17 novembro 2011

VISITA AO CASTRO DO ZAMBUJAL


Eram 27 visitantes de uma excursão cultural organizada pela Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos. Gente viajada e informada. Mas ninguém conhecia o Zambujal.
No final a impressão foi de admiração e surpresa pelo monumento pré-histórico que lhes foi revelado.
No entanto, as conversas posteriores mostraram também uma perspetiva crítica quanto ao que viram e ao modo como aquele património está mal cuidado, o que nos levou a manifestar um certo sentimento de vergonha pois nos sentimos, de algum modo, responsáveis pela incúria e abandono daquele espaço.

Vejamos. A Câmara Municipal já fez alguma coisa, é um facto: adquiriu os terrenos, apoiou as campanhas arqueológicas, colocou um painel informativo, fez obras de melhoramento no Casal onde vive a senhora e o filho que "guardam" o sítio.
Mas falta muito mais. Há a ideia/projeto de um Centro interpretativo, no qual será exposto o valioso espólio arqueológico encontrado até agora mas as três entidades que intervêm no processo - o Município, o IGESPAR e o Instituto Arqueológico Alemão ( que tem feito a exploração arqueológica desde 1964) - não encontram formas de articulação que permitam avançar para a sua concretização.

Pela nossa parte, que podemos fazer? Divulgar! Alertar! E isso temos feito.
E podemos também dar sugestões que nos parecem viáveis e de fácil concretização:

1ª - Disponibilizar ao público interessado a mostra do espólio do Zambujal.
Esse já foi o núcleo principal do Museu no tempo de Leonel Trindade, e era admirado como um dos mais expressivos espólios nacionais do Calcolítico. Agora está encaixotado. Recentemente os funcionarios do Museu tiveram a iniciativa - que aplaudimos! - de colocar uma vitrina com algum desse espólio à vista do público, no primeiro andar do Museu, mas em condições deprimentes de exposição. Quem lá for perceberá porquê. Entendamo-nos: visitar o Castro do Zambujal sem ter a contrapartida de admirar o seu espólio é como matar a fome com a leitura de uma revista sobre culinária...

2ª - No próprio espaço do Castro impõe-se a construção de um passadiço de madeira que permita a visualização sem que os visitantes destruam as estruturas de pedra. É que a parte mais espetacular do Castro é a barbacã e a sua apreciação exige que as pessoas percorram um caminho penoso - e perigoso! - entre as pedras. O que se impõe, portanto, é uma estrutura simples em madeira de pinho tratado, à semelhança, aliás, do que há noutros lugares, como é o caso do Castro de Leceia (Barcarena, Oeiras) como se vê nestas fotos:


Castro de Leceia

Alunos de uma escola em visita ao Castro de Leceia ( fotos tiradas da net)


Enquanto não se constrói o tal Centro Interpretativo ( coisa dispendiosa e demorada) - por que não fazer estas pequenas ações de valorização do nosso Património?
Anda muita gente por aí a passear ou em visitas de estudo, sobretudo os "aposentados" e as nossas escolas. Há que lhes dar condições de fruição do nosso riquíssimo património sem que nos sintamos envergonhados...

2 comentários:

  1. Recebemos no nosso mail o seguinte comentário ao nosso post:
    Cara ADDPCTV,
    É igualmente discutível a solução implementada em Leceia. O impacto que tem na leitura do Castro é enorme … Por outro lado, a vergonha não nos orienta a ação. Se reparar o Castro do Zambujal está em melhor estado de conservação, fruto das ações de manutenção que são realizadas regularmente. Não tem vergonha das ervas e mato que invadem o Castro de Leceia? (aliás, observáveis nas fotografias que enviou).
    Quanto ao MMLT, nos últimos 5 anos foram realizadas duas exposições temporárias sobre o Castro do Zambujal e o Campaniforme - ambas em parceria como IAA, e uma delas (Campaniforme), com o MNA e um conjunto alargado de outros museus municipais e regionais. O espólio arqueológico do Museu voltará a ter um lugar próprio na exposição permanente. A atual política (museológica) do Museu passa por alternar o estilo e os conteúdos das suas exposições e demais atividades culturais. Julgamos que ter uma exposição permanente durante 20anos, sem qualquer dinâmica, não favorece a comunicação com o público.
    Atentamente
    Rui Brás
    Chefe da Divisão de Museus, Galerias e Bibliotecas (CMTV)
    PS. Não invalida que se pensem soluções, de curto prazo, que promovam a visita ao Castro do Zambujal. Neste aspeto, as sugestões da ADDPCTV serão sempre bem acolhidas.

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  2. Caro Dr. Rui Brás

    Obrigado pelas suas palavras, revelam que está atento.

    Talvez o termo "vergonha" seja forte, concordamos. Mas os factos são factos: o espólio do C Zambujal está encaixotado há muitos anos, com prejuízo evidente para o trabalhos das nossas escolas, e não só; e as visitas ao local do Castro põem em risco as estruturas de pedra e a segurança das pessoas.
    O Casal que foi construído na Idade Média e que lá continua é que tem um impacto visual tremendo, bem evidente. Por que não erguer uma plataforma de observação, em madeira, do género das que se usam na observação de aves, encostada ao Casal? Teria a vantagem de "disfarçar" a fealdade daquela construção e permitiria a observação, a partir de cima, do trecho mais expressivo do Castro.

    Só queremos ser construtivos, pois partilhamos o gosto e a preocupação pelo nosso Património.

    Os nossos melhores cumprimentos

    A DIREÇÃO DA ADDPCTV

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