O PESO DOS ANOS
De fundação
medieval, monumento nacional desde 1910, sofreu sucessivos restauros e acrescentos.
É uma relíquia do nosso património edificado. Conserva o garbo de outros tempos
mas, como os velhinhos, geme ao peso dos anos.
Um aviso na
porta alertou a nossa curiosidade. A igreja matriz de Torres Vedras fechou
temporariamente ao culto. Por quanto tempo? Que se passa? Fomos ao cartório
paroquial que nos acolheu e levou ao interior do templo. Aparentemente tudo
parecia em ordem. A capela-mor, recentemente restaurada por uma equipa do
Instituto de Artes e Ofícios, está mais bonita, com os estuques recuperados, as
pinturas de Mestre Peres avivadas e as quatro telas dos doutores da igreja
recuperadas. O retábulo ds capela dos Perestrelos, do lado da Epístola, está
como novo, obra igualmente do IAO.
O problema reside no tecto setecentista da nave central, em abóbada de berço, de madeira, com caixotões e ornatos pintados. As juntas das tábuas apresentam fissuras, chamando a atenção para o estado do forro e da estrutura do telhado. A queda de caliça foi o sinal de alerta.
Pedida uma vistoria, a equipa técnica da Câmara Municipal
destapou um painel do coro e pôs à vista a estrutura apodrecida e corroída pela
humidade, infiltrada pela porosidade das telhas. É um problema estrutural com
sérios riscos de segurança. Daí o fecho das portas. Põe-se agora a questão de
saber quem paga as obras. Sendo um Monumento Nacional, parece-nos indubitável
que é ao Estado que compete essa tarefa, na sequência, aliás, de múltiplas
intervenções de que esta Igreja tem sido alvo ao longo dos anos e, de modo
especial, em meados do século passado. A Igreja Matriz de Torres Vedras, bem no
coração do Centro Histórico, tem de reabrir quanto antes.
Por vezes temos tendência para pensar que os monumentos são uma dádiva do passado que no-los teriam doado em estado puro. Mas isso é uma ilusão. Todos os monumentos foram sendo modificados ao longo dos anos, em obras de adaptação às condições concretas de cada época. A Igreja de S. Pedro é um bom exemplo.
OBSERVEMOS A SEQUÊNCIA:
São imagens dos finais dos anos 40 do séc. XX. A fachada lateral, onde se acrescentara uma dependência, foi alterada. Vêem-se obras mais ao fundo, na fachada posterior. Vejamos com atenção:
Fotos retiradas do blogue de Venerando de Matos: http://vedrografias2.blogspot.pt/2014/11/cassiano-branco-em-torres-vedras.html
Comparemos agora com fotos do nosso século: a primeira antes da requalificação recente da envolvente da Igreja, a segunda já depois dessa obra:
Fotos J. Moedas Duarte
Podemos sistematizar a nossa observação:
Nas traseiras da Igreja foi construído no século XVIII o pequeno edifício - uma porta e uma janela de cada lado - destinado à Irmandade dos Clérigos Pobres, associação mutualista de apoio ao clero local. Extinta a Irmandade, aqui funcionou, nos anos 20 do século XX, o
primeiro Museu de Torres Vedras, fundado por Rafael Salinas Calado. Esta construção setecentista, no seu interior é uma jóia artística com painéis de azulejos
figurativos a toda a volta e um tecto magnífico com pinturas de Oliveira Góis
representando os quatro evangelistas.
Se
repararmos bem, este edifício foi desconstruído e reconstruído alguns metros ao
lado, ficando encostado à parede da capela-mór da igreja onde antes existiam
umas arrecadações. É onde hoje funciona o cartório paroquial. Como noticiava o
Badaladas de 13 de Janeiro de 1955, foi uma obra a cargo da Direcção Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais. A justificação é que a localização daquele
pequeno edifício impedia o trânsito desafogado em direcção ao novo mercado
municipal, inaugurado no início dos anos 30. Tratou-se, de facto, de uma obra
arrojada evidenciando a qualidade e a capacidade daquele organismo público que
percebeu a valia patrimonial do edifício. Desmontou-o e voltou a montá-lo
respeitando integralmente a sua estrutura e componentes artísiticas.
No site do SIPA (Serviço de Infrmação para o Património Arquitectónico) encontramos um conjunto de informações muito interessante sobre as obras realizadas ao longo do ano na igreja de S. Pedro, paroquial de Torres Vedras. Ver aqui: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2
(As fotos acima publicadas, com a indicação SIPA, foram retiradas deste site)No site do SIPA (Serviço de Infrmação para o Património Arquitectónico) encontramos um conjunto de informações muito interessante sobre as obras realizadas ao longo do ano na igreja de S. Pedro, paroquial de Torres Vedras. Ver aqui: http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2
Repare-se agora nesta foto, já bastante conhecida, tirada nos finais dos anos 20 do séc. XX:
Até ao início dos
anos 30 do séc. XX no adro posterior da Igreja de S. Pedro situava-se o
chamado “mercado do peixe e das aves”, substituído pelo mercado coberto nos
terrenos mais a nascente, cuja construção se iniciou em Outubro de 1929 (Gazeta de Torres, 13 Out 1929) e que foi
desmantelado há poucos anos para dar lugar ao moderno Mercado Municipal.
Até à inauguração do Cemitério de S. João, em 1848, este espaço era o cemitério
principal da vila. Antes fora adro da ermida de Nª Srª dos Farpados, mais tarde
do Rosário. Em 1652, aquando da visita do rei D. João IV, aqui se correram
touros. No lado esquerdo da foto é bem visível o alçado posterior da Igreja de
S. Pedro – capela-mór, arrecadações e Irmandade dos Clérigos Pobres, antes das grandes obras realizadas ao longo dos anos 40 e 50 do séc. XX.
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