01 setembro 2013

UMA SOLUÇÃO MUITO DISCUTÍVEL

Andei hoje pelo Turcifal. A Igreja Matriz, de Santa Maria Madalena, é Imóvel de Interesse Público, estatuto definido pelo Decreto n.º 5/2002, DR, 1ª Série-B. nº 42, de 19-02-2002.
Não entrei na Igreja, que estava fechada, fiquei-me pelo exterior. E fiquei surpreendido com o que vi, no lado poente do adro: quatro cabeceiras de sepulturas medievais a "decorarem" o murete do adro.

Veja-se:






Agora de mais perto:









Salvo melhor opinião, considero que esta solução é muito discutível. O Turcifal é uma das mais antigas povoações do nosso concelho, cujo topónimo é citado em documentos dos séc. XII e XIII ( TORRES VEDRAS, A VILA E O TERMO NOS FINAIS DA IDADE MÉDIA, Ana Maria Rodrigues, 1995).
É bem sabido que, ao lado da sua imponente Igreja (reconstrução setecentista do templo medieval) havia um cemitério, cujos vestígios chegaram até aos nossos dias, caso das cabeceiras de sepultura. Estas que aqui mostro são da época medieval, como bem se infere da sua tipologia, semelhante à colecção existente no nosso Museu Municipal e que José Beleza Moreira estudou no seu opúsculo "Catálogo das Cabeceiras de Sepultura do Concelho de Torres Vedras", editado em 1980 pela Associação do Património de Torres Vedras.




Estas estelas funerárias são um testemunho genuíno que vem do fundo dos séculos e nos traz a memória de quem ali viveu e foi sepultado. Ao contrário das peças de Museu, estas cabeceiras estavam in situ, e era aí que deveriam ser mantidas. Como memória e testemunho do passado.

O adro, que foi objecto de obras profundas terminadas em 2007 - como se lê na placa comemorativa - só teria a ganhar se nele tivesse sido preservado um lugar, talvez junto de uma das paredes da Igreja, em que estas cabeceiras fossem alinhadas, com um pequeno dístico a lembrar aos homens de hoje a existência dos antepassados. O que nos parece inaceitável é fazer delas objectos de decoração do muro do adro.

Joaquim Moedas Duarte

2 comentários:

  1. Já tinha observado com atenção aquelas "pedras" e achado que estavam ali deslocadas. Como eram antigas achava que ali não estavam bem, mas (dada a minha ignorância) não fazia ideia que se tratava de cabeceiras de sepulturas! é incrível os atentados que se fazem!!! É uma pena...

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  2. Anónimo2/9/13

    No meu entender, não se trata de atentado nenhum. Trata-se, isso sim, de uma colocação correcta, tanto quanto foi possível realizar, ao tempo, das pedras que indicam as campas instaladas.
    Outro assunto, é saber da sua verdadeira dimensão geográfica e da "importância relativa" dos sepultados nestas áreas.
    No decorrer dos séculos, é provável que tenham sido deslocadas do sítio exacto das sepulturas, é verdade, mas a sua função e proximidade continuam a testemunhar o culto medievo dos mortos.,
    Além de que, no limite, esse facto, o da eventual deslocação, já fazer parte da História.
    Cordialmente,
    Afonso Marques

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