14 outubro 2024

IGREJA DE SANTIAGO - Jornal BADALADAS | 6 de Setembro 2024

 

IGREJA DE SANTIAGO – TORRES VEDRAS

VI FESTIVAL DE MÚSICA ANTIGA DE TORRES VEDRAS

Joaquim Moedas Duarte

(texto e fotos)

 

O VI Festival de Música Antiga de Torres Vedras decorreu entre 18 de Maio e 29 de Junho do corrente ano. Organizado pelo sector de Cultura da Câmara Municipal, com a curadoria do organista e professor Daniel Oliveira, teve como linha condutora a ligação entre a Música e o Património religioso edificado. A Associação do Património de Torres Vedras (ADDPCTV) colaborou, fazendo em cada concerto a contextualização patrimonial do espaço em que ele decorria. Em 26 de Junho, foi na Igreja de Santiago, na cidade de Torres Vedras.

 

 






O TEMPLO

De novo marcámos encontro nesta Igreja de Santiago, numa feliz articulação entre o Património Edificado e o Património Musical.Recordemos alguns aspectos essenciais sobre este templo:

Foi uma das quatro Igrejas matrizes de Torres Vedras, bem no Centro Histórico da então Vila Medieval. Sabemos da sua existência já em 1248 / séc. XIII.

O espaço em que hoje estamos resulta da reconstrução da antiga ermida, feita entre os séculos XVI e XVII.

Do séc. XVI temos três relíquias:

 O portal principal, de estilo manuelino, que o tempo e a poluição têm vindo a degradar inexoravelmente; a pia baptismal, numa capela cujo desleixo e indiferença dos responsáveis religiosos tornam indigna desta peça preciosa, onde foram baptizados milhares de antepassados nossos; uma escada de pedra, em caracol, igualmente vítima de grande desleixo, que dá acesso ao coro alto, onde restam os vestígios de um cadeiral, datado de 1634, infelizmente em ruínas. Este coro é de grande monumentalidade, assente em três arcos, dos quais o do meio é abatido, com elegante desenho.

Olhemos bem a abóbada: em forma de berço, de grandes caixotões, sobreviveu ao terramoto de 1755, ao contrário das outras igrejas de Torres Vedras. Ela cobre uma nave muito ampla, onde existiam seis altares, três de cada lado. Estão hoje completamente desfigurados, pois este templo foi retirado do culto em meados do séc. XX. Destaca-se, no corpo da Igreja, o belíssimo púlpito, todo em mármore, do século XVII. Está hoje quase ao nível dos nossos olhos pois o chão da Igreja sofreu múltiplos alteamentos, devido às frequentes cheias do Sizandro, que inundavam o interior.

Na parede onde se abre o arco triunfal, foram descobertas, durante umas obras de restauro, há cerca de quarenta anos, pinturas murais que estavam cobertas por estuque, provavelmente do século XVIII, época da última grande reconstrução da Igreja, em que terá sido erguida a actual fachada, com a torre sineira.

Mas a maior riqueza decorativa deste templo está na capela mor. Vejam-se os dois silhares de azulejos figurativos, do século XVIII, atribuídos ao Mestre PMP, que representam os atributos de Santiago: a cruz e os apetrechos do peregrino. Sobre estes azulejos, há quatro telas, recentemente restauradas, representando quatro doutores da Igreja: do lado esquerdo (Evangelho), S. Jerónimo e Santo Agostinho; do lado direito (Epístola), Santo Ambrózio e S. Gregória Magno.

O retábulo, que seria em talha dourada, característica do estilo barroco, está reduzido à estrutura base, mas mantém no alto uma cartela com as insígnias de Santiago. E assenta num friso de mármores embutidos. No teto, há belos ornatos que preenchem o espaço entre os arcos de sustentação.

De referir ainda, na sacristia, o monumental lavabo, também de mármores embutidos e o grande arcaz com ferragens do séc. XVIII.

 

 





DEFICIENTE PRESERVAÇÃO

 

Esta Igreja, por iniciativa da Escola Secundária Henriques Nogueira e da Associação para a Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras (ADDPCTV), foi classificada pelo Governo da República Portuguesa, em 2013, como Monumento de Interesse Público.

Este facto implica responsabilidades acrescidas de preservação e conservação. Infelizmente, verificamos que, a notável acção de valorização desta Igreja, realizada pelo  falecido Pároco, Padre Daniel Batalha, não teve continuidade. Entre outras intervenções necessárias, necessitam de obras urgentes a capela baptismal e a escada do coro – obras que até nem seriam muito dispendiosas.

Respondendo à importância deste Monumento, a Câmara Municipal, com a aquiescência da Paróquia, incluíu-o no Projecto ISA Património, o que permite que ele esteja aberto ao público todos os dias da semana, excepto à Segunda-feira. É triste que as pessoas que o visitam verifiquem que, afinal, uma parte significativa dele esteja em tão lamentável estado de conservação.

 

 


 

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