25 setembro 2021

MURALHA DE TORRES VEDRAS

 

MURALHA DE TORRES VEDRAS

Como salvaguardar os seus vestígios?

...

Joaquim Moedas Duarte

 


O BADALADAS  de 10 de Setembro deste ano, publicou a seguinte nota: «Uma atenta e sensível leitora ligou-nos para que pedíssemos à Câmara, ao Museu ou à Associação do Património para olharem com outros olhos e cuidarem do que resta de uma das antigas muralhas da vetusta Turres Veteras, a qual está hoje numa montra de vidro sujo e com ervas daninhas quase da sua altura. O pedido está formulado!»

Respondemos a este pedido com todo o gosto. É que nós, Associação do Património, há muito que estamos preocupados com esta questão. Sucintamente, recordemos alguns factos.

No início de 1997, aquando da iminente demolição do stand de automóveis do Sr. Adelino Sousa, situado frente ao Chafariz dos Canos, a Associação do Património solicitou “à Câmara Municipal, com a maior urgência, a realização de uma curta intervenção de pesquisa arqueológica, em articulação com o Museu Municipal Leonel Trindade, no sentido de averiguar eventuais vestígios da antiga muralha da vila que, segundo documentação antiga, por ali passaria e da qual não se conheciam, à data, quaisquer testemunhos”. Esta iniciativa foi reforçada por um artigo no Badaladas, em 18 de Abril daquele ano, da autoria de Manuel Clemente - actual Patriarca de Lisboa e sócio, desde sempre, da Associação – no qual se faziam sugestões e recomendações pertinentes sobre a “necessidade de conservar e valorizar este importante e excepcional património”.

Dada a proximidade de um monumento nacional – o Chafariz dos Canos – os trâmites legais de autorização e definição de condicionantes para a realização da obra demorou algum tempo, mas acabou por iniciar-se, com a intervenção simultânea de uma equipa de arqueólogos e técnicos do Museu Municipal, que procederam às sondagens, investigação local e recolha de informações. Os trabalhos arqueológicos foram concluídos em Junho de 2001 e, das várias conclusões e informações a que chegaram, destacamos a confirmação da “existência da muralha tardo-medieval – sobre cuja efectiva construção existiam ainda muitas dúvidas – e da sua porta situada na antiga Rua da Corredoura, atestada pela confluência da estrutura com a rua. A porta situar-se-ia a meio da rua e dela já dificilmente restarão quaisquer vestígios”. O relatório dos trabalhos arqueológicos sublinhava que “a partir do momento em que se verificou a imponência e monumentalidade da estrutura descoberta e se percebeu o seu valor histórico, a direcção científica dos trabalhos chamou ao processo a Divisão de Gestão Urbanística da Câmara Municipal de Torres Vedras e o então IPPAR, a fim de se estudar a possibilidade de integrar a estrutura na nova construção, quer salvaguardando-a integralmente, quer mantendo a sua memória no futuro imóvel, de forma adequada”.

Em reuniões posteriores, entre os promotores da obra, a Câmara Municipal e representantes do IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico), ficou decidido salvaguardar o troço da muralha medieval que fora descoberto.

O processo parecia bem encaminhado, mas o facto de a loja com os vestígios da muralha ser propriedade privada e o proprietário exigir, naturalmente, ser ressarcido, mas apresentando valores incomportáveis, levou a um impasse sobre a necessária intervenção valorizadora daquele património histórico. E os anos foram passando. Inconformada com a situação, a Associação do Património de Torres Vedras contactou a Junta de Freguesia de S. Pedro e Santiago, bem como os serviços camarários e, em 20 de Julho de 2011, apresentou um Memorando no qual se disponibilizava para colaborar numa solução que dignificasse aquele espaço. Tal iniciativa ia ao encontro das preocupações da Junta de Freguesia que, correndo o risco de abuso indevido – como chegou a ser acusada pelo proprietário – procedia regularmente à limpeza daquele espaço. Esse Memorando foi também publicado no blogue desta Associação (ver:

 https://patrimoniodetorresvedras.blogspot.com/2011/07/o-que-resta-da-velha-muralha.html )

 

IDEIAS PARA UM CENTRO INTERPRETATIVO DA CORREDOURA (CIC)

 

(Primeiro esboço, desenho de José Pedro Sobreiro)


(Segundo esboço, desenho de José Pedro Sobreiro)

Resumidamente, a proposta que apresentámos e que continuamos a defender, tem como objectivo a valorização do único vestígio da muralha medieval da Vila de Torres Vedras, posto a descoberto em 2001, que se encontra situado na cave de um edifício em frente do Chafariz dos Canos. Este pequeno troço de muralha situa-se nas imediações do que seria a chamada Porta da Corredoura, Sendo difícil conciliar a sua presença e visibilidade com outras funções, designadamente comerciais, a Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras (ADDPCTV) propõe a criação naquele espaço de um pequeno centro interpretativo da Muralha Medieval assim como do Chafariz dos Canos, existente naquele largo, recentemente restaurado. Criar-se- á, assim, um motivo de interesse pedagógico para a história da cidade que valorizará também o monumento mais singular de Torres Vedras.

A proposta, ainda em esboço, assenta na ideia da construção de uma plataforma parcial ao nível do piso térreo, em L, que permita o acesso público (condicionado) a um espaço expositivo onde através de painéis infográficos, fotografias e maquete tridimensional, se dê a conhecer a história e as características do monumento e da muralha/vila medieval. Sobre a abertura ao público, a ideia é, pelo menos da nossa parte, que esta seja condicionada a visitas previamente solicitadas (escolas, grupos, visitantes especiais,etc), assumindo esta associação o compromisso de assegurar o seu acompanhamento.

Considera-se que a sua abertura diária não se justificará, pelos encargos decorrentes. Mesmo assim, cremos que a proposta terá um efeito positivo em termos de informação pois que todo o dispositivo ficará visível do exterior (tal com agora, de resto)

A ADDPCTV disponibiliza-se para assegurar os conteúdos históricos do Centro Interpretativo, bem como para ministrar Formação e dar apoio ao seu funcionamento.

Do documento, então apresentado, fazia parte um esboço de intervenção, ao qual se juntaria outro, algum tempo depois, ambos da autoria de José Pedro Sobreiro.

 

 

(A Porta da Corredoura, hipótese interpretativa em desenho de José Pedro Sobreiro)


(O que resta da muralha – foto de 2011)

 

UM DOCUMENTO NOTÁVEL

         No texto principal desta página PATRIMÓNIOS transcrevemos algumas frases que retirámos do relatório intitulado “Porta da Corredoura, Torres Vedras: Resultados dos Trabalhos Arqueológicos”, da autoria de Isabel Luna e Guilherme Cardoso, consultado em 21/09/2021 aqui: https://historiasdetorresvedras.wordpress.com/2012/09/27/porta-da-corredoura/

Trata-se de um documento notável. Ali estão bem patentes as fases de uma campanha arqueológica, a metodologia seguida, a contextualização histórica, a enumeração exaustiva dos elementos recolhidos com as correspondentes imagens, bem como as conclusões e recomendações para aplicação futura.

Dos mesmos autores está também disponível outro texto que completa as informações do primeiro sobre a vila medieval, que consultámos na mesma data:

“A urbe de Torres Vedras e a sua cerca medieva” in: Fortificações e Território na Península Ibérica e no Magreb (Séculos VI a XVI) - Volume I, Coord. - Isabel Cristina Ferreira Fernandes, Edições Colibri/Campo Arqueológico de Mértola. Disponível in:

https://www.academia.edu/9229797/LUNA_Isabel_e_CARDOSO_Guilherme_A_urbe_de_Torres_Vedras_e_a_sua_cerca_medieva



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