21 novembro 2018

CASTRO DO ZAMBUJAL – AS OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO



Andámos, há dias, pelo Castro do Zambujal, a observar como decorrem as obras de requalificação deste Monumento Nacional, um dos mais significativos do período pré-histórico, conhecido como Calcolítico da Estremadura.
Gostámos do que vimos. Os acessos foram redimensionados, construiu-se um pequeno edifício de apoio (sanitários), as estruturas pétreas estão a ser consolidadas, há passadiços de madeira para os visitantes poderem observar os espaços intervencionados pelos arqueólogos, o antigo casal rústico está mais limpo e apresentável.
No entanto, notámos uma falta que, a manter-se, muito desvalorizará o trabalho já feito: trata-se de uma plataforma para se poder observar o ponto que é, indiscutivelmente, o mais importante daquela construção milenar: a barbacã, com as seteiras:


Sabendo nós como é melindrosa qualquer intervenção num Monumento Nacional, não esperávamos nenhuma solução espectacular para o problema da visibilidade da barbacã. Aliás, consta que chegou a ser ponderada a possibilidade de se construir uma sofisticada torre de observação, projectada por um arquitecto de renome, de modo a atrair visitantes. A torre seria uma mais-valia pelo confronto da vetusta construção pré-histórica com essa arrojada “obra de arte” arquitectónica contemporânea. E há até quem diga que tal solução só não avançou já, por ser muito cara, mas quando houver disponibilidade financeira, irá para a frente.
Não acreditamos que mentes lúcidas se atrevam a tais soluções, desajustadas e gravemente desrespeitadores do nosso mais antigo e expressivo Monumento, pelo que tomamos como piada de mau gosto a ideia da tal “obra de arte”.
Contudo, o problema subsiste: como facultar aos visitantes a observação cómoda e, sobretudo, segura, da barbacã?
Em tempos já apresentámos nas páginas deste jornal uma sugestão que nos parece viável, barata e eficaz: montagem de uma estrutura de madeira (pinho tratado) – como plataforma de observação – que permita aos visitantes aperceberem-se da complexidade e características da fortificação. E acrescentávamos: «Tal estrutura é, só por si, uma defesa activa da integridade do monumento. Reconhecemos que a localização deste equipamento pode ser considerada intrusiva. Porém, ela é a única que permite a observação detalhada do pormenor mais significativo e emblemático do Zambujal – a barbacã com as seteiras. Acresce que, sendo de madeira, ela é facilmente alterável; e, por outro lado, ficará colocada numa zona que, já tendo sido escavada, foi de novo coberta de terra, uma forma usual de preservação de espaços como este».
Este tipo de estrutura – que pode ser visto, por exemplo, no acesso à Praia da Ribeira d’Ilhas, na Ericeira – é seguro e durável, e evita que os visitantes deambulem sobre as muralhas e as torres do Zambujal, com todos os perigos inerentes, para eles e para as construções que se vão degradando. E, sendo de madeira, integra-se naturalmente no ambiente circundante.
Será excessivamente intrusiva esta plataforma? Que dizer, então, do casal rústico mesmo ao lado do Monumento? Há coisa mais intrusiva do que aquele amontoado caótico de casebres em ruínas? E no entanto, existe há décadas, uma parte terá séculos de existência e já nos habituámos a ele. Faz parte da História daquele lugar.
O aspecto e localização da plataforma seriam estes:



     
A sugestão aqui fica, certos de que haverá tempo e vontade para a pôr em prática. O Monumento e os seus visitantes merecem.
Associação para a Defesa e Divulgação
do Património Cultural de Torres Vedras

 [Texto publicado no jornal BADALADAS, semanário de Torres Vedras de 16 de Novembro de 2018, p. 23]

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