CHAFARIZ – ENFIM RESTAURADO
Com o recente restauro do Chafariz dos Canos o município torriense
redime-se de um longo período de menosprezo por aquele que é, sem dúvida, o seu
mais precioso monumento histórico.
São sete séculos a proporcionar um bem essencial – a água –
configurados na melhor arquitectura medieval, que se oferecem ainda hoje ao
nosso deslumbramento, perante esta obra pública de parceria régia e municipal
do tempo em que a municipalidade se afirmava na construção de Portugal. Um
monumento assim tão rico de implicações históricas e sociais e tão raro valor
artístico só merecia ser dignificado.
Por isso deve merecer-nos a maior gratidão o empenho posto no seu
restauro da histórica fonte gótica assim como a devolução do protagonismo que
lhe era devido naquele espaço, retirando-lhe da frente todo o ruído que se
interpunha à sua leitura integral.
NO ENTANTO…
No entanto, se o essencial foi feito e por todos deve ser
reconhecido, alguns aspectos, certamente corrigíveis, se nos afiguram como
menos conseguidos.
É provável que, por agora, estranhemos o ar de cara lavada ou o
aspecto de “pó de talco” que parece envolver toda a construção, consequência da
limpeza da pedra e do tratamento das argamassas. Mas o tempo se encarregará de
lhe devolver uma “patine” mais familiar. Pena é que a solução final da pintura
não mantivesse a cor amarelo ocre
na corda manuelina e no friso superior do muro, que longe de ser
um devaneio popular, constitui característica da a”arte mudéjar” que inspira toda a parte superior do conjunto – o coroamento
de merlões e coruchéus.
Quanto ao arranjo do largo, pesa um pouco a sensação de vazio,
talvez devida à uniformidade do piso, que assim se amplia visualmente. Mas
estranho mesmo é a opção por formas e materiais pouco conviventes com o
monumento (embora saibamos que é essa a intenção) como é o caso do enorme banco
de mármore branco e o candeeiro preto, a um dos cantos. Também aquela árvore
ali plantada, frente ao passo, nos aparece como forçada, sem função nem contributo
estético que se veja.
A ideia do espelho de água justifica-se, conjugando memória
histórica do tanque e valorização cénica. Mas não precisava de ocupar todo o
espaço do pequeno largo (e ninguém se lembrou dos pombos!).
E porque não reintegrar os pilares esculpidos com “golfinhos” que
eram parte da estrutura do tanque e se encontram desterrados em frente à capela
de S.João?
Embora se trate de pormenores, sempre remediáveis, são aspectos
que não contribuem para a criação de uma atmosfera de intemporalidade que,
quanto a nós, deve presidir a intervenções em espaços carregados de passado.
José Pedro Sobreiro
* * *
UM TRABALHO NOTÁVEL
Em 2 de Junho de 2006 o BADALADAS trazia na primeira página, em grandes destaque, uma fotografia do Chafariz dos Canos com o título “Chafariz perto da ruína”. Na pág. 3 a jornalista Ana Alcântara dava conta do alerta lançado pela Associação para a Defesa e Divulgação do Património de Torres Vedras - o tempo e a incúria dos homens estavam a arruinar, de modo quase irreversível, aquele monumento, de características únicas no país.
Seis anos passados, aquela Associação saúda calorosa e publicamente, o trabalho de restauro que acaba de ser realizado. E sublinha: ele resulta de uma escolha acertada da Câmara Municipal que o adjudicou a uma das melhores empresas do sector, com valiosos trabalhos realizados em Portugal e no estrangeiro, a empresa Nova Conservação, com sede em Lisboa (www.ncrestauro.pt).
* * *
Durante alguns meses vimos o velho monumento entaipado e rodeado do estaleiro de obra
Andámos lá por dentro, a ver as obras, com as explicações pacientes e sabedoras dos técnicos.
* * *
AO LONGO DO TEMPO
"Arquivo pitoresco" 1865
No princípio
do século XX era o formoso tanque com seu gradeamento em ferro forjado apoiado
em pilares esculpidos (golfinhos), que estendia ao gado muar a generosa dádiva
do chafariz, onde a população se abastecia.
Depois,
cerca dos anos 40, veio o progresso e a higiene, foram-se os burros e vieram os
automóveis...! E o tanque foi à vida.
Nos anos
setenta retirou-se o “stand” mas, para não ficar muito vazio, embelezou-se com um
pequeno jardim, com bancos de costas voltadas para o monumento, que ficava lá
atrás.
Hoje,
finalmente, o monumento respira, restaurado, ocupando o seu lugar na praça,
oferecendo-se na sua beleza à nossa admiração de monumento singular.
Este post reproduz e amplia a página LUGAR ONDE publicada no jornal BADALADAS em 26 de Outubro de 2012.
Fotos de José Pedro Sobreiro, Joaquim Moedas Duarte e do arquivo da Biblioteca Municipal de Torres Vedras.
Sem comentários:
Enviar um comentário