IGREJA DE S. DOMINGOS DE CARMÕES
VI FESTIVAL DE MÚSICA ANTIGA DE TORRES VEDRAS
Joaquim Moedas Duarte
(Texto e fotos)
Entre 18 de Maio e 29 de Junho deste ano, decorreu
o VI Festival de Música Antiga de Torres
Vedras, organização da Câmara Municipal de Torres Vedras. Foi seu curador
Daniel Oliveira, Professor de Órgão na empresa Escola Artística de Música do
Conservatório Nacional. O conceito que inspirou os cinco concertos está
expresso no texto de apresentação pública: “Criando pontes entre o passado e o
presente, o Festival de Música Antiga de Torres Vedras convida-nos, a todos, a
uma autêntica viagem pelo património histórico de Torres Vedras”.
A Associação do Património de Torres Vedras (ADDPCTV), através de Joaquim
Moedas Duarte, membro da Direcção daquela associação, foi parceira, fazendo em
cada concerto a contextualização patrimonial do espaço em que ele decorria. Em
16 de Junho, foi na Igreja de S. Domingos de Carmões.
A IGREJA
Em 1758, o Padre Baltazar Freyre da Costa, pároco
de S. Domingos de Carmões, respondeu ao inquérito que foi mandado fazer pelo
Marquês de Pombal sobre os estragos feitos na sua paróquia pelo terramoto de
1755.
A igreja de que ele fala é bem diferente desta em
que hoje estamos. Ficou bastante arruinada e as obras de arranjo demoraram
porque, diz ele: “esta freguesia é
pequena e pobre, os habitantes todos tiveram destruição nas suas casas, que
para nelas habitarem repararam como puderam o mais necessário, e no tempo
presente estão mais necessitados pela falta e careza do pão, por cuja causa
estão mais aptos para pedirem esmolas do que para poderem fazer a sua
Paróquia”.
Mais adiante, informa que na igreja caíram dois
pedaços da abóbada, um sobre o coro que abateu, e outro junto ao arco do
cruzeiro. Toda a abóbada ficou fendida pelo meio, o arco desuniu-se, as paredes
com fendas, assim como a tribuna da capela mor, “que é de pedraria com quatro
colunas manchadas de branco e vermelho. A torre do sino ficou com muitas
aberturas e fendas,, mas não caiu talvez por estar presa na parte superior com linhas de ferro”.
Lembremos:
Carmões é lugar antigo, já referido documentalmente
no início do séc. XIV. Devido ao crescimento do número de moradores, aqui se
fez uma ermida em 1507, para assistência religiosa aos moradores, e logo depois
se constituiu a paróquia, subordinada à Igreja de S. Pedro, de Torres Vedras.
Esta é uma zona onde se estabeleceram grandes
quintas, sinal de prosperidade agrícola em que pontificavam famílias abastadas.
Em época de grande religiosidade, dever-se-á a estas famílias a substituição da
ermida primitiva por um templo maior, onde se instituíram capelas de devoção e
sufrágio fúnebre, jazigos para inumação de defuntos ilustres. É isso mesmo que
vemos nas lápides de dois altares laterais: do lado da Epístola, a capela
instituída em 1630 por Francisco Mendo Trigoso, da família que foi proprietária
da Quinta do Belo Jardim, aqui em Carmões e que mais tarde se ligaria com a
família Aragão, da Quinta Nova, em Matacães. Esta capela foi reformada mais
tarde, como se pode ver nas diversas inscrições, nas quais surge a data de
1775.
Do lado do Evangelho, temos a capela instituída
pelo Padre Iº [Inácio? Ierónimo?] da Costa Queirós, em 1639, de uma família que
terá sido de boa abastança.
Há também referências a um ramo da família Botto
Pimentel, que tem jazigo mais recente no cemitério de Carmões, e de que se
conhecem inumações nesta igreja.
Esta enumeração pode explicar a riqueza decorativa
do templo em que estamos.
Desde logo a profusão de mármores em todos os
retábulos, conferindo unidade de conjunto. O da Capela Mor, com colunas de
mármore rosa e veios brancos, e capitéis compósitos. Nos outros altares, há
mármores de diversas cores. Nota especial para as mesas de altar, em bloco
maciço de mármore amarelo. Nas paredes laterais da Capela Mor, os mármores são
substituídos por belíssimos estuques marmoreados.
Para não nos alongarmos, referimos resumidamente o
que merecerá um olhar mais demorado:
O Trono do Santíssimo, no retábulo da capela-mor; colunas
do coro alto, com belos capitéis e altos socos; capela batismal; silhar de
azulejos do final do Séc. XVIII (D. Maria).
No altar da capela do P. Queirós, uma tábua do Séc.
XVII, representando “A Virgem com o Menino intercedendo pelas Almas”.
Belíssimo lavabo da sacristia, datado de 1772.
PRESERVAÇÃO
Mas o tempo não parou na época dos antepassados que
nos legaram este magnífico templo.
Os anos gastaram, e até arruinaram, o que eles
fizeram. Só a persistência e o amor pelo Património, que são timbre da comunidade
de Carmões, explicam que possamos admirar este espaço como se ele tivesse sido
acabado de construir.
Referência justa à comunidade religiosa e ao
empenho de pessoas como Georges Steyt e Altino Cunha, Padre Diamantino
Teixeira, Pároco de S. Domingos de Carmões entre 2015 e 2021. De salientar,
também, o apoio constante da Câmara Municipal de Torres Vedras.
Como se sentiria feliz, o Padre Baltazar, se aqui
estivesse hoje. Ficaria como nós, fascinado por este magnífico espaço, onde
iremos ouvir a música que foi criada no tempo em que esta igreja foi
restaurada, depois do terramoto, o magnificente e festivo Séc. XVIII.
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