11 novembro 2011

PATRIMÓNIO DE TORRES VEDRAS - TERMAS DOS CUCOS

Vista geral do edifício principal

Está na categoria de "Imóvel em vias de classificação". Há poucas informações disponíveis ou de fácil acesso sobre este belíssimo conjunto edificado.
O nosso associado Rui Prudêncio indicou-nos uma ligação que, pela oportunidade, colocamos AQUI. Também pode ser consultada no blogue do Venerando de Matos.
Para imediata informação, transcrevemos o texto, referindo que ele se reporta a 2002. Infelizmente, parece-nos que nada se modificou desde essa altura, a não ser o crescente desinteresse por este património por parte de quem poderia fazer alguma coisa por ele.
As termas estão inativas e os edifícios fechados. Há um guarda residente que toma conta do espaço e faz a manutenção do Parque.
Exteriormente os edifícios estão pintados e mostram bom aspeto, o que se deve ao facto de aquele espaço ter sido utilizado como cenário de uma telenovela.

As fotos, de 2010,  são do nosso associado Joaquim Moedas Duarte, a quem agradecemos.


Edifício principal




...

Edifício do restaurante e zona de lazer

...

Edifício para alojamentos - Lado Poente da álea de acesso




Edifício de alojamentos - A nascente da álea de acesso

...


Álea de acesso, a partir da estrada que sai de Torres Vedras em direcção ao Sobral de Monte Agraço





 Época termal
As termas encontram-se encerradas sem data prevista para reabertura
Indicações
Reumatismo, doenças da pele e da nutrição (Acciaiuoli, 1944)
Para o tratamento da gota, artrite-reumática, linfantismo e doenças das senhoras, particularmente metro-anexites. As lamas empregam-se nas afecções do aparelho locomotor tendo por origem a gota (Contreiras.1951)
Doenças metabólico-endócrinas, reumáticas e músculos esqueléticas.


Tratamentos/ caracterização de utentes
Balneoterapia com banhos de lama; inalações e ingestão de água.
Apesar das suas características e dos tratamentos com lamas próprias, caso único no atual panorama do termalismo entre nós, o número dos seus frequentadores, pelo menos depois da década de 30, nunca foi muito elevado. Nos relatórios de Acciaiuoli de 1939-46 as inscrições são em média na casa das duas centenas, nos últimos três ano que tiveram abertas, 1996 a 98 as inscrições foram em média um pouco inferiores ao milhar.

LOCALIZAÇÃO

Distrito
Lisboa

Concelho
Torres Vedras

Freguesia
Matacães

Povoação/Lugar
Termas de Cucos
Localização
Na margem direita do Rio Sizandro, no sopé da colina dos Macheia.

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica do Rio: Ribeiras de Costa - Oeste

Zona geológica
Orlas Meso- cenozoicas

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas sedimentares, predominante Arenitos.

Dureza águas subterrâneas
100 a 300 mg/l CACO3


Instalações/ património construído e ambiental

Inaugurado em 15 de Maio de 1893 o complexo termal dos Cucos, com traça do engenheiro António José Freire, por encomenda do proprietário José Gonçalves Dias Neiva.
Mas em 1892 já o novo estabelecimento balnear se encontrava a trabalhar em fase experimental, que Lopes (1892) elogia e descreveu: “O seu primeiro pavimento – das piscinas – situado a 3,4m abaixo do nível do solo, consta de três salas: duas para banhos de lama, tendo um, quatro piscinas e outras três, ambas com as competentes tinas de lavagem; e a terceira com duas divisões, das quais uma tem cinco tinas e outra quatro, destinadas aos banhos de 3ª classe. Neste pavimento, e num plano superior, estão instaladas ainda duas tinas, salas de inalações, maquinismo e a casa de engarrafamento das águas minerais. Há, ainda, um salão de espera e a elegante buvete com duas torneiras para água, fria ou quente.
No rés-do-chão, 1,5m acima do solo, estão estabelecidas, em gabinetes elegantes e confortáveis, as tinas para banho de imersão, em número de doze, os duches vaginais, perenais e rectais, e as de hidroterapia, com todo os aparelhos aperfeiçoados conhecidos até hoje.
São sete as nascentes existentes no parque dos Cucos: a dos Cucos Novos e Cucos Novos Fria localizam-se sob o balneário; a dos Cucos Modernos, fornece a buvete; A das Lamas no fundo de um poço para captação de lamas; A dos Cucos Velhos e do Olival não utilizadas. A sétima nascente encontra-se à entrada do parque e era de uso popular para doenças de pele e estômago, denominada dos Coxos ou dos Coches (como é atualmente mais conhecida).

Atualmente todas as dependências do complexo termal se encontram encerradas: Balneário, capela, mina de lamas; buvete; restaurante e pensão. Aberto e para usufruto da população está o agradável parque termal.

Natureza
Cloretada, bicarbonatada, sulfatada, muito radioactiva pelo radon (38º) (Lepierre, 1930)
Cloretada sódica (Calado, 1995)

Alvará de concessão
Decreto de 12 de Julho de 1858, determinado de 80réis o preço das garrafas da água de Cucos.
1ºalvara de 25 de Outubro de 1893 a favor de José Gonçalves Dias Neiva
Alvará de 26 de Março 1909 a favor de José António Vieira
Portaria de 8 de Junho de 1929 definindo a área reservada de 50hectares.

Contrato actual de 1 de Janeiro de 1999

Historial
Embora Lopes (1892) descreva que durante as obras para novas captagens e desvio do leito do rio Sizandro, foram descobertos antigos poços e canalizações de provável origem romana, as primeiras referências que surgem a esta nascente são de 1758. Nas Memórias Paroquias, o Padre António José de Faria, prior de S. Pedro, respondia do seguinte modo aos Quesitos Pombalinos, sobre a questão da existência de águas minerais na Freguesia: “Esteve esta água sempre incógnita até que um grande cirurgião do Partido da Câmara desta Vila pela observar no ano de 1746 a pões em uso na medicina. Chamado o Dr. Cirurgião Máximo Monis de Carvalho, e tem alcançado esta água notáveis efeitos em desterrar sarnas, lepras, caquechias, inchações, e de cura chagas sordicas, gotas arteticas, convulsões, paralisias, e obstruções dos olhos, servindo algumas de remédio paliatico a chagas cancrozas, e pode servir para remédio de muitas outras queixas se o pio zelo lhe mandasse por algum reparo, para assim comodamente se usar nos banhos como convêm; pois não é menos para admirar o grande numero de enfermos que ali de diversas partes tem concorridos a tomar banhos nos toscos lagos que com a sua industria fazem na terra expostos ao ar, e sem reparo algum, e a maior parte sem conselho de médico…”
Tavares, Dr. Francisco, escreveu em 1810: “… no sítio chamado dos Cucos nascem águas termais, em dez origens diversas, todas da mesma natureza e diferente temperatura […] como estas nascentes estão muito próximas à margem de um ribeiro, que ali corre, com qualquer pequena enchente se cobrem. Os banhos, com casas de madeira ali feitas, são defendidos por marachões, que o proprietário do terreno mandou construir, assim como algumas casas e quartos para acomodação de quem quiser usar das águas…
O proprietário era o Capitão – mor José Lourenço Peres, segundo nos informa o visconde Balsemão numa Memória apresentada à Academia Real das Ciências em 1813, que descreve os banhos em tinas de madeira enterradas na lama e resguardadas por barracas. A mesma descrição fez Silva (1815), que recomendava: “Se estas águas se procurassem mais no centro do monte… se desse outro curso ao rio, as construções dos banhos seriam permanentes
Agostinho Lourenço (1867) escreveu no seu Renseignent sur les eaux Minérales Portugaises, para a Exposição Universal de Paris « L’eau jaillit par diffeérents points dans un fossé oblong parallèle d’une petit rivière appelle «Cysandre», et dont elle est séparée par un étroit mur naturel […] A l’endroit même ou les eaux sourdent, on a enterre des baignoires en bois, qui reçoivent l’eau par les fissures que laissent entre elles les planches dont elles sont construites »
Na ocasião em que Agostinho Lourenço escrevia este texto, já a quinta de Vale dos Cucos era propriedade de João Gonçalves Neiva, que construiu, por volta de 1860, novas casas de banho ainda em madeira e casas para alojamento dos doentes, no local hoje chamado de Cucos Velhos. Mas será seu filho José Gonçalves Dias Neiva que a partir de 1890 inicia todo um processo de edificação de uma vila termal, iniciadas por escavações que vêem a descobrir uma nascente com grande manancial de água. O projecto que pretendia ser completamente inovador em serviços termais e de lazer, previa a construção do Balneário, Hotel, Casino, 40 moradias num parque termal que contava ainda com uma capela e mercado.
Em 1893 era inaugurado o estabelecimento termal, três anos depois foi a vez do Casino, segue-se lhe o Hotel, bem mais modesto do que o edifício programado de 300 quartos, das moradias projectadas concretizaram-se duas, construí-se também a capela e oficinas de preparo de lamas e de águas.
Ao fundo de uma alameda arborizada, que haveria de definir o eixo da vila termal encontra-se o balneário, com a sua fachada neo-clássica. Sobre este projecto escreveu Mangorrinha ( 2000): “ O plano das Termas dos Cucos é o único que traça de raiz o conjunto de equipamentos essenciais ao funcionamento de uma estância termal e, como tal, possui um valor analítico ímpar, embora nunca tenha sido concretizado na sua totalidade, perdendo o efeito urbano que projectava.
Em 1892 as águas foram analisadas por Joaquim dos Santos Silva, um ano depois Frederico de Albuquerque d’Orey fazia o seu Relatório de Reconhecimento para a concessão então pedida pelo proprietário.
Em 1896 Lepierre analisou as águas, classificando-as como mesossalinas, cloretadas sódicas, litínicas e siliciosas.
Sarzedas (1907) no seu relatório de inspecção elogia o estabelecimento com as palavras: “ são completas e de primeira grandeza as instalações”.
Em 1910 é o estudo da radioactividade das suas lamas por Oliveira Pinto. Estas lamas são extraídas em galerias de uma mina junto do leito do rio Sizandro, emergem depois de passadas por extractos calcários, são cloretadas, radioactivas, contêm biogeleias e são hipertermais.
Andrade (1926) apresenta o seu projecto de novas captagens no sítio dos Cucos Velhos, que levaram três anos a concluírem-se e sobre elas disse Lepierre (1930), na ocasião em procedeu a nova análise destas águas: “Depois de trabalhos de captação magistralmente efectuados […] A água foi captada numa talha de rocha e levada por um cano de chumbo, em galeria estanque e visível de uns 9 metros de comprimento, que visitei. Esta galeria vem abrir na parte inferior dum poço com uns 15m de profundidade. A água termal sobe por um tubo de chumbo, pela sua própria pressão até quase ao nível superior do terreno. A água fica assim, directamente colhida na rocha, e chega até cima sem contaminação de espécie alguma.” Nessa época foi edificada uma nova fonte buvete.
No Anuário (1963) foram descritas as instalações e os tratamentos, onde se destaca a Aplicação de Lamas: “… o doente repousa sobre tela impermeável num leito e a região doente: articulação ou trajecto de um nervo, está envolvida numa pasta de lama com a espessura de 3 a 6 centímetros e à temperatura de 42 a 45 graus. Esta lama é envolvida em panos, matem a temperatura quase constante durante uma hora e é esta também em regra a duração da aplicação.
Em 1974 é elaborado um projecto urbanístico para a Quinta da Macheia, situada no lado Sul da propriedade dos Cucos, para lá da colina do mesmo nome que a separa das termas, estavam previstas zonas habitacionais, zonas desportivas, escolares e comercial onde o complexo termal seria ampliado e valorizado” ladeando o estabelecimento, é proposto a construção de uma residencial, uma estalagem e um parque infantil. Para grande parte da área da quinta, e com ligação directa com o equipamento de equitação, são propostos percursos pedonais e a cavalo” (Mangorrinha,2000). Apesar do parecer positivo da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização, nunca se chegou a concretizar e hoje a Quinta da Macheia é atravessada pelo Itinerário Complementar IC1.
Voltando ao texto de Mangorrinha (2000), um dos grandes problemas destas termas era: “ a poluição do rio Sizandro mantém-se, fornecendo um ambiente carregado de cheiros nauseabundos provocados por esgotos domésticos e industriais. O perigo situa-se, principalmente, junto à mina de lamas termais, já que o muro de separação desta com o leito do rio está em deficiente estado de conservação, perdendo-se parte do recurso” (Mangorinha, 2000).

Em 1996 foi efetuado um novo furo de captação de águas termais, comprovativo de que as características hidromedicinais das águas se mantinham, projetava-se a construção de um novo balneário, destinando as instalações existentes para outros fins: “…já sabemos que temos água suficiente e de qualidade para expandir o negócio”, dizia Hélder Pinto Santos, administrador da sociedade formada por herdeiros da Família Neiva, ao repórter do JN em 1 de Agosto de 1999, justificando a razão porque não abriam as termas nesse ano, mas não voltaram a abrir até ao presente (2006), nem foi iniciada nenhuma obra dentro da propriedade.
Entretanto o rio Sizandro foi objeto de grandes obras de regulamentação das suas margens e tratamento de afluentes.


Embora as termas não tenham data prevista de reabertura, o seu parque continua a ser local eleito para passeios e lazer dos habitantes da região.

Alojamentos

Pensão das Termas dos Cucos, com 31 quartos encontra-se encerrada, alojamentos só na vizinha cidade de Torres Vedras, com uma razoável oferta de hoteleira.


Recortes

JN- 1/8/99 – (Paulo Pinto) Termas dos cucos fecham para obras – É a primeira vez em mais de cem anos que as portas do balneário encerram

Bibliografia

Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a; 1948b; 1949-50; 1953. Albino 1849, Almeida 1944, Almeida 1947, Alves 1851, Andrade 1926, Andrade 1930, Andrade 1933, Ayuso 1946, Baptista 1874-79, Balsemão 1813, Barbosa 1865, Lobo 1849, Brandt 1881, Calado 1995, Carvalho 1930, Castro 1900, Chernovitz 1878, Choffat 1893, Contreiras 1937, Contreiras 1941, Contreiras 1951, Correia 1922, Costa 1851, Costa 1891, Cunha 1920, Durão 18? , Ennes 1893, Félix 1877, Freire 1894 a 1915, Graça 1914, Leal 1875-80, Lepierre: 1896; 1896b; 1929; 1930; 1932; 1933. Lobo 1849, Lopes 1892, Lourenço 1867, Lourenço 1867b, Mangorrinha 2000, Mangorrinha 2002, Melo 1923, Mira 1948, Morais 1947, Narciso: 1920; 1920b; 1933; 1947. Orey 1893, Ortigão 1875, Pamplona 1935, Rodrigues 1850, Sá 1946, Sarreira 1933, Sarzedas 1907, Silva 1908, Silva 1892, Silva 1893, Silva 1845, Tavares 1810, Torres 1819, Trigoso 1815, Vieira 1947, Vieira 1926, Águas minerais do continente e Ilha de S. Miguel 1940, Águas e Termas portuguesas 1918, Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963, Banhos dos Cucos 1891, Excursão dos alunos do Instituto de hidrologia de Lisboa às Termas dos Cucos, Caldas da Rainha, Cúria, Luso, Monte Real e Estoril 1943, Le Portugal hidrologique e Climatique 1930-42, Termas dos Cucos, torres Vedras, Águas e lamas minero-medicinais s/data, Termas de Portugal 1947.


Sem comentários:

Enviar um comentário