Nº 40 - Publicado em 15 de Março de 2013
PESQUISAS NO CENTRO HISTÓRICO
ZONA
DO CASTELO
(3ª Parte)
EMANUEL CARVALHO
(Assistente de Arqueólogo)
Na
sequência do texto anterior publicado nesta coluna e com o mesmo título, vamos
continuar a apresentar algumas descobertas na zona do Castelo, resultado de
campanhas arqueológicas realizadas nas décadas de oitenta e noventa do século passado.
Assim, entre a muralha e a Igreja de Santa
Maria do Castelo, foram escavados restos de uma casa e de uma pequena rua com degraus.
Encostada à parede da casa, encontrava-se uma mó de atafona (manual), a atestar
que este local terá sido usado – antes de transformado em cemitério – como
espaço de habitação.
Foi
também descoberto, junto à muralha sul, um grande fragmento de uma outra
muralha mais antiga, que se encontrava derrubada e que poderá ter sido
resultado de um sismo ou de acções militares relacionadas com o assalto
realizado pelas tropas de D. João I, durante a crise da sucessão no século XIV.
Os
níveis de ocupação romana foram apenas detectados frente à Igreja de Santa
Maria, junto à muralha oeste, durante as obras de consolidação levadas a cabo
pela antiga Direcção-Geral dos Edifício de Monumentos Nacionais. Os artefactos
que confirmam a sua presença – uma moeda e diversos fragmentos de cerâmica – foram
descobertos a quatro metros de fundo, numa grande vala com cerca de cinco
metros de profundidade. Foram ainda retiradas desta área de escavação algumas
bolas de pedra de catapulta, de cronologia desconhecida. Foi ainda possível,
através desta vala, verificar que a necrópole se estendia até à muralha oeste
(virada para a actual Expoeste).
Nas
últimas campanhas, na década de 90, foi decidido escavar na área situada frente
à porta sul do Palácio dos Alcaides, onde foi encontrada uma lixeira datada da
época moderna (séc. XVI e XVII). Também aqui se recolheram peças de grande
significado, nomeadamente fragmentos de faianças e porcelanas, que atestam a
qualidade do nível de vida de quem habitou o palácio.
Pela
riqueza das informações de carácter histórico-arqueológico obtidas nestas
campanhas, é lamentável que este trabalho, que uniu apaixonadamente dezenas de
pessoas ao longo de vários anos, não tenha tido continuidade.
O
castelo constitui, sem dúvida, uma fonte única, abundante e preciosa, para a
obtenção de mais conhecimento sobre as primeiras ocupações do local e as próprias
origens de Torres Vedras.
Por
fim é justo salientar que daqui são provenientes dois machados de pedra polida
do período calcolítico (4500 b.p.) – artefactos que nos permitem inferir a
forte probabilidade de existirem, no interior das muralhas do castelo, níveis
estratigráficos daquela época, o que nos daria a confirmação de que o início do
povoamento da área correspondente à actual cidade, remontaria a alguns milhares
de anos.
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