Sabemos que esta não é matéria fácil mas, por isso mesmo, há literatura especializada e um histórico de experiências que convém ter presente, como é o caso do estudo do Prof. Rui M. V. Cortes, da Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Na revista PEDRA & CAL encontrámos um artigo interessante sobre o assunto, que transcrevemos com a devida vénia. Pena é que as três páginas de desenvolvimento se apresentem manuscritas, num maneirismo escusado, que nos obrigou a digitalizá-las como imagens e torna difícil a leitura.
REQUALIFICAÇÕES URBANAS POUCO ECOLÓGICAS (1)
JORGE MASCARENHAS
Doutor em Arquitectura, Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Tomar
Em muitas cidades do país assistimos, recentemente, a grandes obras de "requalificação". Na maioria dos casos, estas incidiram sobre zonas de troços de rios que atravessam as cidades. Seria de esperar que as intervenções procurassem restabelecer algum equilíbrio ecológico entre o rio e as zonas urbanas. Porém, talvez por desconhecimento, estão longe de restituir as condições para um bom funcionamento do ecossistema do rio, o que criaria condições de bem-estar, a longo prazo, para as populações que vivem nas zonas urbanas adjacentes.
As intervenções de requalificação das margens dos rios são complexas, dada a dualidade de matérias em causa: por um lado, as questões relativas à construção civil e, por outro, a sensibilidade para as matérias da Biologia. Mas, neste ano, que a Assembleia Geral da ONU declarou como «Ano Internacional da Biodiversidade», queremos chamar a atenção para alguns aspectos das intervenções que põem em causa a biodiversidade.
Nos últimos anos, por todo o país, registaram-se obras de requalificação de cidades que se limitaram a artificializar as margens dos rios através de operações de higienização com margens pavimentadas, açudes, espelhos de água, paredões de betão, relvados, etc. E certo que muitos troços dos rios estavam bastante degradados, mas, qualquer requalificação deveria procurar repor o equilíbrio ecológico e nunca adoptar soluções que conduzam à artificialização dos rios. Neste sentido, podemos estar a transmitir aos nossos jovens, que vivem nas cidades, uma ideia errada de um rio... Talvez devido ao grande deslumbramento que, actualmente, as pessoas têm pela natureza, grande parte das obras incidiu, de forma intensiva, em troços de rios, no interior das cidades, procurando criar condições de desfrute das margens através de uma higienização. Esta, feita através de uma artificialização das margens e do rio, agrava a perda de biodiversidade, de que grande parte dos nossos rios padece.
Não podemos esquecer que, tanto a nível mundial, como no nosso país, a biodiversidade de água doce é a mais ameaçada, encontrando-se a níveis muito alarmantes. A título de exemplo, diga-se que, das quarenta espécies de peixes conhecidas dos rios portugueses, uma boa parte está em risco de desaparecer.
Ao contrário de outros países europeus, nos rios do sul da Europa, em especial de Portugal, devido à irregularidade das chuvas e às variações de solos nas diversas bacias (granitos, calcários e xistos), certas espécies evoluíram de forma independente, criando espécies genéticas únicas a nível mundial. E o caso dos mexilhões de água doce, que apresentam muito polimorfismo das conchas devido às variações de solos.
Para melhor se perceber o que está em causa, nas três páginas seguintes, explicamos como funciona um troço médio de um rio, alguns aspectos preocupantes das intervenções e, por fim, algumas soluções da Engenharia Natural para se requalificar os rios.
(1) Publicado na revista PEDRA & CAL, nº 45, Janeiro 2010
BIBLIOGRAFIA
Environmental Science, G. Tyler Miller, ll.a ed., Ed. Thomson, International Student Edition, 2006.
Enciclopédia do Conhecimento, Ciência e Tecnologia, Os Animais, Ed. Resomnia Editores, Lisboa, 1990.
Earth Science and the Environment, Turk Jona-than, Ed. Thompson, International Student Edition, 2007.
Enviromental Science, A Global Concem, William P. Cunningham e Mary Ann Cunningham, 10a ed., International Edition, 2007.
Habitats Naturais e Seminaturais de Portugal Continental, ICNB, Ed. Assírio & Alvim, Lisboa, 2009.
Páginas de desenvolvimento ( clicar para aumentar):
A este propósito chamo a atenção para o site da Câmara Municipal de T Vedras, onde existe um FORUM, com um tópico sobre o rio Sizandro, iniciado por nós e continuado por outros foristas que deram uma boa contribuição para a discussão do assunto.
ResponderEliminarRequalificar um rio não é meter uma máquina retro-escavadora a rapar as margens até ao osso. É muito mais do que isso...