01 julho 2013

"PATRIMÓNIOS" no semanário BADALADAS


Nº 42 - publicado em 26 de Abril de 2013

PESQUISAS NO CENTRO HISTÓRICO – LARGOS, IGREJAS E GRANDES EDIFÍCIOS
(5ª Parte)

EMANUEL CARVALHO
(Assistente de Arqueólogo)

Algumas áreas do Centro Histórico foram objecto de intervenções de natureza arqueológica: no largo de São Tiago (popularmente conhecido como ‘praça da batata’) foram encontrados vestígios de casas, espólio cerâmico e diversas peças de osso utilizadas para afiar foices (designadas safra de osso), atribuídas aos séculos XIV/XV.
Na rua Cândido dos Reis (junto ao Chafariz dos Canos), foi revelado um troço da muralha fernandina, vestígios de habitações e foi ainda possível confirmar a existência da porta de entrada da vila, conhecida por ‘Porta da Corredoura’. É possível observar o que resta deste troço de muralha e das restantes estruturas arqueológicas, uma vez que foram integradas na obra e mantidas sob protecção, actualmente visíveis através de vidraças – sendo apenas de lamentar a não existência de qualquer sistema de iluminação e informação com interpretação no local.

Do primeiro convento de Santo Agostinho (1366, reinado de D. Pedro), construído no espaço fronteiro à igreja de S. Tiago, foram encontrados vestígios de espessas paredes do edifício, uma canalização e fragmentos de faianças, ossos e materiais de construção (azulejos e cantaria pertencente a uma grande porta). Como este conjunto monástico foi construído numa área inundável, os frades agostinhos transferiram-se no século XVI para a zona hoje designada Largo da Graça (cuja origem do nome veio buscar ao convento). Infelizmente, neste caso, não foi salvaguardado o sítio arqueológico. A intervenção dos técnicos do museu municipal aconteceu já quando a obra estava a decorrer, ficando por isso mais pobre o registo arqueológico, apesar de todos os esforços empreendidos.
Na área da antiga fábrica da Casa Hipólito (a norte da igreja de São Tiago) foi encontrado um forno datado da época medieval islâmica e diversas estruturas que, tudo indicam, serem também medievais. Toda esta área aguarda resolução quanto ao projecto de construção. As escavações realizadas na travessa do Quebra-costas, onde se localiza a antiga sede da Sociedade Recreativa Operária (que entrou em obra para construção de um espaço que integrará várias associações culturais), apesar de se encontrar em pleno bairro medieval islâmico, forneceu muito poucos dados – devido ao grande revolvimento possivelmente causado pelas construções ali existentes.
A zona envolvente à igreja de São Pedro e Chafariz dos Canos veio revelar, através de escavações recentes, a existência de várias sepulturas em redor da igreja. Nesta área, e tendo em conta o potencial arqueológico, foi lamentável não se ter investido mais na procura de estruturas, nomeadamente na área nascente, onde ficaram por conhecer as possíveis estruturas relacionadas com a muralha e a canalização do Chafariz.
Também se lamenta não ter havido qualquer intervenção arqueológica na obra da antiga serração do Pio, localizada na rua Serpa Pinto, e, por tal, se ter perdido uma oportunidade única de salvar e recuperar um magnífico espólio do período islâmico.
Estes tristes episódios que revelam práticas nefastas de intervenção no património histórico-arqueológico, impedem-nos de resgatar e conhecer toda a informação presente nestas áreas do Centro Histórico, devendo constituir uma lição e um veemente aviso para os perigos de não se respeitarem os procedimentos e as normas mais elementares na defesa do nosso Património.





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