse problema está a ser estudado e a Associação do Património foi solicitada a dar a sua opinião. Esperamos que, lá para a Primavera, haja novidades.
 Quanto ao Centro Histórico, parece que também há projectos mas nada mais sabemos.

Neste Verão tivemos oportunidade de dar uma volta por Castelo de Vide e Marvão e, de caminho, demos uma saltada a Valência de Alcântara, dez km para lá da fronteira com Espanha.


Em conversas com amigos apercebemo-nos de que nas  viagens pela Espanha raramente paramos nas cidades de fronteira. E no entanto elas merecem visita demorada. É o caso desta cidade  que faz parte da  província de Cácerescomunidade autónoma da Estremadura, onde nunca tínhamos estado.

Vale a visita. Neste momento o que nos interessa focar é a sinalética que encontrámos na zona histórica: muito completa e variada. Desde as plantas fáceis de consultar até aos painéis informativos. Deixamos alguns exemplos, esperando que em breve possamos ver algo de semelhante em Torres Vedras.













Ao lado da porta está uma placa a informar acerca dos brasões que se vêem ao lado da janela.





 Pequenas palcas que vão indicando o caminho para os monumentos assinalados com um nº na Planta da Zona Histórica.












06 dezembro 2012

SETE POEMAS À LUZ




A Diana Coelho e o Luís Filipe Rodrigues disseram "sete poemas à luz" - um momento muito bonito do programa comemorativo do Centenário da Luz Eléctrica em Torres Vedras ( 1912 / 2012), às portas dos Paços do Concelho.
O Pinto Gouveia estava atento e fixou estas imagens. Obrigado.

Muitas pessoas pediram-nos os poemas que lá foram ditos. Aqui ficam. Foram coligidos pelo Luís Filipe Rodrigues.

* * *

SETE POEMAS À LUZ


1.
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm vida própria
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem nos olhos do homem.

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca.

Mário Cesariny, in "Pena Capital"

2.
Ah! Querem uma luz melhor que
a do Sol!
Querem dias mais dias do que este!
Querem praça mais bela do que esta
que vejo!
A mim este Sol, esta praça, este dia contentam-me.
Mas, se acaso me descontentam,
O que quero é um sol mais sol
que o Sol,
O que quero é praças mais praças
que esta praça,
O que quero é dias mais dias
que este dia para poder celebrar tudo em cada momento –
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

3.
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.



4.
Amo-te nesta ideia nocturna da luz nas mãos
E quero cair em desuso
Fundir-me completamente.
Esperar o clarão da tua vinda, a estrela, o teu anjo
Os focos celestes que a candeia humana não iguala
Que os olhos da pessoa amada não fazem esquecer.
Amo tão grandemente a ideia do teu rosto que penso ver-te
Voltado para mim
Inclinado como a criança que quer voltar ao chão.

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

5.
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta, 
Em que as cousas têm toda a realidade que podem ter, 
Pergunto a mim próprio devagar 
Por que sequer atribuo eu 
Beleza às cousas. 
Uma flor acaso tem beleza? 
Tem beleza acaso um fruto? 
Não: têm cor e forma 
E existência apenas. 
A beleza é o nome de qualquer cousa que não existe 
Que eu dou às cousas em troca do agrado que me dão. 
Não significa nada. 
Então por que digo eu das cousas: são belas? 
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver, 
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens 
Perante as cousas, 
Perante as cousas que simplesmente existem. 
Que difícil ser eu próprio e não ver senão o visível! 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXVI"


6.
Meus olhos vêem melhor se os vou fechando.
Viram coisas de dia e foi em vão,
mas quando durmo, em sonhos te fitando,
são escura luz que luz na escuridão.
Tu cuja sombra faz a sombra clara,
como em forma de sombras assombravas
ledo o claro dia em luz mais rara,
se em sombra a olhos sem visão brilhavas!
Que benção a meus olhos fora feita
vendo-te à viva luz do dia bem,
se a tua sombra em trevas imperfeita
a olhos sem visão no sono vem!
Vejo os dias quais noites não te vendo,
e as noites dias claros sonhos tendo.

William Shakespeare, in "Sonetos (43)"

7.
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little light
una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.

 Jorge de Sena (in Fidelidade, 1958)