11 setembro 2012

PATRIMÓNIOS no jornal BADALADAS


Publicado em 17 de Agosto de 2012


ERA UMA VEZ UM MUSEU MUNICIPAL (I Parte)

PEDRO FIÉIS

(Historiador)


Escreveu Mário de Andrade, poeta, etnomusicólogo, e um dos fundadores do modernismo brasileiro:
 «Outra coisa que me parece de enorme e imediata necessidade é a organização de museus. Mas, pelo amor de Deus! Museus à moderna, museus vivos, que sejam um ensinamento ativo, que ponham realmente toda a população do Estado de sobreaviso contra o vandalismo e o extermínio.»
Sugere ainda que nesses museus sejam apresentados materiais arqueológicos, folclóricos, artísticos, históricos, além de elementos de arquitetura regional, das atividades económicas e dos recursos naturais do município. Resumindo, defende a valorização do existente, do mais singelo ao mais sofisticado, do popular ao erudito, da cópia ao original, do testemunho natural ao cultural, sem a preocupação de coleções fechadas. A narrativa museológica, nesse caso, surge do diálogo com a população interessada na constituição do museu.

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Quis começar com esta referência por entender que um Museu Municipal deve existir para 1) contar a história do lugar em que está inserido; 2) estudar os impactos da presença humana na transformação da região; 3) recolher memórias locais 4) e, utilizando um chavão comum, num mundo global dar uma identidade regional aos seus habitantes.
E isso na minha opinião, não está a ser feito atualmente no Museu Municipal Leonel Trindade. Concordo que o modelo anterior de exposição estava ultrapassado, mas o fato de que um museu possuidor de um importante espólio arqueológico o tenha encaixotado, entristece-me e confunde-me, principalmente quando na página internet da Câmara Municipal está escrito:
«Ao longo dos anos, foi aumentando e diversificando o seu espólio, com especial destaque para a coleção de Arqueologia, que o fez ganhar uma projeção internacional (…) O seu acervo é constituído por importantes coleções de arqueologia, epigrafia, pintura antiga, arte sacra, cerâmica, faiança, porcelana, azulejaria, numismática, medalhística, etnografia, mineralogia, paleontologia, pintura contemporânea, bem como por núcleos históricos dedicados ao município e às famosas Linhas de Torres.»
Onde está tudo isso?
No fundo o que quero transmitir é que é possível – sem alterar o espaço e trabalhando com o espólio atual (e futuro) – encontrar novas formas de as apresentar, tendo de um lado o que são as coleções permanentes e aí ter uma intervenção radical, mas apenas ao nível da forma como se apresentam os objetos, e de outro ter espaços para exposição temporárias, recordando este ou aquele episódio da longa vivência histórica desta hoje cidade.
Estes são espaços por excelência para experimentar novos conceitos, que posteriormente até podem ser reaproveitados para os espaços permanentes.

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