A propósito do Dia Nacional dos Castelos
algumas reflexões sobre o estado de conservação e o uso do
CASTELO DE TORRES
VEDRAS
Desde 1984 que se comemora em outubro o Dia Nacional dos Castelos, com o objetivo de promover em todo o país iniciativas e atividades que visam o conhecimento e a reflexão sobre o património fortificado (1). Os castelos são testemunhos da memória coletiva dos povos e representam uma importante referência arquitetónica, histórica, cultural e simbólica de um país.
E foi precisamente há 40 anos, que a ADDPCTV promoveu uma
jornada comemorativa a nível nacional, em colaboração com a Associação dos Amigos
dos Castelos e a Câmara Municipal, que terá marcado o início de uma era de
renovado interesse pelo nosso Castelo.
Desde então para cá, e ao contrário de uma certa percepção,
o monumento tem sido objecto de maior cuidado, se considerarmos o estado de
abandono em que se encontrava.
A ocorrência de escavações arqueológicas, a realização do”
Castelo deMúsica”, a reabertura da Igreja de Santa Maria, a colocação de placas
informativas no recinto e o relativo asseio do espaço visitável, mas sobretudo,
a criação do polo informativo no Torreão, com informação adequada - um vídeo de
grande qualidade que explica ao visitante o tipo de construção que as ruínas tornam
difícil de perceber – são entre outros, factores que dignificam o nosso
castelo. E apesar de tudo, o Castelo continua a ser o monumento mais visitado –
por turistas, que não por torrienses.
UMA PROPOSTA A TER EM CONTA
Vem tudo isto a propósito da reafirmação recente de uma
proposta do movimento político local - Unidos por Torres Vedras - visando: “...
fazer do Castelo um equipamento vivo, trazendo novas valências e atividades
culturais de lazer que permitam o usufruto dos torrienses”, como se pode ler
num comunicado bem formulado, onde não falta o cuidado com a referência à
manutenção de ...” todos os traços de identidade” ... e ao seu enquadramento
...” como âncora à urgente dinamização do centro histórico”. E conclui a sua
posição com a proposta de ... “abertura de um Concurso de Ideias para
requalificar o Castelo” ... através de …”um processo que resulte de uma
discussão pública sobre a natureza da recuperação, dando voz a especialistas e
à população do concelho”. Perante tal iniciativa, a Associação do Património de
Torres Vedras tem o dever, em primeiro lugar, de se congratular pela inequívoca
demonstração de interesse pelo monumento que simbolicamente se afirma como
imagem fundacional da nossa ancestral comunidade. Mas igualmente se impõe o compromisso
de alertar para alguns perigos que uma ideia assim formulada, com justas e
defensáveis motivações, possa acarretar. Sem se discutir a importância da fruição
pública do Património, há que reconhecer que alguns problemas de manutenção
resultam de um uso massivo como espaço de “eventos”. Alguns dos danos que a
seguir elencamos, devem-se ou são potenciado precisamente por eventos a que acorre
um tipo de público pouco respeitador da herança cultural e por uma organização
menos cuidada, quer pela falta de preparação e insuficiência de meios materiais
e humanos.
CUIDAR, CONSERVAR, RESTAURAR
O fundamental deve ser a acção de preservação do castelo, função legalmente atribuída à Câmara Municipal torriense, cujo trabalho temos seguido, não deixando de, a espaços, chamarmos a atenção para alguns aspectos mais relevantes. Como é o caso da Porta do Paço dos Alcaides que apresenta uma situação de risco, uma vez que se encontra desprovida das grandes peças de cantaria numa das umbreiras. A reposição destas pedras é fundamental para a sustentação do pesado lintel em arco abatido. Igualmente as umbreiras da porta de acesso ao cimo do torreão apresentam um grande desgaste. No interior do Paço - um espaço aparentemente apetecível para concertos e afins - o piso em calçada (original) está cada vez mais deteriorado, agravado pela passagem de materiais pesados que são arrastados, provocando falhas nas estruturas e levantamento de pedras. A presença de um número significativo de pessoas neste tipo de eventos também tem provocado o derrube de vestígios remanescentes dasconstruções interiores do paço. Nas grossas paredes exteriores são várias as zonas em que é visível a falta de reboco de consolidação, a exigir uma continuada atenção. Também a colocação de sinalética, com materiais não adequados tem como resultado a degradação das paredes. Porque, não nos iludamos, pela aparência rude das ruínas do castelo podemos intuir uma ideia de robustez, mas na realidade elas são uma estrutura frágil. Não esquecer que estão ali, pelo menos, cinco séculos de desgaste, um terramoto, e duas campanhas militares.
SIM AO DEBATE DE IDEIAS
Dito isto, que não se subentenda uma desaprovação da iniciativa – que saudamos – mas antes um apelo ao cuidado pelo compromisso fundamental para com o Património, que é o de o preservar para os vindouros. Até lá, que se continue a manter e reparar as estruturas, a cuidar dos caminhos, a cortar as ervas, para que possamos sentir a sua presença como algo que nos assegura um sentimento de pertença e nos insufla a ideia de continuidade geracional, em suma, que nos irmana num sentimento de comunidade. Essa é a principal função do Património.
(1(1) Inicialmente era celebrado no primeiro sábado do
mês mas em 2003 estabeleceu-se o dia 7 como a data oficial.
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