08 março 2019

AFINAL, JÁ TEMOS BIBLIOTECA



Saiu hoje, no semanário BADALADAS, de Torres Vedras:



AFINAL, JÁ TEMOS UMA BIBLIOTECA


EQUIPAMENTOS CULTURAIS

No decurso destas quatro décadas de democracia, a melhoria das condições económicas tem permitido às autarquias colmatar algumas das suas lacunas, assistindo-se por todo o lado à construção de novos edifícios, equipamentos cujos custos têm sido sustentados por contribuições da administração central e quase sempre apoiados em fundos comunitários.
Um esforço que se saúda e que tem transformado a paisagem social do país. Acontece que a par se tem assistido à degradação dos centros históricos, sem que as câmaras municipais tenham instrumentos para promover a sua reanimação em termos de vida social, perante o abandono do edificado e consequente desertificação.
No caso de Torres Vedras, e não obstante um reconhecível esforço, por vezes questionável, de dignificação do espaço público, a reabilitação habitacional tarda em arrancar e o comércio definha perante a agressão dos grandes espaços comerciais instalados na periferia. Assim, a nossa câmara tem apostado no incremento da vida cultural, quer instalando os seus serviços culturais, quer apoiando o associativismo, quer promovendo eventos na zona. Recuperar velhos edifícios para novas funcionalidades é sem dúvida uma das estratégias a prosseguir, na reanimação das zonas históricas.

EDIFÍCIOS VELHOS/FUNÇÕES NOVAS

Vem isto a propósito do novo projeto para a Biblioteca Municipal. Como se sabe, foi esta instalada em parte do edifício da antiga Moagem Clemente – com inauguração solene em 25 de Abril de 2016 – numa decisão que desde sempre nos pareceu correta, dado que:
- A área bruta do edifício parece corresponder às necessidades daquele equipamento cultural, reconhecendo-se que o projeto de instalação /organização dos espaços e valências da Biblioteca se encontra razoavelmente ordenado.                                                                                     
- A reutilização da antiga moagem tem a vantagem de recuperar um edifício com grande significado histórico e social, cujas características de escala dificilmente encontrariam uma solução mais adequada a um novo ciclo de funcionalidade.                                                 
 - A sua localização é óptima uma vez que se situa no Centro Histórico, área carente de funcionalidades que possam contribuir para a sua revitalização, pela criação de fluxos de utilizadores compatíveis com as suas características urbanas, isto é, encontra-se no centro da cidade, em zona tranquila, permitindo mais circulação pedonal.
Lembremos que, quando se encarava a proposta de localização da nova biblioteca no Choupal (!) foi desta Associação que partiu a ideia de transformar o que era então um edifício industrial parcialmente devoluto, outrora ligado à indústria da farinha, da qual se fazia o pão que alimentou tantas gerações de torrienses, em espaço de cultura destinado agora a alimentar o espirito!
Certamente ainda se poderão melhorar as condições para os leitores, de que um depósito de livros e a integração das salas cedidas a uma associação local, serão as mais urgentes. Concluindo, parece-nos que o problema da biblioteca está bem resolvido, conjugando a rara circunstância de conciliar a funcionalidade de um serviço cultural importante, com a recuperação de um edifício antigo com características apropriadas para efeito.

UMA NOVA BIBLIOTECA

 A Câmara Municipal de Torres Vedras implementou, no entanto, um concurso de arquitetura para a construção de um novo edifício para a Biblioteca mais um duvidoso “Museu do Brinquedo”, a ser construído no espaço a norte da Igreja de Santiago, atual parque de estacionamento, processo que quanto a nós acarreta os seguintes problemas:
- Inviabiliza a existência de uma nova Praça, como espaço de respiração e abertura numa malha urbana muito densificada.
- Implica a perda da atual perspetiva sobre o Castelo e Igreja de Santa Maria, que constituiu uma surpreendente mais valia como leitura do espaço urbano, em consequência do desmantelamento do imenso e pesado edifício fabril.
- Suprime o estacionamento de superfície que se tem revelado tão útil para a manutenção da acessibilidade e do pouco que resta de vida social daquela zona.                                                                                            
Embora esta perda seja acautelada com a proposta  de estacionamento subterrâneo, existem dificuldades técnicas - não esquecer que se trata de zona de leito de cheia, e quem já tentou construir uma cave nessa zona bem conhece tais problemas - com riscos inerentes à solidez dos edifícios envolventes (Igreja de Santiago, p. ex.) para a própria segurança noturna e respetivos custos adicionais.                                         
- Por fim, cria uma rotura, pela escala e pela forma, relacionando-se mal com a envolvente de construções tradicionais de pequena escala e com um edifício histórico - a igreja de Santiago.
Estes aspetos ressaltam claramente de uma leitura do projeto premiado em concurso, ao qual podemos reconhecer qualidade arquitetónica em abstrato, mas que não se enquadra com o edificado.                                               
Repetimos, esta é uma zona sensível do ponto de vista hidrológico, urbanístico e histórico.



A POSIÇÃO DA ADDPCTV

Tem esta Associação apresentado a refutação ao projeto ora divulgado, defendendo a manutenção da Biblioteca no edifício da Moagem Clemente e a proposta de um arranjo urbanístico para a praça, pelo reenquadramento das traseiras dos edifícios da Rua Serpa Pinto, que possa conciliar a tomada de vistas e condições para o lazer, mantendo o estacionamento automóvel, pois todo o Centro Histórico beneficia com a sua presença, nomeadamente o comércio tradicional, tão carente de medidas de apoio.
Apostar novamente na densificação urbana deste local é um erro, perde-se a sua identidade e as referências espaciais, que nos orientam. Parece-nos ser este mais um caso de obreirismo fátuo, que se traduz em investimentos avultados para o erário público, e, afinal de contas, desnecessário.


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