IGREJA DE SANTIAGO –
TORRES VEDRAS
VI FESTIVAL DE MÚSICA
ANTIGA DE TORRES VEDRAS
Joaquim
Moedas Duarte
(texto e
fotos)
O VI Festival de Música
Antiga de Torres Vedras decorreu entre 18 de Maio e 29 de Junho do corrente
ano. Organizado pelo sector de Cultura da Câmara Municipal, com a curadoria do
organista e professor Daniel Oliveira, teve como linha condutora a ligação
entre a Música e o Património religioso edificado. A Associação do Património
de Torres Vedras (ADDPCTV) colaborou, fazendo em cada concerto a
contextualização patrimonial do espaço em que ele decorria. Em 26 de Junho, foi
na Igreja de Santiago, na cidade de Torres Vedras.
O TEMPLO
De novo marcámos
encontro nesta Igreja de Santiago, numa feliz articulação entre o Património
Edificado e o Património Musical.Recordemos alguns aspectos essenciais sobre
este templo:
Foi uma das quatro
Igrejas matrizes de Torres Vedras, bem no Centro Histórico da então Vila
Medieval. Sabemos da sua existência já em 1248 / séc. XIII.
O espaço em que hoje
estamos resulta da reconstrução da antiga ermida, feita entre os séculos XVI e
XVII.
Do séc. XVI temos três
relíquias:
O portal principal, de estilo manuelino, que o
tempo e a poluição têm vindo a degradar inexoravelmente; a pia baptismal, numa
capela cujo desleixo e indiferença dos responsáveis religiosos tornam indigna
desta peça preciosa, onde foram baptizados milhares de antepassados nossos; uma
escada de pedra, em caracol, igualmente vítima de grande desleixo, que dá
acesso ao coro alto, onde restam os vestígios de um cadeiral, datado de 1634,
infelizmente em ruínas. Este coro é de grande monumentalidade, assente em três
arcos, dos quais o do meio é abatido, com elegante desenho.
Olhemos bem a abóbada: em forma de berço, de grandes
caixotões, sobreviveu ao terramoto de 1755, ao contrário das outras igrejas de
Torres Vedras. Ela cobre uma nave muito ampla, onde existiam seis altares, três
de cada lado. Estão hoje completamente desfigurados, pois este templo foi retirado
do culto em meados do séc. XX. Destaca-se, no corpo da Igreja, o belíssimo
púlpito, todo em mármore, do século XVII. Está hoje quase ao nível dos nossos
olhos pois o chão da Igreja sofreu múltiplos alteamentos, devido às frequentes
cheias do Sizandro, que inundavam o interior.
Na parede onde se abre
o arco triunfal, foram descobertas, durante umas obras de restauro, há cerca de
quarenta anos, pinturas murais que estavam cobertas por estuque, provavelmente
do século XVIII, época da última grande reconstrução da Igreja, em que terá
sido erguida a actual fachada, com a torre sineira.
Mas a maior riqueza
decorativa deste templo está na capela mor. Vejam-se os dois silhares de
azulejos figurativos, do século XVIII, atribuídos ao Mestre PMP, que
representam os atributos de Santiago: a cruz e os apetrechos do peregrino.
Sobre estes azulejos, há quatro telas, recentemente restauradas, representando
quatro doutores da Igreja: do lado esquerdo (Evangelho), S. Jerónimo e Santo
Agostinho; do lado direito (Epístola), Santo Ambrózio e S. Gregória Magno.
O retábulo, que seria
em talha dourada, característica do estilo barroco, está reduzido à estrutura
base, mas mantém no alto uma cartela com as insígnias de Santiago. E assenta
num friso de mármores embutidos. No teto, há belos ornatos que preenchem o
espaço entre os arcos de sustentação.
De referir ainda, na
sacristia, o monumental lavabo, também de mármores embutidos e o grande arcaz
com ferragens do séc. XVIII.
DEFICIENTE PRESERVAÇÃO
Esta Igreja, por
iniciativa da Escola Secundária Henriques Nogueira e da Associação para a
Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras (ADDPCTV), foi classificada
pelo Governo da República Portuguesa, em 2013, como Monumento de Interesse Público.
Este facto implica
responsabilidades acrescidas de preservação e conservação. Infelizmente,
verificamos que, a notável acção de valorização desta Igreja, realizada
pelo falecido Pároco, Padre Daniel
Batalha, não teve continuidade. Entre outras intervenções necessárias,
necessitam de obras urgentes a capela baptismal e a escada do coro – obras que
até nem seriam muito dispendiosas.
Respondendo à
importância deste Monumento, a Câmara Municipal, com a aquiescência da Paróquia,
incluíu-o no Projecto ISA Património, o que permite que ele esteja aberto ao
público todos os dias da semana, excepto à Segunda-feira. É triste que as
pessoas que o visitam verifiquem que, afinal, uma parte significativa dele
esteja em tão lamentável estado de conservação.
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