11 setembro 2012

PATRIMÓNIOS no jornal BADALADAS



Publicado em 7 de Setembro de 2012


ERA UMA VEZ UM MUSEU MUNICIPAL (II Parte)

PEDRO FIÉIS

(Historiador)

Na Parte I deste ‘artigo de opinião’ com o título acima, publicado nesta mesma coluna, em 17 de Julho último, manifestava-se alguma preocupação relativamente ao modelo expositivo adoptado e à actual orientação programática do Museu Municipal. Poderá haver razões estratégicas para tal. E de vária ordem. Mas isso deve ser explicado ao público!

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Nesta Parte II, e dentro do raciocínio anteriormente desenvolvido, deixo, com a brevidade possível, dois exemplos para ilustrar duas linhas de acção e de igual modo serem avaliados por quem de direito.
1. Começo pelo Museu de Liverpool. Faço-o sem querer comparar a dimensão das duas cidades, apenas para demonstrar como é possível manter exposições ditas “modernas” sem alterar o seu conteúdo. Basta para tal nomear uma das galerias – «Detetives da História» – cujo objetivo é dar a conhecer as descobertas arqueológicas e, tal com está no seu site, http://www.liverpoolmuseums.org.uk, responder a questões tão simples como: O que estava aqui? Como o sabemos? Como evoluiu a cidade?
2. Contudo tão ou mais importante do que as exposições permanentes, são os programas de parcerias com a comunidade que, em interação com a equipa do museu, torna possível a apresentação de novas visões para temáticas da história local, ou seja, há efetivamente uma reciprocidade de opiniões e uma partilha de experiências, memórias e objetivos comuns.
Numa breve revista aos EMYA 2012prémios de museu europeu do ano, fica desde logo clara a preocupação com a demonstração da compreensão das necessidades do público-alvo, o primeiro critério para a avaliação desses espaços, e para isso é vital escutar a comunidade.
Aliás o Prémio Silletto destina-se exclusivamente ao museu que melhor demonstra, num período de dois anos, o envolvimento da população no planeamento e desenvolvimento das suas atividades, aquela que deve ser afinal a sua preocupação fundamental para o objectivo da excelência, inovação e inspiração, tal como o afirmou Kenneth Hudson, fundador do EMF, não descurando contudo novas tendências ou mesmo rejeitá-las por entrarem em confronto com normas anteriores.
O vencedor deste ano – Madinat al-Zahra, Andaluzia – funciona como uma memória visual do passado multicultural da região e foi encarado como uma ponte entre as diferentes culturas que compõem a Europa dos nossos dias.
O que me trouxe novamente à ideia a coleção encaixotada do Zambujal, esse importante ponto de contato entre povos do 3º milénio antes de Cristo.
Em jeito de conclusão reafirmo a minha convicção de que um Museu Municipal não subsiste de exposições temporárias, deve sim utilizar o seu espólio para encontrar o potencial máximo em termos culturais, educacionais, de inclusão social, e por que não de revitalização urbana, assinalando um sentimento de pertença a uma região e inseri-la no contexto europeu. Deve igualmente abrir as suas portas à comunidade associativa em geral, dialogar de forma sincera e requerer mesmo a sua colaboração para se transformar no grande repositório das memórias coletivas do concelho.

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