13 agosto 2024

IGREJA DE S. DOMINGOS DE CARMÕES - VI FESTIVAL DE MÚSICA ANTIGA DE TORRES VEDRAS / Jornal BADALADAS 26 JULHO 2024

  

IGREJA DE S. DOMINGOS DE CARMÕES

VI FESTIVAL DE MÚSICA ANTIGA DE TORRES VEDRAS

 

Joaquim Moedas Duarte

(Texto e fotos)

 

Entre 18 de Maio e 29 de Junho deste ano, decorreu o VI Festival de Música Antiga de Torres Vedras, organização da Câmara Municipal de Torres Vedras. Foi seu curador Daniel Oliveira, Professor de Órgão na empresa Escola Artística de Música do Conservatório Nacional. O conceito que inspirou os cinco concertos está expresso no texto de apresentação pública: “Criando pontes entre o passado e o presente, o Festival de Música Antiga de Torres Vedras convida-nos, a todos, a uma autêntica viagem pelo património histórico de Torres Vedras”.
A Associação do Património de Torres Vedras (ADDPCTV), através de Joaquim Moedas Duarte, membro da Direcção daquela associação, foi parceira, fazendo em cada concerto a contextualização patrimonial do espaço em que ele decorria. Em 16 de Junho, foi na Igreja de S. Domingos de Carmões.

 

A IGREJA




Em 1758, o Padre Baltazar Freyre da Costa, pároco de S. Domingos de Carmões, respondeu ao inquérito que foi mandado fazer pelo Marquês de Pombal sobre os estragos feitos na sua paróquia pelo terramoto de 1755.

A igreja de que ele fala é bem diferente desta em que hoje estamos. Ficou bastante arruinada e as obras de arranjo demoraram porque, diz ele: esta freguesia é pequena e pobre, os habitantes todos tiveram destruição nas suas casas, que para nelas habitarem repararam como puderam o mais necessário, e no tempo presente estão mais necessitados pela falta e careza do pão, por cuja causa estão mais aptos para pedirem esmolas do que para poderem fazer a sua Paróquia”.

Mais adiante, informa que na igreja caíram dois pedaços da abóbada, um sobre o coro que abateu, e outro junto ao arco do cruzeiro. Toda a abóbada ficou fendida pelo meio, o arco desuniu-se, as paredes com fendas, assim como a tribuna da capela mor, “que é de pedraria com quatro colunas manchadas de branco e vermelho. A torre do sino ficou com muitas aberturas e fendas,, mas não caiu talvez por estar presa  na parte superior com linhas de ferro”.

Lembremos:

Carmões é lugar antigo, já referido documentalmente no início do séc. XIV. Devido ao crescimento do número de moradores, aqui se fez uma ermida em 1507, para assistência religiosa aos moradores, e logo depois se constituiu a paróquia, subordinada à Igreja de S. Pedro, de Torres Vedras.

Esta é uma zona onde se estabeleceram grandes quintas, sinal de prosperidade agrícola em que pontificavam famílias abastadas. Em época de grande religiosidade, dever-se-á a estas famílias a substituição da ermida primitiva por um templo maior, onde se instituíram capelas de devoção e sufrágio fúnebre, jazigos para inumação de defuntos ilustres. É isso mesmo que vemos nas lápides de dois altares laterais: do lado da Epístola, a capela instituída em 1630 por Francisco Mendo Trigoso, da família que foi proprietária da Quinta do Belo Jardim, aqui em Carmões e que mais tarde se ligaria com a família Aragão, da Quinta Nova, em Matacães. Esta capela foi reformada mais tarde, como se pode ver nas diversas inscrições, nas quais surge a data de 1775.

Do lado do Evangelho, temos a capela instituída pelo Padre Iº [Inácio? Ierónimo?] da Costa Queirós, em 1639, de uma família que terá sido de boa abastança.

Há também referências a um ramo da família Botto Pimentel, que tem jazigo mais recente no cemitério de Carmões, e de que se conhecem inumações nesta igreja.

Esta enumeração pode explicar a riqueza decorativa do templo em que estamos.




Desde logo a profusão de mármores em todos os retábulos, conferindo unidade de conjunto. O da Capela Mor, com colunas de mármore rosa e veios brancos, e capitéis compósitos. Nos outros altares, há mármores de diversas cores. Nota especial para as mesas de altar, em bloco maciço de mármore amarelo. Nas paredes laterais da Capela Mor, os mármores são substituídos por belíssimos estuques marmoreados.

Para não nos alongarmos, referimos resumidamente o que merecerá um olhar mais demorado:

O Trono do Santíssimo, no retábulo da capela-mor; colunas do coro alto, com belos capitéis e altos socos; capela batismal; silhar de azulejos do final do Séc. XVIII (D. Maria).

No altar da capela do P. Queirós, uma tábua do Séc. XVII, representando “A Virgem com o Menino intercedendo pelas Almas”.

Belíssimo lavabo da sacristia, datado de 1772.



 

PRESERVAÇÃO

Mas o tempo não parou na época dos antepassados que nos legaram este magnífico templo.

Os anos gastaram, e até arruinaram, o que eles fizeram. Só a persistência e o amor pelo Património, que são timbre da comunidade de Carmões, explicam que possamos admirar este espaço como se ele tivesse sido acabado de construir.

Referência justa à comunidade religiosa e ao empenho de pessoas como Georges Steyt e Altino Cunha, Padre Diamantino Teixeira, Pároco de S. Domingos de Carmões entre 2015 e 2021. De salientar, também, o apoio constante da Câmara Municipal de Torres Vedras.

Como se sentiria feliz, o Padre Baltazar, se aqui estivesse hoje. Ficaria como nós, fascinado por este magnífico espaço, onde iremos ouvir a música que foi criada no tempo em que esta igreja foi restaurada, depois do terramoto, o magnificente e festivo Séc. XVIII.

 

         


    

 

 

      

 

 

       

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

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