30 outubro 2011

PATRIMÓNIOS 17

OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO
PARA O CENTRO HISTÓRICO DE TORRES VEDRAS
(II Parte)
                                                          
EZEQUIEL DUARTE
( Economista )

O sentido da oportunidade de um investimento empresarial tem o seu momento próprio. Circunscreve-se a um período de tempo curto quando comparado com o “tempo” do planeamento urbano. É na maioria das situações uma iniciativa individual, um promotor que decidiu passar de uma ideia para um plano de negócios e de imediato quer avançar com o investimento. Uma decisão suportada por múltiplos factores e com um único responsável.

É pois difícil que um Plano de Valorização do Centro Histórico contemple previsões para o investimento privado, acentuando-se essa dificuldade quando são identificados sectores de actividade a instalar cruzados com localizações à escala do arruamento.

Planos de Valorização do Centro Histórico com premissas bem-intencionadas na delimitação de usos direccionados para a actividade económica podem resultar, a médio prazo, numa eficácia nula. Permanece a substituição frequente da antiga porta aberta de um estabelecimento por uma parede de tijolo à vista, ou a substituição de um manequim vestido de novidades por uma montra vazia.

Esta evidência não invalida o cumprimento de objectivos de reabilitação do espaço público e o retorno do elevado esforço financeiro efectuado pelo aumento da qualidade de vida do cidadão. Contudo não existe correlação entre o esforço de investimento público na requalificação urbana e a introdução de novas actividades económicas, porque as dinâmicas de investimento empresarial não são controláveis pelo planeamento urbano.

No caso de Torres Vedras, as tentativas de avançar com um Programa de Investimentos conjunto (Público e Privado) foram infrutíferas. Das duas tentativas efectuadas aquando do lançamento dos dois programas comunitários de apoio ao urbanismo comercial nos anos 90, o Procom e o Urbcom, não houve adesão por parte dos comerciantes, gorando-se a oportunidade.

A desconfiança na efectividade dos financiamentos, ou a mentalidade do investidor que se concentra apenas no seu negócio, foram dois dos principais factores explicativos para a aparente falta de interesse.

O comerciante mantém-se na actividade, até ao inevitável encerramento, centrado no seu estabelecimento e no pressuposto que um investimento passado é um passaporte para uma estabilidade do negócio a longo prazo. Não identifica novas necessidades de mudança com regularidade, nem vê a sua envolvente como uma área comercial com problemas e potencialidades que pertencem a um colectivo.

Com o encerramento continuado de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços no Centro Histórico de Torres Vedras, poderão surgir novas oportunidades de negócio. Perante o esvaziamento de funções económicas, abrir-se-á a possibilidade para um novo ciclo de dinâmicas de investimento, mas com um perfil diferente, que não dependa apenas da iniciativa individual e incorpore, na mesma linha de importância, mecanismos de concertação de oportunidades.

Uma visão para o Centro Histórico de Torres Vedras, como um pólo de comércio e serviços especializados onde se concertam economias de aglomeração baseadas em elevados graus de diferenciação, necessita de potenciais investidores que avancem com o seu plano de negócios, que articulem iniciativas com outros investidores, que participem nos factores comuns de valorização da actividade económica do Centro Histórico.

Contribuir para a criação de serviços comuns de promoção, de organização e logística, identificar melhorias no espaço público que possam potenciar a actividade, integrar uma bolsa de investidores onde se apresentem novas ideias e plano de negócios, coordenar as oportunidades e prazos de investimento, serão algumas das posturas que um potencial investidor, a nosso ver, deverá interiorizar para viabilizar actividades num contexto territorial tão particular.

Quem despoletará estes processos? Não há uma resposta clara, poderão ter como facilitadores as associações de comerciantes existentes, ou uma entidade gestora de uma bolsa de potenciais investidores, ou ainda um agente de mudança privado.

Sem uma postura colectiva para a criação de funções comuns de apoio e promoção da actividade económica no Centro Histórico não é possível almejar, neste espaço, por exemplo, de um pólo de restauração de referência metropolitana, nem a criação de nichos de prestação de serviços especializados nos domínios da cultura e do lazer.

(Publicado no jornal BADALADAS em 28 de outubro de 2011)

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