Quinta das Fontainhas, à saída de Torres Vedras, logo a seguir ao Aqueduto
Júlio Vieira, no seu TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA (2ª ed. 2011), a páginas 264, refere que em tempos houve um lugar de banhos no rio Sizandro, numa zona em frente da Quinta das Fontainhas.
Era uma referência que nos intrigava e que carecia de verificação para se ver até que ponto ainda perduraria alguma coisa desse tempo. Não nos esqueçamos que J. Vieira escrevia no início da década de 20 do século passado - a 1ª edição do seu livro é de 1926.
Estávamos convencidos de que os degraus de pedra referidos pelo autor já não existiriam, até porque as margens do rio foram solidificadas na sequência das grandes inundações de 1983.
Por outro lado, a vegetação circundante é muito densa e o carril referido pelo autor há muito que desapareceu.
Há dias fizemos o percurso pedestre pela margem esquerda, seguindo pelo carril que vai da estação da CP até às Termas dos Cucos, na companhia de um amigo que nos falara numa "Fonte dos Coxos" existente naquela zona. Ela lá estava, com um grande caudal que saía de um cano, rodeado de degraus de pedra por onde é possível aceder à água. Ele desconhecia o texto de Júlio Vieira. Outro amigo, Pedro Fiéis, membro da Associação do Património de Torres Vedras, fez connosco o mesmo percurso uns dias depois e lembrou o tal texto que nos apressámos a reler. E tudo condiz. As fotos que aqui publicamos documentam este reencontro.
Não nos atrevemos a entrar no rio, não tínhamos o fato de banho à mão, o que nos permitiria fotografar de frente para a saída da água. Mas é aquele o lugar referido por Júlio Vieira, não temos dúvidas.
Aqui ficam as fotos e, no final, o texto de Júlio Vieira.
Ao fundo a Quinta das Fontainhas. Mais próximos de nós, o rio. Visível, em primeiro plano, a abertura na vegetação por onde se pode descer ao rio pelos degraus que são visíveis nas fotos mais abaixo.
É bem visível que a água saída do cano é muito límpida e forma uma bacia de água transparente ali à volta. Ao lado do cano mas tapada pela vegetação existe uma outra saída de água - são os "olhos de água" de que fala Júlio Vieira. Com cuidado, provámos a água. É tépida, muito macia, e sabe bem. O amigo que me acompanhava costuma ir àquele lugar e ali se descalça e banha os pés longamente pois nota que lhe desgasta as calosidades. Experimentámos também esse "tratamento" e comprovámos que a pele fica muito macia. O que condiz com o texto de J. Vieira.
Em pé sobre os degraus que ladeiam a Fonte tirámos estas duas fotos, uma para montante e outra para juzante.
Uma última foto da Fonte que o amigo que nos acompanhou disse chamar-se "dos Coxos"...
Texto de Júlio Vieira:
BANHOS DO RIO
Há alguns anos já que acabaram
estes antigos banhos chamados do rio e que eram tomados em barracas de madeira
armadas sobre o leito do rio Sizandro, na época da estiagem, em frente da
quinta das Fontainhas e em sítio onde todos os anos afloram uns olhos de água
de temperatura tépida.
Esses banhos bastante agradáveis
e também bons para a pele eram explorados por Francisco Rodrigues desta vila
que tinha licença para armar as barracas todos os anos.
Eram muito frequentados no verão,
tornando-se aquele
Há alguns anos já que acabaram
estes antigos banhos chamados do rio e que eram tomados em barracas de madeira
armadas sobre o leito do rio Sizandro, na época da estiagem, em frente da
quinta das Fontainhas e em sítio onde todos os anos afloram uns olhos de água
de temperatura tépida.
Esses banhos bastante agradáveis
e também bons para a pele eram explorados por Francisco Rodrigues desta vila
que tinha licença para armar as barracas todos os anos.
Eram muito frequentados no verão,
tornando-se aquele passeio
muito agradável para as pessoas da vila, que iam gozar o ensombrado do sítio.
Acabaram aqueles banhos, parece
que por dificuldades levantadas a quem os explorava.
Hoje só existe o carril público
que da estrada, em frente ao portão de ferro da quinta das Fontainhas, vai ter
ao paredão do rio construído modernamente e a propósito, com degraus de pedras
para se descer para o local dos banhos.
TORRES VEDRAS ANTIGA E MODERNA, 2ª ed., LivroDoDia e Ass. do Património, 2011.
Quaando era criança tomei muitos banhos no rio Alcabrichel junto ao Ramalhal. Os tempos mudaram. A poluição das águas não nos permite essses banhos.
ResponderEliminarJoaquim Cosme
Confirmo! Chama-se mesmo fonte dos coxos. Existe um poço que provavelmente hoje estará escondido no mato de onde vem toda essa água.
ResponderEliminarSim, dou outro lado do carril ainda é visível o poço de que fala. Muito tapado pela vegetação.
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