21 setembro 2013

MATACÃES - IGREJA DE NOSSA SENHORA DA OLIVEIRA e ERMIDA DO SENHOR DO CALVÁRIO





IGREJA DE NOSSA SENHORA DA OLIVEIRA - MATACÃES

De origem quinhentista (ainda se conservam nervuras desta época, numa das dependências), a igreja de Nossa Senhora da Oliveira conserva, na sua estrutura, vários elementos que caracterizaram as diferentes campanhas de obras de que foi alvo, ao longo dos séculos.
Na verdade, são pouco numerosas as informações conhecidas sobre o templo, muito embora as inscrições, e outros elementos decorativos, nos permitam definir, seguramente, duas intervenções arquitectónicas e decorativas. A primeira remonta ao século XVII, época em que a igreja terá sido reedificada. Para além da estrutura, de nave única e capela-mor rectangular, subsistem os azulejos enxaquetados, em tons de branco e azul, que revestem a zona inferior das paredes do corpo (AZEVEDO, FERRÃO, GUSMÃO, 1963, p. 26), note-se que estes azulejos não são mencionados no corpus de azulejaria do século XVII, de Santos SIMÕES, 1997, 2ª ed.). Desta centúria são, também, as lápides sepulcrais do pavimento. 
Mais consensuais parecem ser os trabalhos setecentistas, onde se inclui a renovação da fachada principal e da torre, bem como o revestimento azulejar figurativo do interior e o retábulo-mor, em talha dourada. O frontispício, definido por pilastras nos cunhais, rematados por pináculos, é aberto, ao centro, por um portal de verga curva e por um janelão de iluminação do coro. Destaca-se, neste conjunto, o frontão contracurvado que coroa o alçado, e que apresenta círculos no tímpano e uma cruz ao centro. Num plano ligeiramente recuado, e também com pilastras nos cunhais (rematados por fogaréus), ergue-se a torre sineira, cujos registos seguem o esquema da fachada do templo, rasgando-se, no último, a sineira e terminando o conjunto numa cúpula bolbosa. 



No interior, ganham especial relevância os diversos conjuntos de azulejos. Parecem ser mais antigos os seis painéis da capela-mor, que representam, do lado do Evangelho, a Adoração dos Magos, , os Desponsórios e a Sagrada Família, e do lado oposto, a Anunciação, a Adoração dos Pastores e a Fuga para o Egipto. Têm vindo a ser atribuídos ao pintor conhecido pelas iniciais P.M.P., mas cujo nome permanece por identificar (SIMÕES, 1979, p. 327). Com actividade conhecida na segunda e terceira décadas do século XVIII, P.M.P. poderia ter executado o trabalho da igreja de Nossa Senhora da Oliveira entre os anos de 1725-30 (IDEM). 
Já os azulejos ornamentais que revestem o arco triunfal, e os emblemas marianos que aí encontramos (alusivos às litanias da Virgem), datados de 1736, estão assinados por Bartolomeu Antunes (SIMÕES, 1970, p. 68). Todavia, os mais recentes estudos dedicados a este artista reuniram um conjunto de documentação onde se demonstra que Bartolomeu Antunes não foi pintor de azulejos, e a sua actividade "(...) deve ser entendida como a de um experiente gestor, sobre o qual recaía a responsabilidade geral da empreitada", articulando a encomenda com os pintores com quem habitualmente trabalhava (MANGUCCI, 2003, p. 140). A importância do cargo de mestre ladrilhador do Paço, levou-o a assinar alguns painéis, onde se inclui o da igreja de Matacães. Fica assim, em aberto, a autoria deste conjunto, mas apesar da actividade tradicional de Antunes se iniciar, tradicionalmente, a partir de 1730, é possível que tenha também sido ele a fornecer os azulejos da capela-mor (IDEM, p. 137). 




Retomando as intervenções no templo, o retábulo-mor, de talha barroca, deverá ser contemporâneo da campanha azulejar. Já do final do século XVIII é o conjunto da capela baptismal, com a pia setecentista, a que se acrescentou, posteriormente, um murete em mármore, e o revestimento azulejar de linguagem neoclássica. 
(Rosário Carvalho)


Classificado como IIP - Imóvel de Interesse Público
Cronologia
Decreto n.º 2/96, DR, I Série-B, n.º 56, de 6-03-1996 (ver Decreto)
Despacho de abertura de 18-05-1998 do Vice-Presidente do IPPAR
Proposta de abertura de 4-05-1998 da DRLisboa
ZEP
Anúncio n.º 13554/2012, DR, 2.ª série, n.º 198, de 12-10-2012 (ver Anúncio)
Parecer favorável de 26-09-2012 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura
Proposta de 31-05-2012 da DRCLVT


Site do IGESPAR







                                               Igreja vista do Sítio do Senhor do Calvário
Fotos J Moedas Duarte


                                                                                * * *




SÍTIO E ERMIDA DO SENHOR DO CALVÁRIO

O Monte do Senhor do Calvário é um sítio relevante na paisagem física e cultural do concelho de Torres Vedras, dominante sobre o rio Sizandro e o vale de Matacães. Embora se desconheça quando se terá dado a cristianização do local - a actual capela foi reedificada em 1771 -, é de crer que o culto e a romaria associada seja de tradição tardo-medieval, período em que se multiplicaram as devoções.
A ermida foi propriedade da família Trigoso, da Quinta Nova, unida por laços matrimoniais aos Falcão da Quinta do Juncal, permanecendo ainda vinculada a estes. A primeira referência conhecida data de 1632, ano em que foi concedido ao templo licença para nele se celebrar missa. Este dado evidencia que, já nessa altura, a ermida estava construída e era importante o suficiente para justificar possuir missa própria.








A sua actual configuração resulta de uma quase integral reforma, levada a cabo em 1771 por intermédio de D. Francisco Mendo Trigoso, bispo de Viseu, que obteve do Papa Pio VI regalias de altar privilegiado, em 1779, conforme inscrição do lado direito da capela-mor. 





É uma capela quadrangular de modestas proporções, que tem a particularidade de ostentar a cabeceira voltada a poente, e que integra alguns importantes elementos de património integrado: mármores no altar-mor, pia baptismal e lavabo da sacristia; uma imagem tutelar de Cristo Crucificado, data de 1712; brasão de armas do bispo sobre o arco triunfal; azulejaria figurativa dedicada à Paixão de Cristo (na capela) e Santo António (na sacristia, constituindo este o anterior orago do templo) e diverso mobiliário litúrgico.
PAF










































 A Via-Sacra em azulejo embutido na parede é uma solução original




Azulejos da sacristia, com cenas da vida de Santo António





Fotos J Moedas Duarte


Classificado como SIP - Sítio de Interesse Público
Cronologia
Portaria n.º 232/2013, DR, 2.ª série, n.º 72, de 12-04-2013(ver Portaria)
Procedimento prorrogado até 30 de junho de 2013 pelo Decreto-Lei n.º 265/2012, DR, 1.ª série, n.º 251, de 28-12-2012 (ver Diploma)
Anúncio n.º 13544/2012, DR, 2.ª série, n.º 197, de 11-10-2012 (ver Anúncio)
Parecer favorável de 25-07-2012 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura
Proposta de 29-05-2012 da DRCLVTejo para a classificação como SIP
Procedimento prorrogado pelo Decreto-Lei n.º 115/2011, DR, 1.ª série, n.º 232, de 5-12-2011 (ver Diploma)
Procedimento prorrogado pelo Despacho n.º 19338/2010, DR, 2.ª série, n.º 252, de 30 de Dezembro (ver Despacho)
Despacho de abertura 18-05-1998 do VCice-Presidente do IPPAR
Proposta de 4-05-1998 da DRLisboa para a abertura do processo de classificação da Ermida e Sítio do Senhor Jesus do Calvário
Em 27-10-1997 a CM de Torres Vedras enviou elementos para instrução do processo
Proposta de 18-09-1996 da Paróquia de Nossa Senhora da Oliveira para a classificação do Sítio do Calvário
ZEP
Portaria n.º 232/2013, DR, 2.ª série, n.º 72, de 12-04-2013(ver Portaria)
Anúncio n.º 13544/2012, DR, 2.ª série, n.º 197, de 11-10-2012 (ver Anúncio)
Parecer favorável de 25-07-2012 da SPAA do Conselho Nacional de Cultura
Proposta de 29-05-2012 da DRCLVTejo
Zona "non aedificandi"
Portaria n.º 232/2013, DR, 2.ª série, n.º 72, de 12-04-2013
Site do IGESPAR






17 setembro 2013

PORMENORES

... dos painéis de azulejo do Claustro do Convento da Graça de Torres Vedras, alusivos à vida de D. Frei Aleixo de Meneses, que foi prior deste Convento no séc. XVI.

Cenas da vida quotidiana, cheias de movimento e sugestões de sons ( as conversas, o coro a cantar, o marulhar das ondas...).
Há figuras orientais, nos paínéis que relatam a chegada de D. Frei Aleixo de Meneses a Goa.





















































11 setembro 2013

UM SÍTIO A REVISITAR


Sítio e Ermida do Senhor do Calvário, Matacães
A visitar no dia 22 de Setembro 2013, nas Jornadas Europeias do Património



















Um lugar deslumbrante!

Para saber mais:
http://historiasdetorresvedras.wordpress.com/2010/06/20/monte-do-calvario/


Fotos J. Moedas Duarte

07 setembro 2013

ESTAMOS NAS JORNADAS EUROPEIAS DO PATRIMÓNIO 2013


Já foi publicado o PROGRAMA NACIONAL no qual participamos através de uma VISITA GUIADA a Matacães e ao seu Património edificado e classificado, a realizar no dia 22 de Setembro.





P R O G R A M A
(Aberto ao público em geral, sem inscrição prévia)

22 Setembro 2013

15H00 - Concentração dos visitantes no Largo junto à Igreja de Matacães (Imóvel de Interesse Público)

15H15 - Visita à Igreja conduzida pelo Pároco P. José Miguel Ramos e P. José Manuel da Silva (antigo Pároco e um dos fundadores da Associação do Património de Torres Vedras)

16H15 - Visita ao Sítio e Ermida do Senhor do Calvário, recentemente classificado como Imóvel de Interesse Público

LEITURA DA PAISAGEM, no Largo fronteiro à Ermida:
Arq. Jorge Bonifácio: a residência solarenga do Juncal
Arqueólogo Emanuel Carvalho: o Castro da Fórnea (Imóvel de Interesse Público)

O Museu Municipal Leonel Trindade, de Torres Vedras participa nestas Jornadas através de uma pequena exposição do espólio do Castro da Fórnea, a qual estará acessível ao público de 22 a 29 de Setembro


01 setembro 2013

UMA SOLUÇÃO MUITO DISCUTÍVEL

Andei hoje pelo Turcifal. A Igreja Matriz, de Santa Maria Madalena, é Imóvel de Interesse Público, estatuto definido pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1ª Série-B. nº 42, de 19-02-2002.
Não entrei na Igreja, que estava fechada, fiquei-me pelo exterior. E fiquei surpreendido com o que vi, no lado poente do adro: quatro cabeceiras de sepulturas medievais a "decorarem" o murete do adro.

Veja-se:






Agora de mais perto:









Salvo melhor opinião, considero que esta solução é muito discutível. O Turcifal é uma das mais antigas povoações do nosso concelho, cujo topónimo é citado em documentos dos séc. XII e XIII ( TORRES VEDRAS, A VILA E O TERMO NOS FINAIS DA IDADE MÉDIA, Ana Maria Rodrigues, 1995).
É bem sabido que, ao lado da sua imponente Igreja (reconstrução setecentista do templo medieval) havia um cemitério, cujos vestígios chegaram até aos nossos dias, caso das cabeceiras de sepultura. Estas que aqui mostro são da época medieval, como bem se infere da sua tipologia, semelhante à colecção existente no nosso Museu Municipal e que José Beleza Moreira estudou no seu opúsculo "Catálogo das Cabeceiras de Sepultura do Concelho de Torres Vedras", editado em 1980 pela Associação do Património de Torres Vedras.




Estas estelas funerárias são um testemunho genuíno que vem do fundo dos séculos e nos traz a memória de quem ali viveu e foi sepultado. Ao contrário das peças de Museu, estas cabeceiras estavam in situ, e era aí que deveriam ser mantidas. Como memória e testemunho do passado.

O adro, que foi objecto de obras profundas terminadas em 2007 - como se lê na placa comemorativa - só teria a ganhar se nele tivesse sido preservado um lugar, talvez junto de uma das paredes da Igreja, em que estas cabeceiras fossem alinhadas, com um pequeno dístico a lembrar aos homens de hoje a existência dos antepassados. O que nos parece inaceitável é fazer delas objectos de decoração do muro do adro.

Joaquim Moedas Duarte