Saiu hoje, no semanário BADALADAS, de Torres Vedras:
AFINAL, JÁ TEMOS UMA BIBLIOTECA
EQUIPAMENTOS
CULTURAIS
No decurso destas quatro décadas de democracia, a melhoria das
condições económicas tem permitido às autarquias colmatar algumas das suas lacunas,
assistindo-se por todo o lado à construção de novos edifícios, equipamentos
cujos custos têm sido sustentados por contribuições da administração central e
quase sempre apoiados em fundos comunitários.
Um esforço que se saúda e que tem transformado a paisagem social do
país. Acontece que a par se tem assistido à degradação dos centros históricos,
sem que as câmaras municipais tenham instrumentos para promover a sua
reanimação em termos de vida social, perante o abandono do edificado e
consequente desertificação.
No caso de Torres Vedras, e não obstante um reconhecível esforço, por
vezes questionável, de dignificação do espaço público, a reabilitação
habitacional tarda em arrancar e o comércio definha perante a agressão dos
grandes espaços comerciais instalados na periferia. Assim, a nossa câmara tem
apostado no incremento da vida cultural, quer instalando os seus serviços
culturais, quer apoiando o associativismo, quer promovendo eventos na zona. Recuperar
velhos edifícios para novas funcionalidades é sem dúvida uma das estratégias a
prosseguir, na reanimação das zonas históricas.
EDIFÍCIOS VELHOS/FUNÇÕES NOVAS
Vem isto a propósito do novo projeto para a Biblioteca Municipal. Como
se sabe, foi esta instalada em parte do edifício da antiga Moagem Clemente –
com inauguração solene em 25 de Abril de 2016 – numa decisão que desde sempre
nos pareceu correta, dado que:
- A área bruta do edifício parece corresponder às necessidades daquele
equipamento cultural, reconhecendo-se que o projeto de instalação /organização
dos espaços e valências da Biblioteca se encontra razoavelmente ordenado.
- A reutilização da antiga moagem tem a vantagem de recuperar um
edifício com grande significado histórico e social, cujas características de
escala dificilmente encontrariam uma solução mais adequada a um novo ciclo de
funcionalidade.
- A sua localização é óptima
uma vez que se situa no Centro Histórico, área carente de funcionalidades que
possam contribuir para a sua revitalização, pela criação de fluxos de
utilizadores compatíveis com as suas características urbanas, isto é,
encontra-se no centro da cidade, em zona tranquila, permitindo mais circulação
pedonal.
Lembremos que, quando se encarava a proposta de localização da nova
biblioteca no Choupal (!) foi desta Associação que partiu a ideia de
transformar o que era então um edifício industrial parcialmente devoluto,
outrora ligado à indústria da farinha, da qual se fazia o pão que alimentou
tantas gerações de torrienses, em espaço de cultura destinado agora a alimentar
o espirito!
Certamente ainda se poderão melhorar as condições para os leitores, de
que um depósito de livros e a integração das salas cedidas a uma associação
local, serão as mais urgentes. Concluindo, parece-nos que o problema da
biblioteca está bem resolvido, conjugando a rara circunstância de conciliar a
funcionalidade de um serviço cultural importante, com a recuperação de um
edifício antigo com características apropriadas para efeito.
UMA NOVA BIBLIOTECA
A Câmara Municipal de Torres
Vedras implementou, no entanto, um concurso de arquitetura para a construção de
um novo edifício para a Biblioteca mais um duvidoso “Museu do Brinquedo”, a ser
construído no espaço a norte da Igreja de Santiago, atual parque de
estacionamento, processo que quanto a nós acarreta os seguintes problemas:
- Inviabiliza a existência de uma nova Praça, como espaço de
respiração e abertura numa malha urbana muito densificada.
- Implica a perda da atual perspetiva sobre o Castelo e Igreja de
Santa Maria, que constituiu uma surpreendente mais valia como leitura do espaço
urbano, em consequência do desmantelamento do imenso e pesado edifício fabril.
- Suprime o estacionamento de superfície que se tem revelado tão útil
para a manutenção da acessibilidade e do pouco que resta de vida social daquela
zona.
Embora esta perda seja acautelada com a proposta de estacionamento subterrâneo, existem
dificuldades técnicas - não esquecer que se trata de zona de leito de cheia, e
quem já tentou construir uma cave nessa zona bem conhece tais problemas - com
riscos inerentes à solidez dos edifícios envolventes (Igreja de Santiago, p.
ex.) para a própria segurança noturna e respetivos custos adicionais.
- Por fim, cria uma rotura, pela escala e pela forma, relacionando-se
mal com a envolvente de construções tradicionais de pequena escala e com um
edifício histórico - a igreja de Santiago.
Estes aspetos ressaltam claramente de uma leitura do projeto premiado
em concurso, ao qual podemos reconhecer qualidade arquitetónica em abstrato,
mas que não se enquadra com o edificado.
Repetimos, esta é uma zona sensível do ponto de vista hidrológico,
urbanístico e histórico.
A POSIÇÃO DA ADDPCTV
Tem esta Associação apresentado a refutação ao projeto ora divulgado,
defendendo a manutenção da Biblioteca no edifício da Moagem Clemente e a
proposta de um arranjo urbanístico para a praça, pelo reenquadramento das
traseiras dos edifícios da Rua Serpa Pinto, que possa conciliar a tomada de
vistas e condições para o lazer, mantendo o estacionamento automóvel, pois todo
o Centro Histórico beneficia com a sua presença, nomeadamente o comércio
tradicional, tão carente de medidas de apoio.
Apostar novamente na densificação urbana deste local é um erro,
perde-se a sua identidade e as referências espaciais, que nos orientam. Parece-nos
ser este mais um caso de obreirismo fátuo, que se traduz em investimentos
avultados para o erário público, e, afinal de contas, desnecessário.
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