25 junho 2025

O CENTRO HISTÓRICO | Jornal BADALADAS | 28 MARÇO 2025

 


A PROPÓSITO DO DIA NACIONAL DOS CENTROS HISTÓRICOS

O CENTRO HISTÓRICO

1ªparte

por J. Pedro Sobreiro e J. Moedas Duarte

Em 1988 constituiu-se uma Associação dos Municípios Portugueses com Centro Histórico (APMCH) de que Torres Vedras foi um dos 16 municípios fundadores. Este núcleo foi-se alargando até aos actuais 100 concelhos. Em 1993 esta associação decidiu criar o Dia Nacional dos Centros Históricos. Escolheu-se o dia 28 de Março como forma de homenagear o grande historiador e escritor Alexandre Herculano, nascido nesta data, mas em 1810, e que foi um dos grandes defensores do Património Histórico e Cultural nacional.

Este dia comemora-se anualmente com actividades que promovem o conhecimento dos monumentos sediados nos CH, bem como os espaços públicos ou privados neles incluídos, escolhendo-se para cada ano um município onde se realizarão as comemorações oficiais. Este ano será em S. Brás de Alportel.

Das comemorações faz parte a atribuição de prémios para entidades que se distingam na salvaguarda dos valores defendidos pela APMCH. Caso do Prémio Memória e Identidade, que visa distinguir as personalidades que mais se destacaram nas áreas da salvaguarda e da valorização do património cultural, sob o lema “Transformar sem destruir, crescer sem devorar as raízes”. Pretende enaltecer a carreira de quem se destacou ao longo da vida nas áreas da arquitetura, da engenharia, da história e das artes, pugnando sempre pela defesa e pela divulgação dos centros históricos, enquanto conjuntos representativos de valores culturais e artísticos, cuja memória importa preservar e cuja vida se impõe dinamizar. (cf. Site da APMCH)

Este ano, as personalidades escolhidas são João Barroso Soares (que foi presidente da Câmara de Lisboa de 1995 a 2002) e Vítor Manuel Veríssimo Serrão (professor jubilado de História da Arte e autor de obra notável nessa área da historiografia).

Conjunto histórico ou tradicional

Entende-se por “conjunto histórico ou tradicional” todo o grupo de construções e de espaços, incluindo sítios, ruínas arqueológicas ou paleontológicas constituindo um estabelecimento humano no meio urbano e rural, cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista arqueológico, arquitectónico, histórico, pré-histórico, estético ou sócio-cultural (…)   1)

Este conceito de centro histórico foi definido pela primeira vez na Conferência Geral da Unesco - A Salvaguarda dos conjuntos Históricos ou Tradicionais, realizada em Nairobi, em 26 de Outubro a 30 de Novembro de 1976, constituindo uma das áreas que então vieram a ampliar a ideia de Património Cultural, tal como o artesanato, a arqueologia industrial, o mobiliário urbano, as tradições orais e a paisagem.

A sua emergência decorreu da simples constatação de que a envolvente espacial dos chamados “monumentos notáveis” constitui o quadro natural ou construído que lhes está imediatamente associado através de relações estéticas e laços sociais, económicos ou culturais.

Ora, foi nestes anos setenta que se desenvolveu entre nós o incremento da defesa do património, na sequência da revolução democrática de 74, com a criação de um movimento protagonizado por dezenas de associações locais e regionais, entre as quais a nossa.

Não será, pois, de admirar que uma das emergências mais sentidas pela ADDPCTV no seu início se tenha concentrado na salvaguarda e na valorização do nosso Centro Histórico, a braços com os naturais sintomas de envelhecimento, com uma crescente voracidade construtiva e com os desafios do tráfego automóvel, características do ímpeto de modernização e do crescimento urbano, que esses tempos também anunciavam.

O PLANO DE SALVAGUARDA

Assim, perante as ameaças de descaraterização dos espaços e das construções tradicionais, iniciámos uma acção de sensibilização do poder autárquico para a necessidade de criar um instrumento de planeamento que pudesse defender o nosso casco histórico.                                                                                                                             Para além de artigos e de chamadas de atenção na imprensa local, foi importante a realização de uma exposição intitulada “CASTELO - conjunto histórico tradicional, origem de Torres Vedras”, apresentada na antiga sede da Física, em 1980, em que se fez a caracterização do património construído, confrontando os torrienses com as suas memórias, e se apelava à sua salvaguarda. Foi o início de um processo que visou a apresentação de uma proposta-base para a elaboração de um plano de salvaguarda em 1985. A partir deste documento foi criado, pela Câmara Municipal, o Gabinete Técnico Local, em 1987, que procedeu a um rigoroso levantamento dos edifícios, ruas e largos da área definida – com base no suposto perímetro da muralha medieval - e estabeleceu um regulamento de protecção para as diferentes zonas. Este Gabinete, dirigido pelo Arq.  António J. Bastos, contou com a estreita colaboração da direcção desta Associação do Património tendo o Plano de Salvaguarda do Centro Histórico sido aprovado em 1989.

De registar ainda a apresentação conjunta de outra exposição dedicada ao Castelo – montada no torreão, que, entretanto, fora requalificado - aquando da realização do primeiro festival “Castelo de Música”, que decorreu no interior do Paço dos Alcaides, em 1988.

De algumas dissidências entretanto registadas não cabe aqui fazer menção, importando, sim, referir a relevância deste primeiro instrumento de planeamento na contenção de uma escalada de descaracterização do equilíbrio urbano tradicional, valor fundamental na construção de uma identidade que a jovem cidade de Torres Vedras (1979) então se arrogava.

Alguns anos após a sua entrada em vigor, a Câmara Municipal procedeu à pedonização e ao arranjo de alguns arruamentos e mais tarde à reabilitação da praça Machado dos Santos, agora liberta do posto de transformação eléctrica que ocupava o seu centro. Mas o facto mais assinalável foi a demolição da “monstruosa” Fábrica A da Casa Hipólito, que durante anos esteve encostada à igreja de Santiago.

Outra menção interessante é a substituição da iluminação pública, por iniciativa do Vereador Dr. António Carneiro, com a colocação de lanternas de desenho tradicional. Mais tarde proceder-se-ia à iluminação monumental do castelo, pela EDP, por diligência do Engº Manuel Silvestre. Ambas as iniciativas contaram com forte colaboração desta associação.

Outras acções se seguiram ao longo destes anos, nem sempre merecedoras da nossa concordância. O Plano haveria de ser revisto em 2006, registando algumas alterações e aliviando algumas cláusulas restritivas – o termo Salvaguarda deu lugar à Reabilitação, assinalando uma outra forma de ver e de organizar.

Em próximo artigo retomaremos o assunto.

 

1)       Conferência Geral da Unesco- A Salvaguarda dos conjuntos Históricos ou Tradicionais, capítulo 1, alíneas a) e b), Nairobi, 26 de Outubro a 30 de Novembro de 1976.

 

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