Publicado em 17 de Agosto de 2012
ERA UMA VEZ UM MUSEU MUNICIPAL (I Parte)
PEDRO FIÉIS
(Historiador)
Escreveu
Mário de Andrade, poeta, etnomusicólogo, e um dos fundadores do modernismo
brasileiro:
«Outra
coisa que me parece de enorme e imediata necessidade é a organização de museus.
Mas, pelo amor de Deus! Museus à moderna, museus vivos, que sejam um
ensinamento ativo, que ponham realmente toda a população do Estado de
sobreaviso contra o vandalismo e o extermínio.»
Sugere
ainda que nesses museus sejam apresentados materiais arqueológicos,
folclóricos, artísticos, históricos, além de elementos de arquitetura regional,
das atividades económicas e dos recursos naturais do município. Resumindo,
defende a valorização do existente, do mais singelo ao mais sofisticado, do
popular ao erudito, da cópia ao original, do testemunho natural ao cultural,
sem a preocupação de coleções fechadas. A narrativa museológica, nesse caso,
surge do diálogo com a população interessada na constituição do museu.
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Quis
começar com esta referência por entender que um Museu Municipal deve existir
para 1) contar a história do lugar em que está inserido; 2) estudar os impactos
da presença humana na transformação da região; 3) recolher memórias locais 4) e,
utilizando um chavão comum, num mundo global dar uma identidade regional aos
seus habitantes.
E
isso na minha opinião, não está a ser feito atualmente no Museu Municipal
Leonel Trindade. Concordo que o modelo anterior de exposição estava
ultrapassado, mas o fato de que um museu possuidor de um importante espólio
arqueológico o tenha encaixotado, entristece-me e confunde-me, principalmente
quando na página internet da Câmara Municipal está escrito:
«Ao longo dos anos, foi aumentando e
diversificando o seu espólio, com especial destaque para a coleção de Arqueologia,
que o fez ganhar uma projeção internacional (…) O seu acervo é constituído por
importantes coleções de arqueologia, epigrafia, pintura antiga, arte sacra,
cerâmica, faiança, porcelana, azulejaria, numismática, medalhística,
etnografia, mineralogia, paleontologia, pintura contemporânea, bem como por
núcleos históricos dedicados ao município e às famosas Linhas de Torres.»
Onde
está tudo isso?
No
fundo o que quero transmitir é que é possível – sem alterar o espaço e
trabalhando com o espólio atual (e futuro) – encontrar novas formas de as
apresentar, tendo de um lado o que são as coleções permanentes e aí ter uma
intervenção radical, mas apenas ao nível da forma como se apresentam os objetos,
e de outro ter espaços para exposição temporárias, recordando este ou aquele
episódio da longa vivência histórica desta hoje cidade.
Estes
são espaços por excelência para experimentar novos conceitos, que
posteriormente até podem ser reaproveitados para os espaços permanentes.
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