Página "PATRIMÓNIOS" no "BADALADAS" - 15 Fevereiro 2019
Requalificação da Praça Machado dos Santos
ALGUNS PARÂMETROS PARA UMA
INTERVENÇÃO
Face ao desafio que a Câmara Municipal lançou recentemente aos munícipes, a ADDPCTV, reflectindo sobre o assunto, achou por bem apresentar as seguintes considerações:
É essencial repor as árvores
A Praça da
Batata, nome por que é também conhecida entre os autóctones a Praça Machado dos
Santos, por ali se ter realizado há algumas décadas atrás, uma feira mensal
dedicada à comercialização daquele tubérculo, é, tal como hoje existe, um
espaço relativamente recente na história urbana de Torres Vedras. As mais
antigas cartas topográficas conhecidas representam aquele espaço de forma
diversa e pouco rigorosa desconhecendo-se
com exactidão a época em que o actual
espaço foi definido. No último século a praça tem acolhido várias funções,
desde o abastecimento de água através de um poço público coberto, à realização
da já referida feira, à construção de um Posto de Transformação de
electricidade alta tensão, para servir a Fábrica A da Casa Hipólito - de que
muitos ainda se lembrarão. O último arranjo ocorreu nos anos 90, com a demolição do PT, a repavimentação em calçada
portuguesa e a construção dos obsoletos assentos em cimento que rodeavam as
árvores ali plantadas, cujo corte não foi pacífico.
1 – INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA
Planta do poço coberto - escavações arqueológicas de 1996
Em 1996 a
demolição do PT revelou a existência de um poço de cúpula, para surpresa de
grande número de torrienses, pois que só os mais velhos (muito poucos) se
lembravam da sua existência.
O referido poço, logo tapado por razões de
segurança, acicatou a nossa curiosidade, pelas suas dimensões, características
construtivas e situação no centro da praça, pelo que solicitámos autorização
para fazer uma curta intervenção arqueológica, em Setembro desse ano. Essa
escavação revelou a existência de algumas estruturas de épocas anteriores –
muros e lajeado – em volta do poço, que revelavam uma ocupação anterior e,
consequentemente, uma diferente definição daquele pequeno largo, designado em
documentos antigos como Largo de SãoThiago.
Destes trabalhos,
entretanto suspensos, não sem alguma polémica, foram elaborados relatórios pela
ADDPCTV e pelo Museu Municipal, sendo o reduzido espólio entregue a este.
Nas conclusões de
então ficou expresso o propósito de que em futura ocasião se pudessem completar
tais trabalhos, com mais tempo e método, incluindo a prospecção do fundo do
poço, pois poderia conter no seu interior objectos de valor arqueológico.
Assim, a primeira
questão que colocamos no presente projecto é precisamente o retomar da
prospecção arqueológica interrompida, o que trará contributos para história
urbana, para além da sempre possível descoberta de achados arqueológicos.
Sublinhe-se, no entanto, que qualquer intervenção arqueológica deve ser
articulada com a Direcção Geral do Património Cultural, dado que o espaço faz
parte da zona de protecção da Igreja de Santiago, recentemente classificada
como Imóvel de Interesse Público.
2 – DESENHO URBANO
O desenho urbano,
propriamente dito, não necessita de qualquer alteração.
Trata-se da única
praça da zona histórica com uma planta rectangular perfeitamente definida, um
espaço de tranquilidade por excelência, pelo que defendemos a não inclusão de
quaisquer estruturas fixas de mobiliário urbano, que condicionem o espaço.
Considera-se,
assim, que este deverá:
- Permanecer o mais livre possível,
possibilitando uma utilização diversificada, como a realização de algumas
acções de animação cultural de carácter efémero (p. ex. a feira rural).
- Ser vocacionado
para zona de estar/lazer, com esplanadas – em vez de estas se situarem nos
arruamentos, tal como hoje se pode ver nas suas imediações – através de
negociação com os comerciantes locais já instalados.
Neste sentido,
importa:
- Retirar os inestéticos bancos
circulares, que têm demasiada presença e destroem a harmonia do espaço livre.
E sobretudo,
- Proceder à
rearborização da praça, dotando-a de espécies arbóreas idênticas às anteriores
ou equivalentes em escala. A criação de zonas de sombra tornará o espaço mais aprazível e convidativo para o lazer. Por
outro lado, a presença das árvores, desde que não abusiva, será suficiente para
animar visualmente um espaço sóbrio, pelas características cenográficas da
envolvente construída – alçados simples e sóbria fachada da igreja.
3 – REABILITAÇÃO DOS ALÇADOS DA BANDA SUL
Casas da banda sul a necessitar de reabilitação
Um outro aspecto
que consideramos da maior importância nesta acção de requalificação urbana é o
da valorização da imagem degradada dos edifícios da banda sul do largo. Estas
construções, com tipologia tradicional de dois pisos, encontram-se rebaixadas
(pelo alteamento do piso exterior) não se afigurando como passíveis de uma
reutilização contemporânea que valorize a praça, pelo seu estado de ruína e
fraco valor arquitectónico. Apenas um dos edifícios, que foi pertença da Santa
Casa, revela algum carácter pela sua fachada. Defende-se, por isso, a
reconstrução dentro de parâmetros aceitáveis de relação com a envolvente,
mantendo a escala e a atmosfera do largo, sem aumento de pisos, e sem tentações estilísticas modernaças, antes
se recomendando uma intervenção o mais neutra possível. Seria ainda
interessante que as novas construções fossem adequadas a actividades de
restauração.
A direcção da
ADDPCTV
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