11 agosto 2013

MONOGRAFIAS DAS FREGUESIAS DE TORRES VEDRAS




Algumas pessoas têm-nos pedido opinião sobre uns livros publicados pelo sr. Fernando Pereira Sá dedicados à História e ao Património Cultural de algumas freguesias do nosso concelho.
É-nos penoso escrever estas linhas pois, do pouco que conhecemos do autor, sabemos que é pessoa esforçada e persistente. Mas isso não chega para garantir qualidade ao que faz. Temos diante de nós dois desses livros, um sobre a Carvoeira e o outro, muito recente, sobre Runa e a honestidade obriga-nos a dizer que são obras muito más. 
O autor não sabe escrever Português. Não há um parágrafo que se aproveite, tantos são os erros de concordância, de vocabulário e de construção da frase. 
Do ponto de vista do  conhecimento histórico, estes livros são uma calamidade, pouco ou nada se aproveita. Não há uma referência bibliográfica, uma citação, um estudo conhecido. O livro está cheio de legendas pouco rigorosas e de apreciações pueris. Mas o que é mais grave são os erros resultantes de invenções ou de ter ouvido a alguém uma opinião qualquer que ele refere como se fosse uma fonte histórica. 

Como é que o autor consegue fazer livros tão volumosos - o de Runa tem mais de 500 páginas - ?
Simples: junta dezenas e dezenas de fotos com que vai enchendo as páginas do livro. A maior parte não tem qualquer relevância como é o caso do cemitério do CAS de Runa que levou o autor a encher dez páginas com vistas do exterior e interior - juntando a uma delas esta legenda: "Aqui chegou a estar sepultada a Princesa Benedita até à trasladação para o Panteão...", uma pura invenção que não tem qualquer suporte documental. Bastaria ao autor consultar a biografia de D. Maria Francisca Benedita escrita por Paulo Drumond Braga e publicada pela Câmara Municipal de Torres Vedras. E este é apenas um exemplo entre muitos.

O que nos deixa perplexos não é a ignorância ou a falta de rigor  manifestadas pelo autor destes livros pois é sabido que uma das características dos ignorantes é o atrevimento. O que nos espanta é o facto de ter acolhimento entre pessoas que tinham obrigação de serem prudentes e rigorosas com as encomendas. Caso das Juntas de Freguesia que apadrinham estas publicações, as quais em nada as prestigiam ou, até, da Associação Leader Oeste que financiou uma destas monografias. Alguns desses responsáveis disseram-nos que acreditaram na boa vontade e no voluntarismo do autor. Na boa-fé e no desejo legítimo dos autarcas de valorizar as suas terras, nós também acreditamos.  Mas isso chega para dar crédito a um trabalho público? Leram previamente os escritos? Aconselharam-se com pessoas credenciadas? 


Respeitamos o senhor Pereira Sá como pessoa, nada temos contra ele, embora nos incomode a prosápia de se considerar um investigador, caso típico de publicidade enganosa. Mas o respeito pelos leitores, muitos deles alunos das nossas escolas em busca de elementos para os seus trabalhos, obriga-nos a denunciar vigorosamente as suas publicações que, pela falta de qualidade redactorial e notório desconhecimento da História, temos de classificar como autênticas fraudes. 


7 comentários:

  1. 1. Anónimo2/8/13
    O mal não é do Sá, que é tão ignorante como as pessoas que lêem os seus livros mas de quem usa o dinheiro público para promover a ignorância e a incultura. Com políticos destes estamos em piores mãos do que no tempo do Salazar, que era um ditador mas mais culto e inteligente que qualquer governante actual
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    2.
    Anónimo3/8/13
    Já lá vão uns anitos que referi sobre estes trabalhos que não tem o mínimo de credibilidade. Existem pessoas que adquirem livros nas juntas como sendo um historial da freguesia. Pois, isto não passa de um álbum de fotografias com legendas que enganam os leitores.
    O Sr. Fernando Pereira de Sá diz-se escritor com carteira... mas como é possível?
    Sou da opinião do comentário acima, a culpa não é do sr. Sá, mas sim de todos aqueles que alinham nesta ignorância e incultura.

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  2. Anónimo11/8/13
    Li com atenção o post e assaltam-me, desde já, algumas questões que julgo pertinentes!
    Em primeiro lugar como é possível que as Juntas de Freguesia invistam dinheiro dos seus orçamentos em tais livros?
    Ninguém faz revisão dos mesmos? Entenda-se revisão como verificação dos factos e correcção do português.
    Com tantos livros publicados, como é possível que ainda ninguém se tenha acercado do autor e lhe dissesse que o seu trabalho está mais próximo da ficção do que da história?
    E a Associação de Defesa do Património o que fez? Foi preciso chegar a este ponto para enxovalhar o nome do autor?
    Como vêm concordo que era necessário alguém fazer alguma coisa, agora vir para a praça pública criticar de forma violenta penso ser desnecessário.
    O último parágrafo, então, é uma preciosidade na suposta validação da tomada de posição da Associação. Os senhores professores têm obrigação de explicar aos seus alunos que nem todas as fontes são fidedignas. Se os livros das Freguesias não o são também uma elevada percentagem do que circula na internet não o é.
    É urgente que redijam um texto a criticar o que se publica na net!!!
    O Mundo é feito de muitas pessoas e das suas maneiras de ser. Uns, na sua ignorância, não medem o alcance do que procuram fazer e julgam que alcançaram um alto patamar; outros, na sua suposta sabedoria, julgam-se acima de todos os outros e com direitos exclusivos de transmissão de conhecimentos.
    Em coisa alguma os extremismos são positivos.
    Era mais bonito estender a mão ao sr. Sá e ajudá-lo nas suas recolhas.
    Todos tínhamos a ganhar pois a ele ninguém tira a vontade e a capacidade de encontrar forma de financiar as suas publicações.
    Cumprimentos

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  3. 4.
    Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras11/8/13
    Excepcionalmente publicámos os três comentários anónimos que nos chegaram. Pareceram-nos escritos de boa-fé e de teor pertinente. Lamentamos que os seus autores não deixem a sua identificação no final do texto.(Ressalvamos que um deles se identificou via e-mail).

    Já trocámos algumas opiniões sobre este assunto no Facebook com leitores que se insurgiram com o nosso texto. Continuemos o diálogo, dirigido agora ao autor do comentário mais longo.

    1 -"E a Associação de Defesa do Património o que fez? Foi preciso chegar a este ponto para enxovalhar o nome do autor?"

    Parece-nos desadequada a expressão final "enxovalhar o nome do autor". Desde quando é que uma crítica frontal significa enxovalho? Ao longo do nosso texto tivemos o cuidado de fazer diversas ressalvas às condições do autor. E podemos garantir: já tivemos contactos com o Sr. Sá em que lhe transmitimos as nossas profundas reservas quanto ao seu trabalho. A sua resposta foi desabrida e de grande veemência, não aceitando a crítica construtiva. Que mais podíamos fazer? Acreditámos que a falta de qualidade dos livros acabaria por vacinar futuros “compradores”. Tal não aconteceu, o que muito nos tem espantado. Até que nos pareceu necessário tomar uma posição pública para responder a algumas interrogações que nos foram postas.

    2 - “O último parágrafo, então, é uma preciosidade na suposta validação da tomada de posição da Associação. Os senhores professores têm obrigação de explicar aos seus alunos que nem todas as fontes são fidedignas. Se os livros das Freguesias não o são também uma elevada percentagem do que circula na internet não o é.”

    Uma preciosidade? Suposta validação? Não queríamos tanto – passe a ironia! Limitamo-nos a verificar a pandemia que grassa por aí quanto às fontes usadas pelos alunos das nossas escolas. Os professores passam grande parte do seu tempo a explicar isso mesmo. Trabalho difícil, quando sabemos que os tais livros se encontram na Biblioteca Municipal, na secção de História Local, para consulta dos alunos…
    Que fazer? Pedir para retirar os livros? Ou deixar que lá estejam e fazer um trabalho de esclarecimento, denúncia, correcção? O nosso pequeno texto é um contributo para isso, nada mais.

    3 - “Em coisa alguma os extremismos são positivos.
    Era mais bonito estender a mão ao sr. Sá e ajudá-lo nas suas recolhas.
    Todos tínhamos a ganhar pois a ele ninguém tira a vontade e a capacidade de encontrar forma de financiar as suas publicações.”

    Já “estendemos a mão ao sr. Sá” ( não gostamos da expressão… enfim…), com acima referimos. Qual foi a resposta?

    E ainda: “na sua suposta sabedoria, julgam-se acima de todos os outros e com direitos exclusivos de transmissão de conhecimentos.”

    Mais uma vez a Associação do Património de TV é acusada de extremismo e de pretensões de sabedoria exclusiva. Paciência. Tentamos fazer bem o nosso trabalho VOLUNTÁRIO e GRATUITO, ao abrigo do espaço que aos cidadãos é conferido pela Lei do Património ( Lei nº 107/2001m de 8 de Setembro). Só isso.
    Estamos em locais públicos ( os blogues e o facebook) onde procuramos a colaboração das pessoas interessadas e nos dispomos a dar a nossa, com a máxima abertura. Temos colaborado com muitas pessoas e instituições, estamos a realizar parcerias e temos um Programa de Acção que nos norteia, na ânsia de sermos úteis à comunidade torriense.

    Parecemos assim tão cheios de sabedoria, acima dos outros, com direitos exclusivos? Então, de duas, uma: Ou não sabemos fazer bem o nosso trabalho – e, nesse caso, muito nos penitenciamos, pois é o nosso Património que é prejudicado; ou somos mal entendidos, deficientemente lidos e ouvidos e… temos pena!
    Provavelmente a verdade está no meio dessas duas hipóteses que não são alternativas inconciliáveis mas aspectos complementares.
    Qual o caminho? Da nossa parte tentaremos melhorar as nossas intervenções; mas vamos esperar melhor compreensão dos receptores da nossa mensagem.
    Cordialmente

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  4. Por razões de transparência e frontalidade, optámos por identificar o autor do post sobre as Monografias de Torres Vedras: Joaquim Moedas Duarte, membro da Direcção da Associação do Património de Torres Vedras.
    Dado o período de férias e a ausência dos restantes elementos da Direcção, o texto não foi previamente lido e discutido em conjunto, embora as ideias nele contidas já tenham sido debatidas em diversas ocasiões e correspondam, grosso modo, ao sentir colectivo.

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  5. Anónimo16/8/13

    Em primeiro lugar quero agradecer imensamente o tempo que a Associação gastou para responder ao meu post anterior ponto por ponto. Das duas uma, ou quem não se sente não é filho de boa gente ou então tinham mesmo muito que explicar.
    O objectivo inicial, que era de trazer à luz o autor do texto inicial foi conseguido. Tal como inicialmente o texto era da Associação também os comentários se podiam escudar no anonimato permitido dentro das regras determinadas pelos administradores do blog.
    Prefiro manter-me assim por diversas razões que agora não acrescentam nada ao nosso debate, caso este post venha também a ser publicado.
    Ora a associação tocou em vários pontos que considero de elevada importância e que só em resposta às milhas linhas (peço desculpa por ser extenso) esclareceu os leitores.
    O sr. Sá realmente tem um temperamento que às vezes não é fácil mas parece-me que podia ser feito mais um esforço.
    Paralelamente podia a Associação contactar todas as Freguesias do nosso concelho e sensibilizá-las para nã darem cobertura a tais obras organizadas e compiladas como estão.
    Quanto à presença dos livros na Biblioteca Municipal essa crítica deverá ser dirigida ao director da mesma mas será também conveniente verificar quantas bibliotecas escolares, dirigidas por professores, também os têm (aos livros, entenda-se) na estante.
    Por último deixem-me dizer-vos que "temos pena" e "paciência" são termos pouco dignificantes para a Associação e para as pessoas que com ela colaboram. Esse "ar" de modernidade não se quaduna com alguém que não está minimamente aberto à sociedade da informação e da livre publicação e circulação da mesma. Era o que mais faltava agora os senhores serem os donos exclusivos do que se publica no concelho no que diz respeito ao património. Por existirem ainda tantos condomínios onde essa postura bafienta do Estado Novo existe é que no nosso país quem está desalinhado não pode almejar grande futuro.
    (Obviamente que este último parágrafo é para consumo interno da Associação e não para ser publicado. Mais uma bisca para vos fazer pensar se estão mesmo a trabalhar por amor à camisola ou se não há por aí uns interesses esquivos e vaidades recalcadas).
    Cumprimentos
    PF

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  6. Parágrafo para consumo interno da Associação????

    Entendeu o administrador do blogue publicar o comentário na íntegra. E fez bem, em meu entender. É que as críticas inteligentes são sempre estimulantes. As outras... são irrelevantes. O que é pena, pois fragilizam as primeiras.

    Saudações!

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  7. Agradecemos que os leitores que estejam REALMENTE interessados em participar no trabalho da Associação do Património nos contactem através do nosso endereço de mail:
    addpctvedras@gmail.com

    Estamos, como sempre estivemos, abertos a todos quantos queiram colaborar na defesa e divulgação do nosso Património Cultural, desde que o façam aberta e frontalmente, e não se escondam em comentários anónimos.

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