30 julho 2013

ADEUS A UM AMIGO


JOÃO SARZEDAS

Faleceu em 27 de Julho ( Sábado), depois de doença prolongada. Grande amigo do Património torriense, homem de cultura, inconformado com a sociedade consumista e, por isso mesmo, militante do despojamento pessoal, João Sarzedas tinha uma personalidade multifacetada que fomos descobrindo ao longo de muitos anos de convívio. Trabalhador das artes gráficas, fazia da criatividade e da imaginação o seu principal instrumento de trabalho. 
Rigoroso, meticuloso, exigente no que fazia. Mas havia nele um outro cambiante que se foi apurando com a experiência: o sentido da observação refinado pelo humor. E isso ficou bem patente nos cartoons com que enriqueceu muitos números do BARRETE, Revista de Carnaval publicada anualmente pela Associação do Património de Torres Vedras.
Veja-se um dos que publicou este ano:


Diz-se que ninguém é perfeito e, sendo assim, temos de referir que João Sarzedas gostava de brincar com os amigos que não eram adeptos do seu clube, fazendo bonecos a condizer. Como este em que ele mesmo se caricaturiza:


Vamos ter saudades dele, do seu riso contido, da sua forma discreta de apreciar o mundo, dos seus desenhos onde se entornava tanta sensibilidade e ternura.
Obrigado por tanto que nos deste, querido amigo!

PUBLICADO no SEMANÁRIO BADALADAS em 19 de JULHO


EU CRESCI NO CENTRO HISTÓRICO
(1ª Parte)


QUIM GAGO


Passei a minha infância no Largo dos Polomes, também conhecido por Largo dos Ferradores. Nesse tempo existiam duas oficinas: a do Heliodoro, com o velho Abel; e a do João Martins, com o seu empregado João. Por sinal, o João Martins era um excelente músico que chegou a tocar na banda dos Bombeiros e na orquestra ‘Os Lusitanos’. Porém, o número de ferradores estendia-se além dos Polomes. Lembro-me do velho Zé Trinta e do Miguel na Corredoura e do amigo Malaquias na Rua Santos Bernardes, em frente onde hoje se encontra o Banco Totta. Mas a actividade deste Largo não se cingia aos ferradores. Casas de bicicletas eram cinco: a do Zé Bonabal, a do Flores, a do Celestino (ainda vivo), a do velho Cola e a do Francisco Inácio, natural de Casalinhos de Alfaiata – o primeiro ciclista do concelho a ganhar uma volta a Portugal, (em 1941, pelo Sporting Clube de Portugal). Por sua vez, a Rua Dias Neiva, que liga o Largo dos Polomes ao Largo de São Pedro, era a rua mais movimentada da vila, pois nela existia a maior parte dos armazenistas, tais como o Raul Alves, o Fonseca & Lisboa, o Florêncio Augusto Chagas, a Central Cafeeira e ainda lojas diversas.
Enfim, ao olharmos para trás, registe-se com alguma nostalgia o nome de actividades que foram inevitavelmente desaparecendo, pois, nesse tempo, para além do comércio tradicional, distribuíam-se pelas ruas do centro histórico os correeiros e os albardeiros, os funileiros e o amola-tesouras, os ferreiros, os barbeiros, os sapateiros e as ajuntadeiras, e outros artesãos.
No princípio dos anos cinquenta – época da minha infância – as ruas e os largos eram os locais privilegiados para os miúdos brincarem, desenvolvendo as suas aptidões físicas e a sua capacidade inventiva. O futebol era sem dúvida o jogo mais desejado, pois em qualquer recanto que desse para colocar duas pedras no chão a servir de baliza estava montado o sítio para jogar. E havia muitos. No meu caso, era o pátio Alfazema – mais conhecido pela Caldeira, porque havia aí uma caldeira de destilação de bagaço pertencente à casa Neiva Vieira, onde até há pouco esteve a laborar uma oficina de mármores. Mas se houvesse uma bola lá estávamos nós. Ainda me lembro de jogar com os irmãos Campos – no beco (agora com o topónimo Travessa Madeira Torres), ou no pátio da Casa Primavera (nas traseiras da Tuna), e serem estes os primeiros palcos da nossa infância. Por vezes as jogadas eram interrompidas pela presença inesperada dos polícias que moravam na Encosta de São Vicente, mais a do Pencudo que vinha do Paul. Eram homens que nunca nos incomodavam, embora a sua presença imprimisse respeito. Porém, mal nos viravam as costas a jogatina recomeçava.

 ***
Pela amizade que sempre nos uniu quero, publicamente, deixar registada a minha solidariedade e preocupação para com Vítor Campos, velho companheiro das lides de infância, face ao momento difícil que atravessa.

(Texto escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico)


17 julho 2013

RECORDAR LEONEL TRINDADE





Hoje é dia do seu aniversário: nasceu  em 16 de Julho de 1903 - há 110 anos - e faleceu em 4 de Janeiro de 1992.

Marcou a arqueologia pré-histórica portuguesa pelas inúmeras jazidas que descobriu e investigou. As mais conhecidas são o Castro Eneolítico do Zambujal, (ver AQUI também) a cerca de 3 km da cidade de Torres Vedras, e o Tholos de Paimogo. Mas há muitas mais, como a necrópole do Cabeço da Arruda, a Cova da Moura ou o povoado eneolítico do Penedo. 








Em 1999 a Cooperativa de Comunicação e Cultura de Torres Vedras, com o apoio do Governo Civil de Lisboa e da Câmara Municipal de Torres Vedras, publicou a biografia de Leonel Trindade, da autoria de Cecília Travanca: Reconhecer Leonel Trindade. É um documento precioso para o conhecimento da figura e da obra deste ilustre torriense. 





Foto do livro RECONHECER LEONEL TRINDADE

Neste espaço, situado nas antigas instalações do Museu Municipal, na R. Serpa Pinto - hoje ocupado por instalações da Misericórdia -  passava Leonel Trindade muitas horas a estudar e a reconstruir peças de cerâmica a partir de fragmentos encontrados nas escavações.
As novas gerações de professores de História de Torres Vedras iam ali falar com ele para aprenderem um pouco do muito que ele sabia.

01 julho 2013

"PATRIMÓNIOS" no semanário BADALADAS

nº 45 - publicado em 28 de Junho de 2013

O MEU CLUBE É O TORREENSE – ALGUMAS ESTÓRIAS

 (3ª Parte)

 NINÉU

Não vou escrever sobre o Torreense, instituição que faz parte do nosso património, do qual nos orgulhamos, e que já por três vezes esteve entre os grandes do futebol nacional.
Aproxima-se 2017, ano em que se irá comemorar o 1º centenário do clube, designadamente com a publicação de um livro contendo toda a sua história.
Nesta circunstância, cabe-me apenas relatar alguns factos pessoais.
Comecei a ir ao Campo das Covas muito cedo, pela mão do meu pai. Ao domingo, depois do almoço, íamos ao café do Borba, em frente à igreja de São Pedro. Mal acabava de beber um garoto punha-me na alheta para ver os remates potentes do Sidónio que me deixavam entusiasmado.
Nessa altura fazia recortes dos jornais desportivos, pois o meu pai, sendo caixeiro-viajante, trazia resmas de jornais das suas viagens.

"PATRIMÓNIOS" no semanário BADALADAS


Nº 42 - publicado em 26 de Abril de 2013

PESQUISAS NO CENTRO HISTÓRICO – LARGOS, IGREJAS E GRANDES EDIFÍCIOS
(5ª Parte)

EMANUEL CARVALHO
(Assistente de Arqueólogo)

Algumas áreas do Centro Histórico foram objecto de intervenções de natureza arqueológica: no largo de São Tiago (popularmente conhecido como ‘praça da batata’) foram encontrados vestígios de casas, espólio cerâmico e diversas peças de osso utilizadas para afiar foices (designadas safra de osso), atribuídas aos séculos XIV/XV.
Na rua Cândido dos Reis (junto ao Chafariz dos Canos), foi revelado um troço da muralha fernandina, vestígios de habitações e foi ainda possível confirmar a existência da porta de entrada da vila, conhecida por ‘Porta da Corredoura’. É possível observar o que resta deste troço de muralha e das restantes estruturas arqueológicas, uma vez que foram integradas na obra e mantidas sob protecção, actualmente visíveis através de vidraças – sendo apenas de lamentar a não existência de qualquer sistema de iluminação e informação com interpretação no local.