07 outubro 2010

UM MONUMENTO NACIONAL DE TORRES VEDRAS

Quem alguma vez viu a Gruta Calcolítica da Ermegeira? E, no entanto, ela é um dos nove Monumentos Nacionais do concelho de Torres Vedras.
Não se sinta mal, leitor! Nós também não a conhecíamos "ao vivo". Sabíamos da descrição que dela se faz no site da Direcção Geral do Património Cultural. Sabíamos também que ficava na Ermegeira, num terreno particular, tínhamos uma fotografia tirada nos anos 80, mas nunca lá tínhamos estado.
Resolvemos ir ao encontro dela. O contacto foi fácil. Através do sr. Emílio Correia e da Junta de Freguesia do Maxial, chegámos à fala com o proprietário, dono da Quinta de Entrecampos, sr. Manuel Pinheiro, que logo se dispôs a acompanhar-nos. Está situada num caminho de terra batida, à saída da povoação da Ermegeira, freguesia do Maxial.
Da gruta já pouco resta: apenas uma parte da calote esférica à beira de um caminho agrícola, tapada por ervas altas que foi necessário pisar para a tornar visível.
Vejamos melhor:


 A "gruta" está no cômoro antes das casas, lado direito do caminho por onde íamos, logo a seguir aos paus da vinha.


A calote que resta da gruta. O que lá falta foi destruído pelo vandalismo de alguns que ali andaram à procura de tesouros, como deixou escrito o prof. Manuel Heleno. E também pela prática agrícola. Não esqueçamos, é uma construção que tem mais de 4 500 anos.

O sr. Emílio foi o nosso elo de ligação. E não se importou de ficar na foto para se ter ideia mais exacta do tamanho da calote.



Mais perspectivas do que resta da gruta.

Pergunta-se, então: porque é que aquele sítio foi classificado como Monumento Nacional no início dos anos 40 do século XX?
Veja-se o que diz o tal site da DGPC na sua nota histórico-artística.
Não é por esta simples nota que os leitores poderão ficar bem esclarecidos acerca do assunto. Seria necessário consultar a bibliografia indicada e aprofundar conhecimentos sobre a Pré-História na Estremadura portuguesa.
Fiquemo-nos com esta nota: os vestígios da ocupação humana em tempos recuados têm sido valorizados ao longo dos tempos, sobretudo desde que, a partir de meados do séc. XIX a Arqueologia se tornou uma das principais ciências auxiliares da História. No concelho de Torres Vedras viveu um pioneiro desta ciência, Leonel Trindade a quem se deve o maior impulso no seu incremento, a partir da descoberta do Castro do Zambujal, em 1938.
A gruta da Ermegeira foi explorada por Manuel Heleno e o espólio encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia, em Belém. A descrição do trabalho de pesquisa pode ver-se na revista "Ethnos", 2º vol, Lisboa, 1942, p. 449-469

Dele se destacam estes pendentes de ouro, guardados na Casa-Forte deste Museu.

Mais do que pelos quase insignificantes vestígios actuais, a importância desta jazida arqueológica é conferida pela tipologia da gruta, pela antiguidade e pelos achados que lhe estão associados. Razões suficientes para justificarem a sua classificação como Monumento Nacional.

Ao proprietário do terreno e ao povo da Ermegeira, compete acarinhar esta importante memória patrimonial, dando-a a conhecer aos mais jovens e explicando o seu significado.


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