25 agosto 2017

CAPELA DA MADRE DE DEUS


















Situada no lugar da Zibreira (União das freguesias de Carvoeira e Carmões), este é um "pequeno mas precioso templo do final do século XVIII, que primitavemente pertenceu a uma quinta. Na fachada abre-se uma galilé de três arcos, abatido o do centro, com silhar de azulejos simples da época e porta de recorte caprichoso. Mas é o interior, pela unidade e graça do seu conjunto decorativo, que torna esta capela um raro padrão do gosto da época de D. Maria I. Na verdade, os silhares de perfeitos azulejos policromos, em que domina o amarelo sobre o branco, produzem o melhor efeito ornamental com os seus festões floridos e medalhões". (in: Monumentos e edifícios notáveis do distrito de Lisboa - Torres Vedras, Lourinhã, Sobral de Monte Agraço, Junta Distrital de Lisboa, 1963)

Esta pequena jóia do nosso Património edificado está a precisar de algumas obras de manutenção e restauro. A esse propósito se lançaram algumas pessoas que amam o seu Património local e de que se destacam o Sr. Georges Steyt (cidadão de nacionalidade belga mas radicado há muitos anos em Portugal, com casa em S. Domingos de Carmões) e a senhoras D. Fátima e Maria de Lurdes, zeladoras da capela.


Com eles visitámos a capela e tirámos as fotos:







Os esforços destes cidadãos, apoiados pela Junta de Freguesia, já deram resultados palpáveis. Os Serviços Técnicos da Câmara Municipal de Torres Vedras observaram atentamente a capela da Zibreira e elaboraram um relatório técnico, base indispensável ao passo seguinte que foi o pedido de orçamentos para as obras.

Transcrevemos este documento que nos permite compreender melhor a necessidade de intervenção:

Capela da Madre de Deus, Zibreira, Carvoeira.

Pequeno templo de nave única, com galilé. A capela apresenta retábulo em talha dourada e policroma, silhares azulejares e pintura sobre estuque, num todo estético harmonioso e de interesse artístico. Todo o conjunto decorativo terá sido realizado entre meados do séc. XVIII e os inícios do séc. XIX.

Edifício
A capela apresenta fachada rematada por frontão triangular, três vãos de acesso à galilé com as correspondentes janelas ao nível da tribuna e duas pequenas sineiras; é ladeada pela sacristia, com a qual comunica e por onde se tem acesso ao púlpito e à tribuna sobre a galilé e por arrecadação, com a qual não há comunicação pelo interior.

Estado de Conservação
Da observação do edifício percebem-se infiltrações de águas pela cobertura, na zona da tribuna e algumas fendas estruturais na zona da capela- mor, presentes nas paredes laterais e na parede fundeira, por detrás do altar-mor.
Aparentemente não haverá necessidade de reforço estrutural no imóvel, não obstante a necessidade de observação cuidadosa da cobertura, caleiras e/ou algerozes existentes poder concluir o contrário. A limpeza dos elementos de escoamento das águas pluviais caídas na cobertura deverão ser limpos, reforçados se for caso disso e substituídos se for necessário.
Só após esta vistoria de desconformidades será possível intervir interiormente na reabilitação de paredes e tectos. 

Talha
O altar- mor, em talha dourada e policroma, sugere ser uma obra de transição, da segunda metade do séc. XVIII, ainda com apontamentos “rocaille”. Apresenta frontão curvo interrompido, sobre entablamento marmoreado que se prolonga pelas paredes laterais da capela, sustentado por colunas marmoreadas com capitéis compósitos dourados. Ao centro, o trono ostenta maquineta dourada onde figura a imagem da Madre de Deus. As superfícies marmoreadas contrastam e são delicadamente rematadas pelos ornatos dourados presentes no coroamento, nichos, maquineta, predela etc.

Estado de Conservação
O retábulo apresenta, em termos gerais, bom estado de conservação. Estruturalmente percebem-se alguns elementos em desconexão, ao nível do entablamento, ou nas tábuas que compõem os painéis marmoreados. A estrutura percebida pelo tardoz, apesar de sinais de ataque por insecto xilófago, apresenta-se sólida. Qualquer tratamento de conservação e restauro terá certamente que contemplar a desinfestação dos madeiramentos e eventuais reforços estruturais que se comprovem necessários, contudo será de preservar ao máximo a materialidade e a técnica presentes, evitando desmontes desnecessários ou intrusão de elementos não condicentes com a obra original.
 A policromia e folha de ouro apresentam alguns pontos de destacamento e desgaste assim como sujidade superficial, sendo de notar o desgaste do ouro nos ornatos das mísulas que sustentam as imagens. Será pois necessário ao nível da conservação, a fixação de policromias e folha metálica, na extensão que posterior avaliação considere necessária. É requerida especial atenção a técnicas de integração cromática que se proponham mimetizar os marmoreados e ouro originais, com técnicas do âmbito da produção artística, pelo que tudo o que ultrapasse o uso de aguarelas em integrações cromáticas diferenciadas poderá ser ruinoso para a obra.

Azulejaria
A azulejaria da nave, ao gosto da época de D. Maria I, é composta de silhares ornamentados de grinaldas floridas, medalhões e rostos alados de anjos, enquadrados em molduras ao gosto clássico sobre rodapé decorado com enrolamentos acânticos. Predominam os tons amarelos sobre o branco, numa paleta de azuis, verdes e castanhos vinosos. 
A capela-mor também apresenta silhares de azulejos, de decoração simplificada e emoldurado fino, em paleta de cores muito semelhante aos da nave.
A azulejaria, apresenta bom estado de conservação, não requerendo à data, cuidados urgentes de conservação.
Pintura decorativa sobre estuque.
As paredes e tecto da capela-mor completam o conjunto decorativo, com pintura ornamental sobre estuque, já ao gosto do séc. XIX, de finas molduras de feição geométrica, conjugadas com elementos vegetais curvilíneos.

Estado de Conservação
De todo o conjunto artístico da capela, a pintura sobre estuque, é o elemento que mais problemas de conservação apresenta. São visíveis sujidades generalizadas, colonização biológica por fungos e bolores, fissuras de vários graus e dimensões, áreas de bolsas em iminente destacamento, e, lacunas, em especial nas proximidades das janelas e do retábulo.
A estabilização dos estuques é urgente, com eventuais consolidações por injecção, preenchimento de lacunas, limpezas e fixação da película cromática, por forma a não haver perda do trabalho original.
Todo o conjunto em apreciação, pelo valor artístico que apresenta no quadro da arte dos finais do século XVIII, e estado de originalidade em que se encontra, deverá ser, tanto quanto possível, preservado, com acções específicas de conservação e restauro, e outras, nomeadamente de promoção da sua fruição e salvaguarda por via do estudo e divulgação.

 As acções de conservação e restauro deverão ser realizadas por técnicos habilitados, académica e profissionalmente, e deverão ser realizadas na estrita observância da deontologia da actividade, sendo imprescindível o respeito material, técnico e artístico pelas obras.  

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ORÇAMENTO PARA AS OBRAS

Foi-nos facultado há dias o orçamento para as obras de restauro. Aponta para um total de 33 000 €, a que se deve juntar o IVA e o aluguer de andaimes.
Às autarquias caberá o papel principal na execução deste projecto. Sabemos que, tanto a Câmara Municipal quanto a União das Freguesias da Carvoeira e Carmões estão empenhadas neste trabalho. Contudo, diz a experiência que aos cidadãos compete colaborar também, na medida das suas possibilidades. O Património artístico e cultural é de todos.
Então... MÃOS À OBRA!

(Fotos: J. Moedas Duarte - Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras)

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