26 março 2013

"PATRIMÓNIOS" no semanário BADALADAS


Nº 40 - Publicado em 15 de Março de 2013



PESQUISAS NO CENTRO HISTÓRICO 
 ZONA DO CASTELO
 (3ª Parte)
EMANUEL CARVALHO
(Assistente de Arqueólogo)


Na sequência do texto anterior publicado nesta coluna e com o mesmo título, vamos continuar a apresentar algumas descobertas na zona do Castelo, resultado de campanhas arqueológicas realizadas nas décadas de oitenta e noventa do século passado.
Assim, entre a muralha e a Igreja de Santa Maria do Castelo, foram escavados restos de uma casa e de uma pequena rua com degraus. Encostada à parede da casa, encontrava-se uma mó de atafona (manual), a atestar que este local terá sido usado – antes de transformado em cemitério – como espaço de habitação.
Foi também descoberto, junto à muralha sul, um grande fragmento de uma outra muralha mais antiga, que se encontrava derrubada e que poderá ter sido resultado de um sismo ou de acções militares relacionadas com o assalto realizado pelas tropas de D. João I, durante a crise da sucessão no século XIV.
Os níveis de ocupação romana foram apenas detectados frente à Igreja de Santa Maria, junto à muralha oeste, durante as obras de consolidação levadas a cabo pela antiga Direcção-Geral dos Edifício de Monumentos Nacionais. Os artefactos que confirmam a sua presença – uma moeda e diversos fragmentos de cerâmica – foram descobertos a quatro metros de fundo, numa grande vala com cerca de cinco metros de profundidade. Foram ainda retiradas desta área de escavação algumas bolas de pedra de catapulta, de cronologia desconhecida. Foi ainda possível, através desta vala, verificar que a necrópole se estendia até à muralha oeste (virada para a actual Expoeste).
Nas últimas campanhas, na década de 90, foi decidido escavar na área situada frente à porta sul do Palácio dos Alcaides, onde foi encontrada uma lixeira datada da época moderna (séc. XVI e XVII). Também aqui se recolheram peças de grande significado, nomeadamente fragmentos de faianças e porcelanas, que atestam a qualidade do nível de vida de quem habitou o palácio.
Pela riqueza das informações de carácter histórico-arqueológico obtidas nestas campanhas, é lamentável que este trabalho, que uniu apaixonadamente dezenas de pessoas ao longo de vários anos, não tenha tido continuidade.
O castelo constitui, sem dúvida, uma fonte única, abundante e preciosa, para a obtenção de mais conhecimento sobre as primeiras ocupações do local e as próprias origens de Torres Vedras.
Por fim é justo salientar que daqui são provenientes dois machados de pedra polida do período calcolítico (4500 b.p.) – artefactos que nos permitem inferir a forte probabilidade de existirem, no interior das muralhas do castelo, níveis estratigráficos daquela época, o que nos daria a confirmação de que o início do povoamento da área correspondente à actual cidade, remontaria a alguns milhares de anos.



Sem comentários:

Enviar um comentário