Nº 42 - publicado em 26 de Abril de 2013
PESQUISAS
NO CENTRO HISTÓRICO – LARGOS, IGREJAS E GRANDES EDIFÍCIOS
(5ª
Parte)
EMANUEL
CARVALHO
(Assistente
de Arqueólogo)
Algumas
áreas do Centro Histórico foram objecto de intervenções de natureza arqueológica:
no largo de São Tiago (popularmente conhecido como ‘praça da batata’) foram
encontrados vestígios de casas, espólio cerâmico e diversas peças de osso
utilizadas para afiar foices (designadas safra de osso), atribuídas aos séculos
XIV/XV.
Na
rua Cândido dos Reis (junto ao Chafariz dos Canos), foi revelado um troço da
muralha fernandina, vestígios de habitações e foi ainda possível confirmar a
existência da porta de entrada da vila, conhecida por ‘Porta da Corredoura’. É
possível observar o que resta deste troço de muralha e das restantes estruturas
arqueológicas, uma vez que foram integradas na obra e mantidas sob protecção,
actualmente visíveis através de vidraças – sendo apenas de lamentar a não
existência de qualquer sistema de iluminação e informação com interpretação no
local.
Do
primeiro convento de Santo Agostinho (1366, reinado de D. Pedro), construído no
espaço fronteiro à igreja de S. Tiago, foram encontrados vestígios de espessas
paredes do edifício, uma canalização e fragmentos de faianças, ossos e materiais
de construção (azulejos e cantaria pertencente a uma grande porta). Como este
conjunto monástico foi construído numa área inundável, os frades agostinhos
transferiram-se no século XVI para a zona hoje designada Largo da Graça (cuja
origem do nome veio buscar ao convento). Infelizmente, neste caso, não foi
salvaguardado o sítio arqueológico. A intervenção dos técnicos do museu municipal
aconteceu já quando a obra estava a decorrer, ficando por isso mais pobre o
registo arqueológico, apesar de todos os esforços empreendidos.
Na
área da antiga fábrica da Casa Hipólito (a norte da igreja de São Tiago) foi
encontrado um forno datado da época medieval islâmica e diversas estruturas
que, tudo indicam, serem também medievais. Toda esta área aguarda resolução
quanto ao projecto de construção. As escavações realizadas na travessa do Quebra-costas,
onde se localiza a antiga sede da Sociedade Recreativa Operária (que entrou em
obra para construção de um espaço que integrará várias associações culturais),
apesar de se encontrar em pleno bairro medieval islâmico, forneceu muito poucos
dados – devido ao grande revolvimento possivelmente causado pelas construções
ali existentes.
A
zona envolvente à igreja de São Pedro e Chafariz dos Canos veio revelar,
através de escavações recentes, a existência de várias sepulturas em redor da igreja.
Nesta área, e tendo em conta o potencial arqueológico, foi lamentável não se
ter investido mais na procura de estruturas, nomeadamente na área nascente,
onde ficaram por conhecer as possíveis estruturas relacionadas com a muralha e
a canalização do Chafariz.
Também
se lamenta não ter havido qualquer intervenção arqueológica na obra da antiga
serração do Pio, localizada na rua Serpa Pinto, e, por tal, se ter perdido uma
oportunidade única de salvar e recuperar um magnífico espólio do período
islâmico.
Estes
tristes episódios que revelam práticas nefastas de intervenção no património
histórico-arqueológico, impedem-nos de resgatar e conhecer toda a informação
presente nestas áreas do Centro Histórico, devendo constituir uma lição e um veemente
aviso para os perigos de não se respeitarem os procedimentos e as normas mais
elementares na defesa do nosso Património.
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