28 janeiro 2022

LOJAS COM HISTÓRIA - Página PATRIMÓNIOS - 28 JANEIRO 2022

 

Lojas com História

Pedro Fiéis⁕

Professor de História

 

Os monumentos são naturalmente o espelho maior da história de uma cidade, no entanto, atualmente o Património embrenha-se por outras vertentes que o tornam mais abrangente. Não é meramente manter vivo o passado, ou sequer agarrarmo-nos à ideia do antigamente, é sim projetar uma identidade para o futuro, recolher memórias daquilo que fomos, para que gerações futuras conheçam de onde vêm. A necessidade de uma identidade própria advêm de um mundo global em que vivemos e de uma economia demasiado alicerçada no turismo, tendo a sua massificação alterado de vez a face dos Centros Históricos. O espaço urbano transforma-se fruto das necessidades contemporâneas e novas centralidades são criadas, mas, simultaneamente, não se pode pretender ter o velho casario apenas como cenário teatral, é necessário devolver-lhe vida, ou assistir impávidos à sua ruína.

Assim, o projeto “Lojas com História” surgiu em Lisboa, em fevereiro de 2015, dada a premente necessidade de salvaguardar esse símbolo urbano irrepetível e de o dinamizar face à concorrência e fatores de atração das grandes superfícies. Tratava-se de proteger todo esse importante tecido económico da especulação imobiliária e, ao mesmo tempo, divulgar o extenso património, com uma história igualmente única, de atividades artesanais que dificilmente ressurgem num panorama de marcas internacionais e de produtos descartáveis.

Uma estagnação em décadas recentes levou ao lento declínio de muitos, uns fruto de uma obsolescência da qual não souberam sair, outros porque a concorrência das tais marcas internacionais era demasiado forte para lhe poderem resistir, perdendo-se desta forma toda uma importantíssima herança e, principalmente, uma memória afetiva que intrinsecamente nos ligava a tais locais. A muitos surgirá de imediato a lembrança de um local, seja pelo que lá se vendia, seja pelos cheiros ou até pelo peculiar mobiliário.

Vivemos, repito, num planeta em profunda transformação, daí o programa anunciar no preâmbulo a necessidade de “preservar e salvaguardar os estabelecimentos e o seu património material, histórico e cultural” e por outro lado, “dinamizar e reativar a atividade comercial, essencial para a sua existência”, ou seja, não é somente manter artificialmente uma loja, é dar-lhe uma perspetiva de futuro assente no seu passado.

Um passo fundamental foi a Lei n.º 42/2017, de 14 de junho. Pegando naquilo que já era o trabalho de base feito em Lisboa, ficou consagrada, por exemplo, a proteção no arrendamento por um período transitório de dez anos, a isenção de IMI para os proprietários ou a dedução em sede de IRS de despesas com obras de conservação, acrescidas de 10% do valor gasto.

Por ser uma das entidades reconhecidas por esta lei como podendo iniciar o processo de classificação, desde há algum tempo que a Associação Defesa do Património vem a realizar um levantamento deste comércio de rua, ícone daquilo que outrora foi uma das grandes atividades económicas da urbe, marca da ruralidade do território, miscelânea de repositórios, onde tudo se vendia, onde para tudo havia um conselho amigo, sabedoria que se transmitia a cada cliente.

Muito já se perdeu, outro tanto corre o perigo de desaparecer, esse pouco que resta é crucial defender. Numa parceria com a OesteCim e a Câmara Municipal, foram selecionados três espaços que cumprem largamente os pressupostos contidos na lei, como linha de frente para futuras adesões, nomeadamente terem mais de 25 anos de existência, o significado para a história comercial da cidade, ou a salvaguarda e divulgação de acervo e espólio próprio.

Esta é uma corrida contra o tempo, assim estamos cientes, ao mesmo tempo esperançosos, pois se for cumprido o prometido apoio de modernização administrativa, ao nível de obras e uma boa divulgação, com roteiros somente ligados a este tipo de comércio, acreditamos que poderão ter futuro, quer relacionado com as novas gerações, quer com o dito turista, continuando com a venda de produtos únicos, de uso atual, marcas que cumprem as regras da produção local e da sustentabilidade, todo um novo paradigma que nos tem de nortear.

Será este, assim se espera, um primeiro passo que motive outros proprietários a aderirem. Brevemente também as Juntas de Freguesia, bem como outras Associações locais com um importante papel nas aldeias, serão igualmente chamadas a motivarem novas candidaturas, com a ressalva de – o que não funciona, dificilmente encontrar neste programa uma boia de salvação.

Pode-se consultar online a página: https://www.comerciocomhistoria.gov.pt/, com informações variadas, incluindo a legislação, faltando ainda a criação de um dos grandes pressupostos do programa, o Inventário Nacional Comércio com História, mais uma importante ferramenta na sua divulgação. Não abandonemos este Património relevante.

 

⁕ Presidente da Direcção

da Associação para a Defesa e Divulgação

do Património Cultural de Torres Vedras

 

 





 

 













 

AINDA O CASTELO - Página PATRIMÓNIOS | 17 Dezembro 2021

 


Em 3 de Dezembro de 2021, o Badaladas publicou uma página com um artigo de opinião, da autoria de João Pedro Canário, que contestava o teor dos artigos sobre o Castelo que a Associação do Património publicara nos dias 6 e 26 de Novembro de 2021:


...................

A nossa resposta foi publicada em 17 de Dezembro de 2021:


            AINDA O CASTELO

RESPOSTA A UM FAZEDOR DE OPINIÃO

 

Na edição do Badaladas de 3 de Dezembro p.p. entendeu o sr. João Pedro Canário Lucas (JPCL) – que a si mesmo se intitula opinion maker na sua página pública do facebook – opinar sobre o Castelo de Torres Vedras, em resposta aos dois textos por nós publicados sobre o mesmo tema, na página “Patrimónios”, em 5 e 26 de Novembro.

É seu direito cívico. Se o sabe usar bem, é o que veremos.

O jovem articulista parece não ter entendido a nossa intenção, expressa logo no início – em que dizíamos não pretender “contestar, antes contribuir para uma reflexão mais sustentada e informada acerca do mais visível monumento torriense” – e assumiu uma atitude de confrontação, acusando-nos de amordaçar o debate sobre o Castelo e termos como objectivo “silenciar opiniões diferentes e trancar a sete chaves este assunto para sempre”.  Reforça a acusação dizendo que “nos julgamos donos da verdade” e ocultamos “propositadamente” algo que ele anuncia, triunfalmente, como a solução irrefutável para a reconstrução do Castelo. Empolgado, culmina a acusação atribuindo-nos uma mentira – que ele vem desmascarar em nome da sua verdade.

Repudiamos a insolência com veemência enérgica – mas pedagógica paciência. Bem sabemos que os verdes anos sempre foram causa de intervenções impetuosas, marcadas pela luz ofuscante da ilusão. Faz parte do crescimento e, não raro, trazem para o todo social a generosidade de ideais que os mais velhos, por vezes, tendem a menosprezar. Tudo isso sabemos e bem gostaríamos de saudar o jovem João Pedro como alguém que percebeu que os dois artigos escritos por nós sobre o Castelo não eram um dogma, antes o pontapé de saída para o necessário debate que ele se abalançava a retomar. Mas não foi isso que fez. O teor do seu texto mostra que optou por mascarar a incompreensão do que leu com ataques despropositados. Releia o sr. JPCL o que escreveu e reconheça, com humildade que se excedeu, foi longe de mais. Tantas certezas opinativas só o descredibilizam e tornam inútil o que podia ser um contributo culturalmente válido.

Vejamos mais de perto.

O articulista, após dissertar sobre a notoriedade do monumento e a sua carga identitária para os torrienses – um ex- Libris que não brilha – e de lamentar o estado de ruína e abandono, por falta de visão, lança-se com denodado entusiamo à exortação da ideia da reconstrução do castelo, através de uma requalificação ambiciosa, que assim se constituiria como referência a nível nacional, polo de atracção capaz de abrir Torres Vedras ao mundo (sic). E, para que não se fique no abstrato, adianta que aquele sítio representa um palco único, para eventos, concertos e actividades culturais (feiras medievais, recriações históricas) devolvendo-o à cidade. Cita exemplos de outros castelos requalificados –  Leiria e Ourém – revelando completo desconhecimento dos respectivos historiais de conservação e reconstrução – e acenando com o recurso aos fundos europeus para este investimento estratégico. Na sua prosa torrencial proclama que é urgente dar voz aos torrienses, através de inquérito, concurso de ideias, onde o debate não pode continuar amordaçado!

A GRANDE CONFUSÃO

O ponto essencial da discórdia que parece motivar o empolgado texto de J.P. Canário Lucas, reside na nossa afirmação de que não existem dados suficientes para se proceder a uma reconstituição credível do nosso castelo. E baseia a sua crença na visualização de um vídeo produzido para a Câmara Municipal como parte da exposição didáctica que integra o Centro Interpretativo do Torreão do Castelo, inaugurado em 2013.

Esse vídeo – tecnicamente bem produzido por uma empresa torriense (Slingshot) – tem conteúdos cujos autores são pessoas bem nossas conhecidas: Carlos Cunha (infelizmente falecido recentemente) e Isabel de Luna – um e outro, associados da ADDPCTV –, com a participação do arq. Jorge Martins, autor dos desenhos. Esta equipa trabalhou vários anos na investigação da História do Castelo. Acompanhámos esse percurso, fomos dos primeiros a ver o documentário e a felicitar os autores sobre o seu estudo e a proposta do que terá sido a configuração do Paço dos Alcaides, construído no início do século XVI, pelo alcaide da vila. Estudo esse que se baseou no cruzamento de dados arqueológicos – as ruínas ainda visíveis no terreno – com alguma, escassa, informação escrita e com as características de outros edifícios coevos, obras de Francisco Arruda,  a saber: o castelo de Évora-Monte e o paço do castelo de Vila Viçosa (não confundir com o grande Paço Ducal dos Duques de Bragança). Trabalho complexo, que envolveu muita pesquisa documental, conhecimento das tendências da arquitectura militar da época e das pedras restantes do castelo. Isto porque o referido paço foi construído numa fase de transição estilística, na passagem do século XV para o XVI, conjugando as funções de residência nobre com as novidades da arquitectura militar oriundas da Itália renascentista.                                                   

Mas, não obstante a qualidade desta interpretação, bem sustentada do ponto de vista histórico, ela não deixa de ser uma proposta, dadas as dificuldades de leitura do conjunto arruinado, destinada a dar noção aproximada aos visitantes de como seria o Paço na sua origem,. 

Sublinhamos: aquele vídeo de dez minutos constitui uma leitura plausível das ruínas e dos escassos documentos existentes, baseando-se na metodologia historiográfica da articulação de "sinais indiciários". Não é um documento histórico. É uma hipótese de trabalho, uma proposta visual a partir desses sinais. Faz conjecturas, suposições. As quais, transpostas para o desenho, parecem atestar uma “verdade” – que ninguém sabe, insofismavelmente, qual seja. Não somos nós que o dizemos, é a realidade das coisas que o impõe. Muitos aspectos arquitectónicos permanecem por esclarecer. Tudo o que se refere à parte superior do edifício – a platibanda ameada, a localização de alguns vãos, a pendente dos telhados, as chaminés, etc.– é completamente desconhecido. E isto para não falar da própria estrutura do edifício quanto às suas funções de habitação, com instalação da respectiva criadagem, guarnição militar, etc. E há que ter em conta que aquilo que restou e se encontra visível corresponderá, grosso modo, a apenas cerca de uma quarta parte do edificado. O que quer dizer que teríamos que inventar, e inventar muito, caso houvesse a intenção de reconstruir. E será que valeria a pena? É uma questão para debates futuros. Cá estaremos para participar, como sempre.

CONCLUINDO

Sr. João Pedro Canário Lucas: mantemos que não existem elementos documentais anteriores ao terramoto que possam sustentar, nem de longe, uma reconstituição historicamente credível do Paço dos Alcaides.

 

 


A gravura que ilustra este texto, de meados do séc. XIX, – provavelmente uma das mais antigas que se conhecem –mostra como muitas outras, o castelo arruinado, quase como o vemos hoje. Não são conhecidas plantas nem alçados, nem gravuras, anteriores ao terramoto de 1755 e às Linhas de Torres.

Lamentamos a deserção para Espanha do último alcaide Alarcão, em 1640, deixando o castelo ao abandono. Como temos pena do incêndio no edifício da Câmara, no séc. XVIII, que destruiu parte significativa dos documentos históricos. Deploramos o grande terramoto, assim como as invasões napoleónicas. Lastimamos as lutas civis em meados do século XIX. Reprovamos, mas compreendemos, que alguns dos nossos antepassados tenham roubado pedras do castelo para construir as suas casas. Tudo isso contribuiu, cumulativamente, para a realidade actual do nosso Castelo. Mas, sabe? Faz parte da nossa História.

DEBATES PÚBLICOS?

Debates, “discussão (verdadeiramente) pública”, preconiza JPCL. Andamos há anos a pugnar por isso. Desde 1979 realizamos sessões públicas e exposições sobre o nosso Património, sempre públicas, anunciadas no Badaladas e nas redes sociais. Convidamos todos os anos os torrienses para o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios (Abril) e para as Jornadas Europeias do Património (Setembro), incitando-os a participarem em iniciativas organizadas por nós. Fizemos nosso o lema de que “a melhor forma de defender e preservar o Património é conhecê-lo melhor” – como é que alguém se atreve a insinuar que escondemos, amordaçamos, criamos tabus, queremos silenciar opiniões?

Bem gostaríamos de contar com João Pedro Canário Lucas para renovar esta porfia e rejuvenescer as linhas deste combate. Porém, pela amostra, temos dúvidas. Cabe-lhe provar que estamos errados.

 

José Pedro Sobreiro | Joaquim Moedas Duarte

(Membros da Direcção

da Associação para a Defesa e Duvulgação

do Património Cultural de Torres Vedras)

 



 

 


26 janeiro 2022

CASTELO DE TORRES | (2ª PARTE) | Página PATRIMÓNIOS no BADALADAS, 26 Novembro 2021

 

CASTELO DE TORRES – RECONSTRUIR OU CONSERVAR?

(2ª parte)

José Pedro Sobreiro | Joaquim Moedas Duarte

 

Na primeira parte, publicada em 5 de Novembro corrente, fez-se uma brevíssima resenha da História do Castelo de Torres Vedras e a referência a um projecto de construção de uma Pousada. Nesta segunda parte, recordamos as mais recentes intervenções naquele espaço.

O Castelo sempre esteve no centro das preocupações da Associação do Património. A primeira acção de alerta, no ano da fundação, 1979, consistiu em solicitar a intervenção urgente da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais na reparação do troço do lado nascente da muralha, que tinha desabado no inverno desse ano, e foi prontamente reconstruída.

Por esta altura, e por iniciativa do Pe J Manuel da Silva, primeiro presidente da Associação, a Igreja de Santa Maria foi reaberta ao culto, numa tentativa de reanimação social do bairro do castelo.

Campanha arqueológica

A partir de 1984, implementámos uma campanha arqueológica no recinto da muralha sul, inicialmente por conta própria, mas com a supervisão e aconselhamento do Sr Leonel Trindade que indicou a área a investigar e que ia acompanhando os trabalhos, apesar da sua avançada idade. No ano seguinte os trabalhos prosseguiram, dirigidos pelo arqueólogo Clementino Amaro, sob tutela do Instituto Português do Património Cultural e continuaram até 1990, tendo a Associação do Património de Torres Vedras o encargo de toda a logística com a colaboração activa do sector de Cultura e Turismo da Câmara Municipal. Destaque para o papel crucial do Carlos Cunha – grande patrimonialista, um dos fundadores da nossa Associação, falecido em 2018.

Nesses trabalhos encontraram-se algumas estruturas de casas, e muitas sepulturas com os respectivos esqueletos, os quais foram enviados para o Instituto de Antropologia de Coimbra, para estudo.  Também foram encontradas mais algumas estelas discoides, medievais, que vieram a engrossar o já apreciável número de exemplares da colecção de cabeceiras de sepultura de Torres Vedras.

Castelo de Música

No seguimento dos trabalhos do Plano de Salvaguarda do Centro Histórico, a cargo do então criado Gabinete Técnico Local (GTL), a Câmara Municipal lançou em 1988 o Castelo de Música, evento que procurava dinamizar o espaço monumental como polo de atracção cultural através de espectáculos musicais de carácter popular. Foi construído um palco, em tijolo, no interior do recinto do paço – que considerámos uma intrusão desaconselhável, mas justificada pela intenção de dar vida àquele espaço.  Durante três ou quatro anos, no mês de Junho, realizaram-se festivais de música, de teatro e de dança, mas dificuldades de logística dos serviços e contrariedades climatéricas levaram à sua interrupção. A ingrata topografia do lugar – desníveis severos de terreno, estreiteza de acessos, falta de infraestruturas de apoio – dificultava em extremo os trabalhos de produção e afastava os espectadores, pouco dispostos a escalarem a colina do Castelo.

No ano inicial, foi realizada pelo GTL no interior do torreão, então restaurado, uma exposição com a colaboração da Associação em que se divulgava o Plano de Salvaguarda e, a nosso cargo, se apresentavam materiais das escavações e alguns tópicos sobre a história do castelo. Apesar de ser entendido como uma iniciativa louvável, no sentido de integrar o velho monumento na vida sociocultural da cidade, a realização do Castelo de Música alertou-nos também para a desadequação destas práticas para a preservação do monumento, com as inevitáveis agressões provocadas quer pela instalação de equipamentos e materiais não compatíveis, quer pela pressão de grande número de público sobre as estruturas frágeis do Paço.

Uma iniciativa positiva foi a instalação de iluminação monumental do Castelo, levada a cabo pela EDP, que veio sublinhar o valor referencial deste monumento nas noites de Torres Vedras. A Associação do Património interveio nesta acção, com a sugestão dos pontos fortes a iluminar.

Nos anos 90, todo o recinto foi objecto de diversos projectos de melhoramento. Alguns ignoravam as reais condições de acesso que as tornaram impraticáveis, outros concretizaram-se, contribuindo para melhor fruição daquele lugar de memória: placas informativas, protecções junto às escadinhas do torreão e em redor das cisternas romanas, espaços mais cuidados e limpos.

 



Cisternas com protecção e painel informativo
 

Simultaneamente, o programa ISA – Património, criado pela Câmara Municipal há 16 anos, passou a permitir que a Igreja de Santa Maria do Castelo esteja aberta ao público todos os dias, de manhã e de tarde, excepto à Segunda-feira. Note-se, ainda, que desde há uns anos, celebram-se, nesta igreja, cerimónias do rito católico ortodoxo, muito frequentadas por imigrantes do Leste europeu, abertas a quem desejar participar.

Muita gente desconhece que o Castelo de Torres Vedras é o monumento mais visitado na cidade. A criação, em 2013, do Centro Interpretativo no torreão, disponibilizou um oportuno espaço de acolhimento e informação, com espólio arqueológico e um pequeno filme que elucidam os visitantes sobre o lugar onde estão. Pode dizer-se que o Castelo de Torres Vedras tem hoje condições de visita como nunca conheceu antes.

Alertas

 Apesar do que foi dito, o Castelo precisa de atenção constante. Trata-se de uma ruína, frágil por natureza, pois as pedras e as argamassas vão-se desgastando com o tempo. Uma ruína que nos é cara pois que sintetiza como nenhum outro monumento a própria história da cidade. Por isso há que conservá-lo como elemento essencial da nossa identidade.

A Associação do Património tem manifestado com frequência a sua preocupação relativamente a alguns sinais de degradação do monumento, de que o memorando apresentado à Câmara Municipal em Junho de 2018 é um exemplo. Talvez tenhamos contribuído, de algum modo, para a constituição de uma equipa municipal de monitorização que tem visitado aquele monumento com o intuito de proceder às intervenções necessárias. Nesta linha, aplaudimos a constituição do grupo de trabalho Horizonte 26, criado no âmbito da Rede Cultura que abrange 26 municípios parceiros da candidatura de Leiria a Capital Europeia de Cultura. A sua actuação será orientada pelos conceitos de identidade, cuidar e horizonte e o objectivo principal é olhar pelo património edificado ligado à defesa dos territórios e à sinalização da costa marítima. O nosso Castelo deve constar da lista, necessariamente. Ele precisa de cuidados urgentes, como podemos observar na porta do Paço dos Alcaides e na do torreão. A falta de blocos de pedra ou a deterioração das existentes põe em risco toda a estrutura. Extensas faltas de argamassas levam à fragilização dos muros devido às infiltrações da água das chuvas e à queda frequente de blocos.

O Castelo de Torres Vedras é a imagem histórica que tantas gerações se habituaram a olhar – a velha igreja de duas torres encostada às ruínas do palácio e ao torreão manuelino – poderoso ícone simbólico da identidade torriense. Há que preservá-lo como ele está, sem acrescentos nem atavios despropositados, cuidando da sua saúde para que, tal como nós, as gerações futuras o continuem a admirar e a venerar.

 

Porta do Paço dos Alcaides: falta de blocos ameaça toda a estrutura

 





Porta do terraço do torreão: bem visível a erosão da pedra

(Fotos J. Moedas Duarte)


..............................................