CARTA ABERTA AO PADRE JOAQUIM MARIA DE SOUSA,
FUNDADOR DO BADALADAS
O jornal Badaladas faz parte do Património Cultural de Torres Vedras. Por isso, publiquei, em 6 de Dezembro, este texto:
Saudoso P. Joaquim, atrevo-me a este gesto simbólico porque me sobra desalento onde devia prevalecer combatividade. E dirijo-me à sua memória porque dela guardo grata recordação do tempo que ainda partilhei consigo, na década de 70 do passado século. Imagino-o meu interlocutor sobre o Badaladas, criação sua e da sua paróquia, porque este jornal foi a minha chave de entrada na sociedade torriense, em 1971, quando me habituei a frequentar a Gráfica Torriana, onde o jornal era composto e lá o encontrava muitas vezes, na porfia de garantir a publicação semanal. Como tudo isso já vai tão longe!
O P. Joaquim faleceu em Novembro de 1987, mas o jornal sobreviveu-lhe até hoje. Se foi seu o impulso inicial, muitos outros lhe deram continuidade, ao longo de todos estes anos. O seu jornal, nunca perdendo a matriz católica, foi alargando as fronteiras da comunicação para territórios diversificados, tornando-se espaço de diálogo de toda a comunidade torriense, a local, a regional e a que se dispersou pelo mundo. Diversidade de assuntos e de leitores, como o P. Joaquim preconizava.
Falei-lhe em desalento, explico-lhe porquê. O seu, o nosso Badaladas está em coma e os médicos que poderiam valer-lhe nada fazem para o reanimar. Já falam no enterro, sugerem vender o jornal porque, dizem eles, não é missão de uma paróquia cuidar dele. Nunca pensei ouvir isto da boca de um dos principais responsáveis. Senti que era uma afronta à sua memória, caro P. Joaquim. Eu já suspeitava do desinteresse e, até, desleixo, com que eles tratavam o jornal. Não os vi em nenhuma das palestras comemorativas dos 75 anos do Badaladas. Como nunca li qualquer texto deles a tratar do grave problema do jornal. Nem uma palavra, até agora. Desconfio, até, que nem o leem, pois caso contrário, já teriam sentido necessidade de vir a público, esclarecer os muitos que aqui têm alertado para a crise gravíssima do Badaladas. Comparo este modo de agir com a solicitude que sempre lhe vi, P. Joaquim, a sua preocupação e empenho na manutenção do jornal que tinha como principal missão fazer soar os sinos das suas páginas aos ouvidos de quem as lesse.
AMOR À COMUNIDADE
Recordo-me de uma conversa que tive consigo, P. Joaquim, a propósito de uma polémica na qual eu me envolvera nas páginas do jornal, já depois do 25 de Abril: “Escreva! Escreva! O jornal é um espaço de opinião livre, para todos!”
Foi esta orientação sua, entusiasta e pluralista, que fez deste jornal um aglutinador identitário, ajudando a cimentar a consciência cívica da comunidade torriense e, para os novos habitantes, um poderoso veículo de conhecimento histórico e de integração sociológica, na esteira da orientação por si traçada desde o primeiro número, em Maio de 1948. E bem sabemos como os leitores torrienses da diáspora, espalhados pelos cinco continentes, procuram ansiosos as novidades que a distância torna mais apetecíveis.
O Badaladas, como empresa, é viável. Está inserido numa comunidade dinâmica, maioritariamente próspera do ponto de vista económico, com fortes tradições associativas. Onde o jornal criou raízes e tem uma história brilhante. Basta ser bem gerido, com um bom agente comercial e ter uma liderança capaz de aglutinar vontades e competências, movida por um forte e genuíno amor à causa.
Imaginando, caro P. Joaquim, o que pensaria das ameaças que pairam sobre o futuro do seu Badaladas, interrogo-me se os seus continuadores nas responsabilidades paroquiais sabem merecer o precioso legado que lhes deixou. Pudesse ainda a sua memória, P. Joaquim, desinquietar-lhes a consciência e incitá-los à acção! – e transformar em combatividade o meu desalento!
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